Manual da elegância
Ela é uma das mulheres mais atuantes do mercado de luxo no Brasil. Mas a empresária Michelle Nasser diz que vestir boa parte dos homens mais elegantes do País não foi tarefa fácil. “Quando fui fazer as primeiras compras de coleção, fiquei apavorada. Comprar algo para seu marido ou filho é uma coisa. Definir o que escolher para um punhado de homens é complicado”, diz Michelle. Mas a insegurança inicial foi superada. Algumas das pessoas mais requintadas e influentes de São Paulo se abastecem dos objetos de desejo, roupas e acessórios no especialíssimo cartel fashion que Michelle dirige. Ao lado de André Bret, um dos mais experientes nomes do mercado de luxo no Brasil e da alta moda masculina, ela representa aqui o cultuado estilista italiano Giorgio Armani. Que homem não quer usar um costume Armani e qual mulher não sonha com um vestido de noite Armani? Além da grife principal, Michelle e André representam as outras linhas do poderoso italiano, como a descolada Emporio Armani, a sportwear Armani Exchange e o Armani Café, mix de restaurante e café, anexo a algumas das lojas.
Michelle e André dirigiram também, entre 2001 e 2007, a grife masculina Ermenegildo Zegna, famosa por seus elegantes costumes – que podem inclusive ser feitos sob medida – e uma linha esportiva de muito bom gosto. Nesse meio tempo, investiram no segmento jovem AAA, trazendo uma loja da marca D&G, grife de popstars e jet-setters. “Quando começamos a atuar, tudo era muito tímido nesse mercado. Mas sabíamos que o brasileiro é não só um consumidor de bom gosto como tem e procura informações de estilo. Ele sabe o que é bacana, quais são as tendências e as novidades”, conta Michelle. “No caso do Armani, até pela exclusividade de seus itens, compramos já pensando em determinados clientes. Isso é muito prazeroso”.
Brilhando como na Riviera
Foi a visão apurada e a proximidade com o consumidor masculino que levou Michelle a se interessar pela proposta da marca francesa Vilebrequin de se instalar no País com um produto típico de um país dos trópicos: o short de praia. A marca nasceu em 1971, na sempre charmosa Saint Tropez, um dos points mais cintilantes da Riviera Francesa, capitaneada por Fred Pryskel. Sua intenção foi desenvolver um short de praia de qualidade que deixasse os homens bem vestidos e charmosos dentro e fora d´água. “A moda praia era pensada para as mulheres. O homem não recebia a mesma atenção, tanto em caimento como em cores e estampas”, lembra ela. Assim, todas as minúcias foram levadas a sério, como a costura, o caimento e o uso dos melhores tecidos e aviamentos. Estampas exclusivas das mais coloridas ou xadrezes e geométricos elegantes e uma parte interna reforçada formam a linha desenhada com exclusividade.
Por isso, os shorts e bermudas da Vilebrequin são um objeto de desejo para meninos e marmanjos. “É uma característica da grife mostrar essa imagem de cumplicidade de pai e filho, como se vê nas campanhas e mesmo nas lojas. É o lado da moda que mexe com o emocional”, afirma Michelle.
A busca pela elegância
O mercado de luxo é regido também por um lado emotivo, pela paixão instantânea por um produto, que resulta na compra por impulso. “O homem tem também seu lado de consumidor impulsivo, com diferenças típicas. Um produto fascina pela imagem de poder e, claro, tem seu preço. E ser poderoso para o homem é diferente. A mulher se sente poderosa quando chega a sua plenitude. O homem se sente poderoso por se sentir o provedor, por tratar bem de uma mulher, ou de um clã inteiro”, avalia Michelle.
Ela também expõe seu sábio ponto de vista sobre a relação entre homens e mulheres. “A cumplicidade dessa relação na busca da elegância pode ser muito legal”, afirma. Lidar com uma clientela tão especial e ganhar elogios de fornecedores pelo sucesso de seus negócios é, para Michelle, uma grande satisfação e um desafio constante. “É um mercado realmente apaixonante e que tem muito a oferecer. O percalço maior no Brasil continua sendo a política de impostos. Entender o que o consumidor brasileiro quer, elaborar suas estratégias de marketing e abrir novas lojas não é o problema”, explica. Segundo ela, os estilistas internacionais estão muito satisfeitos com o desempenho das suas vendas para o Brasil.“Não só pelo crescimento do nosso mercado, mas também pelo estilo do brasileiro, que usa bem da roupa ao o acessório”, afirma.
A razão de tanto sucesso no mundo da moda pode ser creditada inclusive as suas raízes. Nascida na Suíça, Michelle tem o DNA do bom gosto desde criança. Sua mãe, a empresária Anita Snaga, criou há décadas o endereço fashion mais conceituado de Genebra, onde nomes como Prada, Dolce & Gabbana, Armani, entre outros, se concentram com lojas próprias dentro de um mesmo espaço. Michelle não poderia ter escola melhor. E o mercado de luxo brasileiro acabou ganhando uma professora e tanto.