O mundo cor de rosa da pink elephant
Quem é o homem por trás da mais requintada casa noturna de São Paulo, que brinda seus clientes com mimos AAA
Por Leonardo Millen Fotos Thais Antunes
Aos 35 anos, Giuliano de Luca comanda os dois clubs mais badalados da cidade: a Disco e a Pink Elephant, ambos voltados para o público triple A. Traduzindo: jovens da alta sociedade e celebridades que buscam o frenesi das baladas eletrônicas e não se importam com o valor da conta. Mas a Pink excede – é o suprassumo do glamour noturno na cidade. Lá, existe um camarote da Dom Pérignon, com banheiro exclusivo, camarim para fast make-up da Dior, bar decorado pela Veuve Clicquot, mesas com geladeiras embutidas e até a Clicquot Loveseat, uma poltrona assinada pelo designer egípcio Karim Rashid. A boate é franquia da Pink Elephant Nova York, reduto de ricos e famosos, como Bruce Willis, Julia Roberts, Paris Hilton, Prince, entre outras celebridades. Na Pink paulista há sempre fila de espera, tanto para reservas de mesas, a R$ 3 mil, quanto para desembolsar R$ 250e torcer para passar pela “police-door”. Ou então ser uma celebridade, como o craque Ronaldinho e o piloto de F1 Felipe Massa, que, vira e mexe, aparecem por lá. Giuliano e os sete sócios investidores desembolsaram R$ 4,5 milhões para montar a casa, mas, pelo visto, o investimento já compensou. Se um cliente solicitar mais de dez unidades de champanhe de pelo menos R$ 450 ou uma das garrafas especiais de mais de R$ 6 mil, o DJ para a música, anuncia o seu nome e toca o tema do filme Super-Homem. A brincadeira estimula uma lucrativa competição entre os endinheirados, que chegam a desembolsar mais de R$ 20 mil na hora de pagar a conta. E o tema não para de tocar na boate do elefante cor de rosa. GoWhere conversou com Giuliano:
Qual era sua experiência como empresário da noite?
O primeiro clube que montei foi o Kaos, na Vila Olímpia, em 1998, pioneiro em trazer uma franquia de clube americano para o Brasil. Nova York tem muito mais knowhow que a gente, a casa pegou fogo por acidente.E em 2000 você montou a Disco?
Foi. É um club por que tenho o maior carinho e que continua funcionando muito bem. Mas sempre sonhei em montar uma casa que resgatasse o conceito da Kaos. Nesses últimos dez anos, surgiram muitos clubs em São Paulo com uma pegada underground. E como eu era um grande frequentador, tudo que me incomodava nesses clubs eu tentei fazer melhor na Pink.
Por que um club de luxo?
Não existiam muitas opções para esse público diferenciado, que consome coisas luxuosas, mas que busca uma casa sem frescuras. Faltava um lugar para eles entrarem em outro mundo, subir nas mesas, se divertir e esquecer os problemas do dia a dia.
Você foi beber novamente na fonte em Nova York?
Quando eu descobri que o dono da Pink em Nova York era o mesmo dono da Kaos, não tive dúvidas em querer fazer uma Pink Elephant tropicalizada. Guardei uma garrafa de cristal que foi a única coisa que restou do incêndio da Kaos. Quando montei a Pink, coloquei-a em um lugar especial com uma frase: “A parte mais bela de um sonho não é realizá-lo e sim a coragem de lutar por ele”. Foi uma história pessoal muito forte. Formei uma holding, com mais dois outros sócios, e temos ainda sete sócios investidores. Mas toda a estratégia do clube, ideia, concepção e expertise é de minha responsabilidade. No caso da Pink, a gente reinveste muito. Eu sou da política da empresa rica, sócio pobre. A gente diversificou, montou um restaurante no andar de cima, o The Blue Bar, que é um restaurante lounge, com uma música mais tranquila, para um público de 35 anos para cima. É a única casa patrocinada pela Johnnie Walker Blue Label do mundo.
Existe diferença entre quem frequenta a Disco e a Pink?
A Disco é um club mais intimista, atemporal, mais escuro, sem tanta explosão. É para quem quer dançar, está a fim de curtir, mas não fazer tanta bagunça. Já a Pink pega quem está mais festivo, quer subir em cima da mesa, se sentir numa Disneylândia e soltar a alma. É uma mini- Ibiza. Tem shows, noites com malabaristas pendurados no teto e festas temáticas, tipo arabian nights, anos 70, tudo dourado, etc. A gente tenta não depender só da atração musical ou do DJ. As pessoas vêm para se divertir.
Mas as duas casas são voltadas para um público A, que pode gastar mais do que o normal?
Sim. É óbvio que uma casa que custa R$ 250 para entrar não é barata. Mas existem muitos outros lugares nos quais o preço da bebida é mais caro e não são rotulados como clubs de luxo. Acho que o luxo está nas coisas que a gente fez aqui, como o ar-condicionado especial, que controla a umidade do ar, e outros detalhes que não se encontram em lugar nenhum.
Qual é a sua avaliação da Pink como negócio?
Abrimos em dezembro de 2008. Hoje posso afirmar que a Pink é um sucesso maior do que eu imaginava. Existem diversas maneiras de entender se um negócio é sucesso ou não. Uma delas é financeiramente. Outra é o que o público diz. Isso é o mais importante para mim. A repercussão e o carinho dos clientes são altamente positivos, bem como a dos patrocinadores. Somos a única casa flag ship da Dom Pérignon na América Latina que pode receber materiais, copos especiais e festas da marca.
E o que mais esse público diferenciado exige de vocês?
Atendimento é extremamente importante. A Pink é a única casa que tem uma garçonete para cada uma das 24 mesas. A gente tenta acomodar o pessoal que chega para as listas de aniversários e avulsos nas mesas não reservadas e nos dois bares. Por isso é tão difícil entrar na Pink. Mas é, sem dúvida, um público exigente. É um triple A, ou seja, aqueles que têm uma condição financeira avantajada e querem algo especial. Oferecemos a eles a sensação de se estar em um club fora do país. Assim, pela primeira vez no Brasil, eles conseguiram fazer aquilo que faziam fora. Eles se sentiam mal, até porque existe uma diferença social muito grande no Brasil. De repente, gastar um pouco a mais causava vergonha. Eu não acho vergonha nenhuma. Cada um tem o seu dinheiro e gasta do jeito que bem entender.
Esse público exigente volta sempre?
Ele é cativo, mas gosta de conhecer tudo que abre na cidade. Eles saem muito e vão comparando. Pela minha experiência de 10 anos à frente da Disco, é preciso manter um trabalho de qualidade. O modismo vai contra o produto. Mas se o produto é bom, como é o caso da Pink, a coisa deixa de ser moda. Uma pessoa não deixa de ir a um bom restaurante, não importa se ele é novo ou antigo, clássico ou vanguardista.
Casa noturna não costuma ser empreendimento de vida curta?
Não é bem assim. Hoje em dia, as boates mais famosas do mundo funcionam pelo menos há 10 anos. Antigamente as boates abriam sem muito critério, colocavam um som, chamavam um DJ famoso e viravam moda. Mas o produto não era bom. Durava muito pouco, mas os sócios tinham retorno porque o investimento era pequeno. Hoje em dia não. A gente projeta para durar mais tempo e investe muito mais. Não são muitas casas que passam de um ano em São Paulo. E a Pink está com quase um ano e meio e não há indícios de queda no movimento.
Muitas casas noturnas apostam nas celebridades, fazendo de tudo para atraí-las. Essa também é uma estratégia de vocês?
Se a pessoa é famosa e está a fim de se divertir aqui dentro, tudo bem. A gente não paga para a celebridade vir. Obviamente, uma pessoa conhecida traz mídia espontânea. A casa fica mais conhecida. Celebridades passam também um selo de qualidade. Aqui vão ser sempre bem-vindas.
Você tem uma doorwoman, que é uma coisa meio antipática. Como você lida com isso?
Temos uma door police, que é pior ainda. Essa é a única maneira de você tratar bem o cliente que reservou mesa. Ela os recepciona, passa para um runner, que leva os cliente até sua mesa. Geralmente, quando o cliente reserva a mesa, ele já informa o que vai querer beber. Quando ele chega, é passado um rádio para o bar a fim de que, quando ele sentar na mesa, a bebida já esteja lá ou chegue muito rápido. Isso impressiona.
O que mais esse público espera que você faça para agradá-lo?
Esse público já convive com o luxo nas suas próprias casas, estão acostumados com um universo diferenciado. Por isso, é preciso ir além e impressionar. Oferecer um ar-condicionado sensacional, uma qualidade de som inacreditável, camarote assinado, estúdio de maquiagem e por aí vai. Se você impressioná-los, eles voltam sempre. E o maior perigo é decepcioná-los! Eles têm referências. Daí nossos detalhes exclusivos: a geladeira debaixo do sofá para manter a bebida gelada, o som com linhas de áudio forte na pista e mais baixa nas mesas para as pessoas conversarem, o banheiro feminino com dez cabines, o camarote com banheiro privativo que não incomoda ninguém, ou seja, tudo foi extremamente pensado. É um dos clubs mais bem montados que conheço.E a música do super-homem? Essas coisas criam um folclore para a casa?
A noite é uma grande fantasia. As pessoas vão para se divertirem como as crianças vão para a Disney. A realidade é de dia e à noite elas querem extravasar. Isso tudo começou porque a Pink é um club que não tem frescura. Um cliente estava fazendo aniversário eu fui parabenizá-lo pelo microfone e ele pediu uma música diferente. Aí eu pus o tema do super-homem. A brincadeira pegou e virou um ritual nosso. Aqui é uma casa mais flexível. Até o DJ entra no clima. Tem noite que a gente toca de tudo, de Roberto Carlos a música eletrônica.Os clientes são convidados a vir por e-mail, por exemplo?
Usamos muitos convites impressos e as mídias sociais, como o Facebook. Quem confirma vai para uma lista de porta. É preciso chegar cedo para poder entrar antes que a casa lote. Tem noites que a gente faz uma lista de 200 pessoas e aparecem mil na porta. Não tem como entrar. Mas outro dia aconteceu um fato curioso. Acabou a luz e como temos gerador funcionamos normalmente. Ou seja, se acabar a luz em São Paulo, venha para a Pink!Vale a pena trabalhar para esse público triple A?
Com este tipo de produto de qualidade a gente atrai não só o triple A, mas todo tipo de público. Isso me agrada. O meu sonho era fazer uma coisa legal para a noite. E fiz. Hoje sou dono da marca Pink Elephant no Brasil. Estou abrindo outra unidade em Porto Alegre, junto com outros sócios. Mas eu participo. Não acredito em franquear, não acredito só em marca. Eu gosto de estar à frente de tudo. Para mim, lidar com a noite vale muito à pena.