Aref Farkouh reforça compromisso com o Hotel Toriba e recusa vendas
Com formação em arquitetura pela Universidade de São Paulo, o empresário Aref Farkouh é inquieto. De família libanesa, ele atuou na indústria têxtil, à frente de cinco fábricas e 800 funcionários por 25 anos. Depois, resolveu retornar à área de Arquitetura e Construção, atuando no segmento de galpões industriais, por meio de sua própria construtora, atividade que, aliás, exerce até hoje. Apaixonado por viagens e conhecedor de bons hotéis pelo mundo, o empresário não pensava em adquirir um negócio na área hoteleira até se deparar com uma oportunidade única de se tornar sócio do tradicional Hotel Toriba, em Campos do Jordão. E, desde 2014, agora como dono do empreendimento, recebe os hóspedes, muitos deles frequentadores de três gerações. Especialmente para a GoWhere, Aref fala sobre a expansão do Toriba e sobre suas outras paixões, a arte e a criação de cavalos.
O Toriba tem novas acomodações muito luxuosas, que são os novos chalés, com estrutura de muito verde ao redor. São os Ninhos de vidro com vista panorâmica e projeto sustentável. Mesmo em um hotel clássico como o Toriba, você conseguiu surpreender os hóspedes?
Nenhum hotel, mesmo sendo um clássico como o Toriba, que tem 80 anos, pode parar. Se não evoluir, não melhora, entra em decadência. E se você não cresce, pelo menos um pouco, o teu espaço é ocupado por outros. O Toriba tem três gerações de clientes e todos querem novidades. Sei que é uma obrigação de todo empresário crescer qualitativamente, e quantitativamente, sempre. Por isso que a gente cresce, por isso que trazemos o novo, e por isso que cada vez mais vamos fazer chalés legais. A concorrência copia a gente, tá? Cada vez que eles nos copiam, eu faço melhor. Isso é bom para todos, essa concorrência é saudável. Temos hoje 18 chalés, além das outras acomodações do hotel. Em breve serão 23, um diferente do outro.
Qual é o investimento pra construir um chalé luxuoso como os Ninhos?
Cada acomodação de chalé hoje nos custa um milhão de reais. Tem piso aquecido, muito verde. Não desmatamos nada. Os chalés têm total integração com a natureza. Nós temos árvores que os atravessam. Há pelo menos umas 10 araucárias que estão dentro dos chalés. E os ninhos ficam suspensos, realmente integrados com a floresta.
O Grupo Toriba tem quantos restaurantes?
Temos 11 no total. A gastronomia é diversificada por alguns motivos. Primeiro que quem viaja gosta de comer bem. Quando você vai para um lugar descansar, a atividade principal é comer. Vejo por mim, eu almoço e o programa é esperar o jantar, rs. Depois, como eu quero que meus clientes fiquem mais dias no hotel, tenho de oferecer atrações para que ele não precise repetir em um restaurante.
Quais são os mais desejados pelos clientes?
O Pennacchi, por exemplo, é muito chique, todas as paredes têm afrescos do pintor italiano Fulvio Pennacchi. Aí você vai no Toribinha, um chalé suíço autêntico, com obras de arte ligadas à Suíça. As almofadas do sofá, os queijos, as janelinhas com cortininhas, tudo é suíço, é muito autêntico.
Além do Hotel Toriba, quais seus investimentos em Campos do Jordão?
Nós investimos em três setores que dão lucro, que é a hospedagem, gastronomia e entretenimento – com o novíssimo Parque Bambuí e a Fazendinha Toriba. Os outros são sem fins lucrativos, como o setor de conteúdo, no qual temos o Toriba Musical, por exemplo, e o Toriba Ambiental, com programas de preservação e plantio.
O Toriba Musical tem apresentações fora do Hotel?
Tem uma vida quase que independente. Além de fazermos concertos no hotel, nos apresentamos no Auditório Claudio Santoro.
Você gosta muito de arte, quais são seus investimentos nessa área? Você compra muita obra?
Todas essas coisas não são investimentos, são despesas. Eu não faço para ganhar dinheiro. Eu não conheço um cara que ganhe com obra de arte. Os caras falam: “estou investindo em obra de arte”. Não está investindo não. O único cara que investe e ganha com arte é o Marchand
Por que?
É o cara que descobre um artista criativo que tem um estúdiozinho na Vila Madalena, cujas obras não são caras. O Marchand descobre, promove, põe na galeria dele e vende os quadros por 30 mil reais. Aí ganha dinheiro. Ou pega um artista com exclusividade, como a Beatriz Milhazes, cujo quadro hoje custa um milhão de reais. Esse cara comprou a carreira dela lá no começo.
Você é colecionador de arte?
Sim, mas não sou um colecionador que faz isso por dinheiro e nem coleciono as coisas que são caras. Eu coleciono o que eu gosto.
O que você gosta mais?
Você vai andar pela minha casa agora, e vai ver que eu sou supereclético. Existem no mercado artistas que são consagrados, foram muito bem promovidos, caíram nas graças da mídia e tiveram uma chance que souberam aproveitar e os preços estão inflacionados. Enquanto que tem outros artistas que fazem trabalhos muito bons, você vai ver aqui na minha casa, e que não decolaram nos preços. Estou começando agora com fotografias legais e esculturas. Lá no hotel eu tenho esculturas, algumas clássicas, como as da Felícia Leirner e Bruno Giorgi. Tenho esculturas do italiano Alfredo Ceschiatti e Israel Kislansky.
E de pinturas, de quem você gosta mais?
Não posso deixar de citar o Fulvio Pennacchi, que é o nosso principal pintor. Nós temos hoje no Toriba quatro salas inteiras pintadas por ele. É bem valioso, mas são paredes, não dá pra tirar. Pra mim não adianta nada ser valioso. O que interessa é que seja bonito. E eu comprei recentemente uma parede inteira dele, de uma casa que foi demolida. Cara pra caramba. Mas é uma coisa única, uma parede do Fulvio Pennacchi, numa casa de um milionário. O cara vendeu a casa e eu consegui a parede. Quanto custa? Custa caro.
E nas viagens, você costuma garimpar?
Não. Porque tem de pagar imposto de importação. Aqui eu compro muita coisa em leilão. Leilão de famílias ricas. Compro antiguidades, esculturas, telas, tapetes..
Por isso que, pra colecionar, tem de ter bom gosto pra comprar sem estar inflacionado.
Sim, eu diria para você que o Toriba, provavelmente, tem o melhor acervo de arte de qualquer outro hotel que eu conheço no Brasil. No exterior, na Europa, tem hotéis com acervos bilionários. Levando para Las Vegas, por exemplo, o Bellagio tem o acervo equivalente a, no mínimo, 100 milhões de dólares. Nós temos um acervo de umas 300 obras de arte espalhadas pelo hotel, pela minha casa, pelo meu apartamento. Tem 300 obras de arte, todos os preços, mas nada, nada, nada que supere, assim, 50 mil reais.
É verdade que gosta de cavalos? Tem investimentos nesse setor?
Eu sou Oficial de Cavalaria. Sempre gostei. Tive um período de um ano e meio de montaria, inclusive meu amigo, o dono do Tarandu, Ricardo Lenz, também. Nós dois éramos tenentes de cavalaria. Inicialmente, comprei duas éguas árabes para mim e para o meu filho. Aí, vem outro filho e você compra mais uma. Cruzamos elas com um garanhão. Quando você vai ver… Eu não sou um criador. Tenho 11 cavalos hoje.
Os cavalos são de raças valiosas?
Tenho árabes, que são os originais, e depois comecei a cruzar com os lusitanos, dá uma mistura muito boa; são usados no Aventoriba Puro Sangue, programa pelo qual promovemos passeios pelas florestas e trilhas. Tem também o Aventoriba Equestre, outro programa que utiliza cavalos não tão valiosos.
Esse segmento dá lucro?
Não faço pra vender e, se fosse vender, daria prejuízo. Os cavalos árabes já valeram muito dinheiro, não é o caso hoje em dia. Os cavalos mais valiosos nos dias de hoje são os Mangalargas Marchadores, que valorizaram muito, os Quarto de Milha e os de salto.
Quanto custa?
Os cavalos mais caros são os de salto. Quando ele está em atividade, vale até 2 milhões de reais. Quem compra são as pessoas que já querem o cavalo pronto e que gostam muito de saltar na hípica.
Você gosta de carro?
Gosto tanto de carro que não vendo os meus. Meu maior xodó é um Jeep Willys da época que servi no exército. Comprei na Academia Militar das Agulhas Negras, restaurei e agora está no sítio. Não vendo de jeito nenhum, como também não vendo o hotel, e olha que já tive muitas propostas.
Qual a proposta mais valiosa que teve para vender o Toriba?
Não posso falar isso, mas depois te conto!
O que mais tem feito?
Eu sou arquiteto construtor, então não vivo do hotel, construo galpões e os alugo. Agora estou aprovando casas de luxo, como os chalés do Toriba, com piso aquecido, de cerca de sete milhões de reais cada uma. Estou aprovando 25 casas para começar, em um terreno bem grande, sem cercas, com um padrão de qualidade muito bacana. E estamos pensando em levar o Toriba para o litoral brasileiro. Mas ainda é segredo
_________
POR: Aroldo de Oliveira
FOTOS: Daniel Cancini