Para onde vai a moda?
Em tempos de mídias digitais e fast-fashion, ninguém melhor do que Glória Kalil para falar sobre o que esperar da moda, seus caminhos, tendências – se é que existem – e principais mudanças nos últimos anos.
A febre dos blogs de moda vem tomando a internet faz algum tempo. Novas “donas de boutique”, as blogueiras postam o look do dia, avaliam e criticam produtos estéticos e acessórios de marcas conhecidas como verdadeiras autoridades no quesito estilo. Entre as mais famosas, destacam-se Camila Coelho, Lalá Rudge, Nati Vozza, Lalá No-leto e Thássia Naves. Para Glória Kalil, consultora de moda e estilo, a moda não mudou; a internet é que evoca mudanças o tempo todo e cria novas possibilidades de participação e de comunicação. “As blogueiras apresentam sempre novas maneiras das pessoas se comunicarem e elas têm um papel muito relevante no que diz respeito à divulgação do produto (ou marca) e efetivação da venda; é isso que elas favorecem. E, como tudo é muito rápido, muda todos os dias, não dá tempo de se formar um código, uma etiqueta de moda digital, se é que assim podemos chamar. O certo e errado tornaram-se relativos.”
Fast-fashion e tendências
Esse conceito se aplica também ao tão conhecido e já instituído estilo fast–fashion, utilizado por grandes magazines para produção rápida e contínua de novidades, sempre assinadas por estilistas de renome, com o objetivo de gerar aumento de faturamento. Glória acredita que esse movimento seja o mais signifi cativo dos últimos anos no mercado da moda. Mas ela esclarece: “As pessoas acham que é um tipo de moda, mas na verdade é um tipo de produção, uma produção rápida, para consumo imediato, que entra na onda e na velocidade da internet.” Mas até que ponto a moda da internet é capaz de ditar tendência? Para Glória Kalil, falar em tendência é algo ultrapassado. “A moda não segue mais uma grande tendência, pois existe uma grande variedade de ofertas – sendo a compra o grande objetivo. Na verdade, tem de tudo, para todos os gostos e estilos. Mesmo o bom senso: o que é certo para mim pode não ser para você. O conceito varia de pessoa pra pessoa. A moda depende de interpretações.”
Existindo tendências ou não, todo mundo quer saber o que vem por aí no próximo verão. Por exemplo: cores, modelagens, texturas. Glória prefere dizer que a oferta é grande para agradar a todos, e ressalta os babados, o tema brasilidade, os recortes vazados na altura da cintura, além do jeans, que nunca sai da lista dos queridinhos, e a renda – são essas as grandes apostas para a próxima estação. “A lista é grande para que cada um escolha o que mais combina com seu estilo. É bom porque tem para todo mundo!”
NYFW: nova direção para a moda?
Seguindo essa onda democrática e liberal, no último mês de se-tembro, no New York Fashion Week, algo chamou a atenção de Glória Kalil: a reestruturação da própria semana de moda por conta de seus novos patrocinadores. O grupo que agora organiza o evento, o WME/IMG, é o maior conglomerado de entretenimento e esportes dos Estados Unidos, o que deve dar a ele um direciona-mento muito mais ligado ao show do que ao business. “Nada de revolucionário aconteceu nas passarelas. Mas, fora delas, o que se viu foi uma nova direção para a moda.” Enormes telões foram instalados para transmissões ao vivo, além de um aplicativo gratuito e um canal na Apple TV. Acabaram-se as tendas armadas no Lincoln Center e os desfi les deixaram de ser exclusivamente para imprensa e compradores. “O line-up principal aconteceu em três pontos diferentes da cidade, e até abertos ao público. Assim, transformando moda em entretenimento, vimos este ano que o grande foco estava em divulgar a moda e não as marcas.
Isso é o mais bacana e com certeza um novo caminho para essa indústria que anda precisando de renovação para voltar a encantar e atrair os consumidores.”