À Moda Italiana
Uma das mais conceituadas (e tradicionais!) grifes italianas completa 50 anos e mostra como o luxo das peças artesanais pode fazer história ao lado de peças com um olhar mais contemporâneo.
Por: Cibele Carbone
O ano era 1966, quando os italianos Michele Taddei e Renzo Zengiaro decidiram fundar a Bottega Veneta, em Vicenza, na Itália, focada em produtos artesanais de couro. A qualidade com que as peças eram feitas logo chamou atenção e a grife entrou para a história, ficando conhecida no mercado de luxo por sua filosofia de individualidade dos produtos femininos e masculinos, desde o ready-to-wear até os móveis e joias.
No ano em que completa meio século de história, a Bottega Veneta – que vai expandir sua boutique no Shopping Iguatemi (SP) em maio para uma área de 220m2 – continua firme em seus propósitos.
Numa época em que boa parte das peças do universo da moda é feita em larga escala e com ajuda de maquinário, a grife continua valorizando o trabalho dos hábeis artesãos. Diferentemente de muitas grifes, a Bottega Veneta tem cravado em seu DNA a colaboração entre o artesão e o designer na abordagem do luxo, e um bom exemplo disso pode ser simbolizado pelo couro trançado, trabalho característico da marca. Para garantir a qualidade de seus produtos e a mão-de-obra especializada, em 2006 a marca abriu uma escola para treinar e apoiar gerações futuras de artesãos de couro, a La Scuola dei Maestri Pellettieri di Bottega Veneta, em Vicenza, cidade italiana onde a marca nasceu.
Casarão (sustentável) da moda
No total, a Bottega Veneta conta com 300 funcionários e eles trabalham, desde 2013, num lindo casarão do século 18, localizado em Montebello Vicentino, a cerca de 20 km de Vicenza. O local foi restaurado e ganhou uma área anexa, proporcionando uma área de 12.500 m2 para abrigar os profissionais da marca. O bacana é que o espaço é bem clean e aberto, o que favorece a interatividade entre as pessoas. É nessa casa, ou melhor, ateliê, onde também é a realizada a segunda fase do curso de artesãos da grife. Mas lá a Bottega não se preocupa apenas com a moda – a grife se preocupou em tornar esse espaço sustentável. Eles em-pregaram soluções para a redução do consumo de água e energia global do edifício, focando no uso de fontes renováveis. Além disso, instalaram reservatórios subterrâneos de água para fazer a climatização do ambiente, painéis solares para gerar energia, iluminação que se ajusta automaticamente de acordo com os níveis externos de luz natural e sistema de ar-condicionado que reduz as emissões de CO2, entre outros.
O fenômeno Tomas Maier
Apesar de toda a fama e do prestígio da Bottega Veneta, após 35 anos a marca precisava de um novo fôlego. Foi então que ela foi adquirida, em 2001, pelo grupo PPR (que antes se chamava Gucci Group), e uma das primeiras manobras feitas nessa nova fase foi nomear Tomas Maier – que já tinha passado por casas como Guy Laroche, Sonia Rykiel, Revillon e Hermès – como diretor de criação da marca, que apresentou uma linha de acessórios meses após sua entrada. A grande missão veio logo depois, com a coleção Primavera-Verão 2002, que teve aceitação imediata de público e crítica. As peças foram criadas em cima de quatro pilares que regem o trabalho do estilista até hoje: materiais de alta qualidade, trabalho impecável dos artesões, funcionalidade contemporânea e design inovador. Apaixonado por seu trabalho e focado nos quatro ponto-chaves, Tomas Maier conseguiu expandir os horizontes da marca, tornando-a um verdadeiro fenômeno no mercado de luxo nos últimos anos. “Minha ambição era desenvolver produtos que falassem por si só. Eu tinha certeza de que algumas pessoas, assim como eu, não queriam comprar uma pro-duto marcado com um logo. Ao invés disso, queriam produtos de luxo com a assinatura apenas dos artesãos”, comenta Tomas Maier. Nos dois primeiros anos após a sua entrada, a marca abriu flagships em Londres, Paris, Milão e Nova York. Mas Tomas Maier não se limitou a deixar a marca no mundo da moda. O diretor criativo conseguiu traduzir o estilo Bottega Veneta para a suíte de grandes hotéis – St Regis, em Roma; e Park Hyatt, em Chigaco. “Sempre que eu estou na minha mesa trabalhando, no importa o lugar, há uma pilha de cores ao meu redor. A cor é a minha fonte de inspiração e o ponto de partida do meu processo criativo”, finaliza Tomas Maier.