Todas querem Walério
O ateliê está localizado nos baixos de um ícone de São Paulo, o Edifício Copan, que não é exatamente o point mais glamouroso da cidade para atrair chiques e famosas. Mas Walério Araújo é um dos nomes mais in entre os estilistas da cidade. Com irreverência, bom humor e muita ousadia, a cada dia ele ganha adeptas entre as celebridades – como Paris Hilton
Por Daniela Domingues Coordenação Sidney Osiro Fotos Thais Antunes
Ele é o nosso Alexander McQueen, ou, pelo menos, é tão ousado e polêmico quanto. E assim como esse grande ícone da moda, morto há meses, Walério usa a passarela como palco de polêmicas. A marca registrada de seu figurino pessoal são os sapatos salto agulha, companheiro inseparável das baladas e das passarelas e que, segundo ele, o deixam mais elegante. Walério Araújo – e, por favor, é com “W” mesmo, é o mais novo darling das famosas que buscam estilo no vestir.Uma trajetória bem alinhavadaA trajetória desse pernambucano de Lajedo sempre esteve ligada à moda. Nascido em uma família de costureiras e bordadeiras, desde menino arriscava os primeiros croquis em modelitos para irmãs e vizinhas. Diferentemente dos novos estilistas, Walério não cursou faculdade de moda – no máximo um curso de desenho por correspondência e outro específico para desenho de moda. “Na época em que me interessei por moda não existia faculdade. Depois dos cursos, parti para a prática” conta. Diplomas à parte, sua habilidade com a tesoura é tal que ele transformou o abadá de uma marca de cerveja num vestidinho todo bordado com cristais Swarovski para Paris Hilton no último carnaval – aliás, foi um dos figurinos mais comentados da festa.
Walério acumula no seu currículo experiências pelas quais poucos estilistas chiques puderam passar: trabalhou dois anos numa loja de tecidos na Bahia e, na volta a São Paulo, trabalhou no reduto das noivas na Rua São Caetano e, depois, no maior shopping a céu aberto da América Latina, a Rua 25 de Março, onde desenvolveu estampas para uma loja de tecidos. “Para mim foi um superexercício, é um lugar que todos os estilistas precisam conhecer. Nos anos em que trabalhei lá descobri todos os buracos!”, diz, referindo-se aos endereços da 25 onde até hoje garimpa a matéria-prima de suas criações. E foi na 25 que conheceu uma das suas primeiras clientes – que talvez resuma sua proposta: a performática Elke Maravilha, para quem ele até hoje desenvolve roupas, ou por que não dizer, figurinos.
Seus desfiles são sempre muito aguardados, justamente porque não são nada óbvios e em ambientações inusitadas. Em 2005, a apresentação da sua coleção aconteceu na capela do Hospital Humberto Primo, quando rendeu homenagem póstuma à “rainha dos travestis” Andréia de Maio, e, claro, criou polêmica.A coleção de inverno 2010 de sua grife, com o tema Over the Rainbow, teve como pano de fundo a bela arquitetura do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz. Como não poderia deixar de ser, Walério mais uma vez polemizou e deixou todos de queixo caído, quando suas criações fizeram um passeio, na passarela, pelo inocente enredo de O Mágico de OZ. Fazendo alusão ao fetichismo, recorrente em suas coleções, nem a personagem central desse clássico do cinema fugiu à regra. Dorothy aparece com roupas superjustas de cintura bem marcada e plataformas robustas de Fernando Pires – mais sexy impossível. “Qualquer lugar é interessante para polemizar. O que não pode fazer é algo para se tornar comprometedor, porque fazer roupas para a clientela envolve valores. A passarela é show, as pessoas esperam alguma coisa polêmica, glamourosa ou não”, afirma.Modesto até não poder mais, Walério diz que nunca planejou todo esse sucesso. “Eu não tive como objetivo de vida vir para São Paulo, nunca foquei nisso, e estou aqui. Às vezes mentalizo e as coisas acontecem. Eu sou um oportunista na melhor maneira de se ver. Se tudo for pra melhor, sem prejudicar ou passar por cima de ninguém, que seja”.
Participou ainda por cinco anos do Mercado Mundo Mix e de lá, a convite de Paulo Borges, passou a integrar o time de estilistas do extinto evento Amni Hot Spot. Depois, passou a apresentar as suas coleções em um dos maiores celeiros de novos talentos da moda no Brasil – A Casa dos Criadores, onde permanece até hoje. Polêmico, apoteótico, glamouroso; em meio à atmosfera do centro velho de São Paulo, onde predomina o cinza do concreto, uma vitrine multicolorida salta aos olhos. O térreo do emblemático Copan foi o lugar escolhido para abrigar o ateliê e a loja que ostenta na sua fachada em letras garrafais o nome de Walério. Ele pode ser encontrado por lá, sentado entre os inúmeros manequins que exibem as suas mais recentes criações, com prancheta e lápis na mão, a pôr em prática suas novas ideias. O Copan, inclusive, é o seu “habitat natural”– já que ali estão a sua casa e o seu trabalho. “Moro no Copan há 15 anos, cheguei numa época em que as notícias a respeito do prédio não eram boas. Hoje, não me vejo morando em outro lugar. Posso ir andando para a 25 de março e para vários outros lugares de que dependo”, conta o estilista.Quem quiser conhecer as criações de Walério terá, sim, de se deslocar para o centro da cidade “Eu tive muita cobrança sobre por que não abri a loja nos Jardins. As pessoas são muito em prol do óbvio, eu sou contra o óbvio. Você pode fazer coisas boas num lugar diferente, com proposta diferente”, acredita Walério.
Despretensiosamente, o estilista tem alcançado uma projeção que poucos têm ou terão no cada vez mais concorrido cenário fashion. Em 26 de maio, sua 15ª coleção será apresentada no Shopping Frei Caneca e provavelmente envolta no seu bom humor, criatividade e ousadia. Daqui a pouco, com esta onda de simpatia pelo Brasil, suas criações ganharão as passarelas internacionais. Não duvidem de um homem que, como ninguém, se equilibra em um salto agulha!