Dr. Boa Forma
Dietas milagrosas, cirurgias bariátricas, remédios que prometem emagrecimento imediato. Para quem quer perder alguns quilinhos, vale qualquer coisa. Mas, todo cuidado é pouco, ainda mais quando o número de obesos, no mundo, quase dobrou nos últimos 30 anos. Para fazer as pazes com a balança, um expert no assunto, o endocrinologista Maurício Hirata, conta como chegar ao corpo ideal sem perder a saúde
Por Fernanda Dragone Fotos Daniel Cancini
Em tempos em que capas de revistas prometem o corpo ideal em apenas alguns dias, falar sobre emagrecimento de forma saudável, e e_ caz, parece ser mais difícil do que parece. Para mudar essa realidade e sem fórmulas mágicas, o endocrinologista Maurício Hirata explica que fazer o diagnóstico certo e tratar do problema como uma doença crônica são os primeiros passos para se fazer as pazes com a balança. Pelas suas mãos já passaram celebridades insatisfeitas com o corpo, como Eliana, Amaury Jr., César Filho e Luiza Thomé, além de pessoas que aprenderam que perder peso pode ser obtido com otimismo e sem sofrimentos. Nesta entrevista, o médico revela os efeitos nocivos causados pelo sobrepeso e como ele pode ser prevenido e combatido.
Os Estados Unidos vivem uma epidemia de obesidade. Podemos dizer que o Brasil ainda está longe dos índices da população norteamericana quando falamos em obesidade?
Em 30 anos, o número de obesos quase dobrou em todo o mundo. São cerca de 500 milhões de pessoas, ou seja, um em cada dez habitantes do planeta sofre com a obesidade. No Brasil, uma pesquisa publicada pelo IBGE indica que o excesso de peso atinge 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima dos 20 anos. Se o Brasil mantiver o ritmo de crescimento em relação ao número de pessoas obesas, em dez anos elas serão 30% da população, padrão similar ao encontrado nos Estados Unidos.
Quais os principais problemas da obesidade?
O principal é o envelhecimento celular. As células perdem, lentamente, a sua função original e podem se transformar em células cancerosas – na mulher, no endométrio, mamas, esôfago, intestino e próstata. Outro sinal é a perda das atividades pancreáticas que podem levar ao diabetes mellitus. Em relação à circulação, a obesa pode apresentar quadros de hipertensão, arritmias, apneia do sono e baixa imunidade, que pode gerar infecções pulmonares e queda da fertilidade.
Qual o maior desafio durante o tratamento contra a obesidade: o aspecto psicológico, físico ou químico?
Na verdade, temos que tratar a obesidade do ponto de vista multifuncional. Muitos casos de sobrepeso são causados por transtornos de ansiedade, depressão ou doenças mentais, como transtornos alimentares compulsivos – é o caso de pessoas que acordam à noite para comer doces. Do ponto de vista físico, o ideal seria que o paciente _zesse atividades físicas regularmente, mas como pedir a alguém que trabalha 12 horas por dia para se exercitar? Em relação aos problemas químicos, nossas atenções devem ser voltadas para os metabolismos lentos e para os problemas genéticos. Quem nasce em família de obesos deve redobrar os cuidados com a alimentação. Mas as causas de peso excessivo não param por aí. O fator ambiental também pode interferir. A conhecida obesidade tóxica ocorre pelas alterações hormonais causadas pelo contato com o BPA, um composto encontrado em produtos plásticos e que se manifesta principalmente em crianças.
Muita gente tem usado medicamentos contra diabetes ou ansiedade para emagrecer. É uma boa alternativa?
Qualquer remédio, seja para emagrecer ou não, só deve ser tomado depois de o paciente passar por uma consulta, fazer os exames necessários e ser orientado de forma correta. O que é bom para uma pessoa pode não ser para outra.
As cirurgias bariátricas tornaram-se uma válvula de escape para quem quer emagrecer de forma mais rápida e prática. O que o senhor acha disso?
Infelizmente essa é uma realidade que tem crescido e as consequências são desastrosas, pois, além das complicações pós-operatórias que podem ocorrer, muitos pacientes acabam engordando novamente após algum tempo. Isso acontece quando, após a cirurgia, o paciente não é tratado com relacão aos outros fatores que levam a obesidade, como a ansiedade.
Alguns médicos ainda usam o IMC para calcular qual o melhor peso para cada pessoa. Porém, sabemos que duas pessoas com a mesma altura possuem estrutura óssea, músculos e quantidade de água diferentes no corpo. O senhor considera esse método eficaz?
O IMC ainda é muito usado, mas não é o ideal. Não que ele esteja errado, mas para que a pessoa receba o tratamento adequado e especí_co para seu caso, o ideal é realizar exames mais detalhados. O mais indicado é fazer a medida do perímetro cervical (largura do pescoço) e conhecer as medidas exatas de gordura corporal de cada paciente.
Leia essa e outras matérias na Go’Where n° 96