Como a grife Iódice se tornou ícone da moda no Brasil
A Iódice, uma das principais marcas do Brasil, chega aos seus 30 anos. O idealizador da grife, Valdemar Iódice, fala sobre essa longa trajetória e sobre a importância de se adaptar aos novos mercados, mas sem perder a própria identidade.
Por: Malu Bonetto
Filho de uma modista, o estilista Valdemar Iódice, ainda criança, observava a mãe cortando tecidos, confeccionando roupas e, às vezes, atendia as clientes da loja de sua mãe. Aos 18 anos, começou a trabalhar com seu tio em uma camisaria e logo seu feeling falou mais alto – Valdemar começou a desenvolver a modelagem das camisas e opinar nos produtos. Com o passar dos anos, a vontade de ter uma loja própria foi crescendo e, em 1987, nasceu a Iódice. “Comecei fazendo uma linha de camisetas para os amigos e, depois, naturalmente agreguei a malharia feminina e masculina, o jeans wear e, por fim, o prêt-à-porter”, conta o estilista, que, ao ver a marca crescer, decidiu se aperfeiçoar na alfaiataria e foi estudar sobre a estrutura e caimento dos blazers, os tipos de tecido mais indicados e como o forro é essencial para deixá-los estruturados.
Apesar de a marca ter nascido em 1987, a primeira loja foi inaugurada 11 anos depois, no Shopping Iguatemi. Em março de 2001, deu um outro grande passo e inaugurou uma flagship de 500 m2 na badalada Rua Oscar Freire. “Ela é a principal loja da marca, onde mostramos o conceito em um prédio de três andares. Nela, conseguimo reforçar o DNA da Iódice através de um espaço luxuoso, elegante e acolhedor.” Atualmente, as peças da grife estão disponíveis em suas 15 lojas – somando as próprias e as franquias –, no e-commerce e em mais 350 multimarcas espalhadas pelo Brasil.
Para chegar o atual patamar de sucesso e reconheci-mento, Valdemar e toda a equipe da Iódice tiveram de batalhar muito. “Consagrar uma marca no mercado é um trabalho de construção. A marca não cresce de um dia para o outro, o período de maturação é de, no mínimo, dez anos. Às vezes, vemos uma marca no mercado e achamos que é nova, mas quando vamos nos aprofundar, vemos que já tem dez ou doze anos e só agora se tornou conhecida. Quando acontece muito rápido, às vezes, a marca não se consolida. No caso da Iódice, fomos subindo degrau por degrau, conquistando nosso público e mantendo nosso DNA nesses 30 anos. E, até hoje, estamos exercitando e procurando sempre fazer algo para a marca ficar em evidência, seja um desfile, uma coleção, uma campanha… O essencial é a marca estar sempre aparecendo e marcando seu espaço no mercado.”
Amor pela passarela
O primeiro desfile da Iódice foi realizado em 1995, no Estúdio Cinematográfico Adrenalina, em São Paulo, e teve como destaque a modelo Claudia Liz. A apresentação marcou o começo de uma trajetória de sucesso, seguida por inesquecíveis projetos cenográficos em importantes eventos de moda do calendário brasileiro, como os extintos Phytoervas Fashion e Morumbi Fashion. “Foi uma experiência que marcou minha carreira.” Hoje, a marca desfila suas novas coleções nas semanas de moda de São Paulo. “Participar do SPFW é um desafio que toda marca precisa passar. É apresentar um novo trabalho que agrega valor dentro do seu estilo, é um evento que você agrada ao mesmo tempo sua consumidora e a imprensa. Ele nos traz visibilidade em nível nacional”, conta Valdemar.
Foco no Brasil
Apesar de a Iódice já ter participado de quatro edições do New York Fashion Week, uma das mais importantes semanas de moda do mundo, Valdemar revela que optou em descontinuar as vendas no exterior e direcionar seu olhar apenas para o Brasil. “Já tive showroom em Los Angeles e Nova York, mas quando os Estados Unidos enfrentou sua última crise financeira, a parceria que tínhamos com uma factoring passou a não ser mais vantajosa. Então optei por voltar para o mercado brasileiro, as minhas raízes. Hoje minha marca não é vendida no exterior, e confesso que estou bem feliz com nossa presença no mercado nacional.”
Metamorfose constante
Como um empresário de visão, planejamento e um típico perfeccionista virginiano – como ele mesmo se define –, Valdemar sabe da importância de acompanhar as mudanças do mercado para garantir a continuidade da grife. “Nossa consumidora é uma mulher contemporânea, sensual e urbana. No começo nossas clientes tinham entre 35 e 50 anos, mas hoje a faixa etária não é mais parâmetro para desenvolver uma coleção, a ideia é fazer roupa para deixar a mulher bonita” , diz o estilista, que hoje coordena o departamento de estilo da marca.
Outra mudança importante que a marca enfrentou se deu com a popularização da internet e das mídias sociais, que fizeram com que as informações cheguem de maneira mais rápida e fácil ao público. “É mais fácil ver o que é tendência em qualquer lugar do mundo e trazermos algumas coisas para a nossa coleção, mas sem mudar o estilo da Iódice porque é isso que atrai nossa cliente.”