Aprimore o vocabulário e a fluência verbal
Por: Reinaldo Polito
Você sabia que seu vocabulário talvez seja melhor, bem melhor, do que imagina? Muitas pessoas que se recriminam por possuírem vocabulário pobre acabam por descobrir que sua avaliação é equivocada. Vou mostrar como pode ser simples tornar sua comunicação muito mais eficiente, apenas usando as palavras que você já aprendeu ao longo da vida.
Há casos impressionantes de personalidades que usam a comunicação em suas atividades profissionais e tropeçam nas palavras na hora de falar. São exemplos que estão à nossa volta e nos ajudam a entender os motivos que travam a língua de algumas pessoas, impedindo-as de falar de forma fluente e desembaraçada.
Sou fã de carteirinha do Luís Fernando Veríssimo. Quando leio um texto desse escritor excepcional, fico morrendo de inveja. Sempre reflito: como é que ele consegue construir períodos tão perfeitos, com ideias completas, prontas e acabadas?
Entretanto, com esse vocabulário excepcional que o ajuda a produzir páginas que serão imortais, Veríssimo é um desastre ao falar. Pronuncia as palavras como se fosse aprendiz de digitalização, catando milho, tecla por tecla. Não me conformo – onde estão aquelas frases mágicas que leio em seus livros?
O mesmo pode ocorrer com você. Falar selecionando palavras com rigor semelhante ao usado para escrever ou revestir sua comunicação de uma formalidade que não seja usual no seu cotidiano aumentam as chances de se dar mal. A não ser, evidentemente, que a circunstância exija.
Sem contar também que quando falamos, de maneira geral, ficamos preocupados com a opinião que as outras pessoas terão da nossa mensagem e da nossa imagem. Por isso, procuramos caprichar ainda mais. Um cuidado excessivo que acaba nos tolhendo.
Quando escrevemos, mesmo que tenhamos preocupação com a opinião das outras pessoas, temos tempo de meditar sobre o que vamos comunicar e reescrever o que não julgarmos oportuno. Fico arrepiado, entretanto, quando vejo alguém tentando escrever o que pretende falar, principalmente se não ensaiar o que vai dizer.
Tenha em mente que pensar é uma atividade, escrever é outra, e falar se caracteriza como tarefa ainda mais distinta. O ritmo, a cadência, a pausa, a estrutura melódica da comunicação oral são aspectos muito diferentes da comunicação escrita. Uma palavra, uma vírgula, uma entonação diversa da planejada são detalhes que modificam a sequência e a maneira de transmitir a mensagem.
A falta de compreensão dessa realidade pode levar a alguns enganos de avaliação. Ao longo desses mais de 30 anos ministrando cursos de Expressão Verbal, tenho recebido, com frequência, alunos que chegam reclamando da falta de vocabulário ou da dificuldade que sentem para encontrar as palavras que identifiquem de maneira correta o seu pensamento.
Nessas ocasiões peço que a pessoa me conte qual é exatamente sua dificuldade com o vocabulário. E durante uns dois ou três minutos ela passa a falar sobre os problemas que tem enfrentado e de como, às vezes, sofre sem saber como agir diante de um grupo quando as palavras não aparecem. Conseguem até escrever com facilidade, mas não se saem tão bem ao falar. O mais surpreendente, entretanto, é que para explicar o problema do vocabulário, nessa conversa comigo, encontram todas as palavras que precisam, sem nenhuma dificuldade.
O problema do vocabulário, de maneira geral, está mais na atitude que temos do que propriamente nele em si. Se numa situação formal, diante de um grupo de pessoas, lançarmos mão das palavras que usamos no dia a dia, quando estamos conversando com amigos, parentes, ou colegas de trabalho, teremos à disposição um vocabulário mais que suficiente para corporificar e expressar todas as nossas ideias.
Entretanto, em ocasiões mais formais, algumas pessoas costumam se expressar com palavras diferentes daquelas que usam nas situações do cotidiano. Procuram construir frases com estrutura mais sofisticada e, por isso, sentem dificuldade para transmitir o que estão pensando. Ou, como no caso de certos escritores que pensam e meditam sobre cada palavra que põem no papel, ou na tela do computador, se atrapalham e dão verdadeiro nó na língua quando precisam se expressar oralmente.
Não estou dizendo que quem escreve bem não fala bem. Ao contrário, normalmente, quem escreve bem também possui boa comunicação oral. Quem tem boa redação, de maneira geral, é dotado de bom preparo intelectual e está familiarizado com um vocabulário mais abrangente, que o ajuda a transmitir o que pensa. Mesmo assim, insisto, falar e escrever são duas atividades distintas.
Por isso, se você deseja falar com fluência e desembaraço, precisa treinar e praticar a comunicação oral, para adquirir essa espécie de automatismo da fala, essa capacidade de pensar e, praticamente, falar ao mesmo tempo.
Um bom exercício para desenvolver o hábito de verbalizar o pensamento é ler artigos de jornais e revistas e, na primeira oportunidade, comentar sobre essas informações com as pessoas que encontrar.
Assim, habituando-se a verbalizar os pensamentos, a falar sobre as informações que acabar de ler e a usar nas situações mais formais o mesmo tipo de vocabulário que costuma empregar nas conversas com as pessoas mais próximas, no dia a dia, além de tornar sua comunicação muito mais eficiente, você poderá contar com um apoio excepcional para transmitir suas ideias e projetos, aprimorando-se na arte de persuadir e de se relacionar bem com os seus semelhantes.
Só fique atento para fazer as adaptações necessárias, de acordo com a circunstância. Se tiver de falar na reunião da empresa, use vocabulário adequado à vida corporativa. Se apresentar um projeto acadêmico, exponha suas ideias com vocabulário próprio para a vida acadêmica. Se conversar com amigos em ambiente informal, fale com vocabulário solto, leve, descontraído. Isto é, use o seu vocabulário, mas faça adaptações ao momento em que se apresentar.
Vamos lá: coloque entre suas prioridades o objetivo de falar mais fluentemente em qualquer circunstância. E se transforme num comunicador ainda melhor.
Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, professor de oratória nos cursos de pós-graduação da ECA-USP, palestrante e escritor. Publicou 25 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos em todo o mundo. Para saber como participar de seus cursos abertos ou individuais, entre no site www.polito.com.br