A Nova Primeira Dama de São Paulo
Com uma carreira consolidada de artista plástica – ela já expôs suas esculturas vários países, como França, Estados Unidos e Itália –, Bia Doria se diz otimista com o novo desafio da sua vida: ser primeira-dama ao lado do seu marido, João Doria Junior, que, no primeiro dia de 2019, assumirá o governo do Estado de São Paulo.
Por: Malu Bonetto
Nascida em Pinhalzinho, oeste de Santa Catarina, Bia Doria passou a maior parte de sua infância em uma fazenda vendo sua avó austríaca entalhar madeira. “Lá na Áustria, entalhar peças faz parte da cultura local, então, ela fazia isso perfeitamente. Lembro que era tudo muito artesanal. Com uma faquinha, fazia passarinhos, cachorrinhos e outros bichinhos que usávamos para decorar a mesa. Eu ficava encantada com as peças e, claro, que o fato de ter crescido em meio a uma floresta de araucária me ensinou a respeitar a natureza. Então, me tornar uma artista plástica focada na natureza foi algo natural”, conta Bia, que é casada com João Dória Junior, que conheceu quando ele chefiava a Embratur e ela era relações-públicas da instituição.
Trabalhar com arte, no entanto, não estava nos planos iniciais de Bia, que se formou em Educação Física e estudou Design de Moda, na Itália. Mas, durante a gestação do seu segundo filho com João Doria (são três, ao todo) que ela sentiu a necessidade de retomar suas origens e começou a talhar algumas coisas que tinha em casa. Com o tempo e, por causa da sua predileção por peças e esculturas grandes, decidiu abrir a Galeria Bia Dória, hoje localizada na Rua Brás Melilo, 91, na Vila Nova Conceição.
Chamada por muitos de representante da arte contemporânea sustentável, Bia conta que o ato de “reciclar e transformar” sempre fez parte da sua vida. “Lembro que durante minha infância, no Dia de Finados, enquanto as pessoas compravam coroas para levar ao cemitério, minha mãe já ia fazendo durante o ano flores com latinhas de ferro e pintava com spray, para levarmos ao túmulo dos nossos parentes. Também me lembro que, quando faltava algo em casa para comer, ela sempre arranjava um substituto. Por exemplo, quando não tinha carne, ia à horta, pegava flores de abóbora, passava na farinha e no ovo. Comíamos e adorávamos. E, por sermos onze ir-mão (dois falecidos), comprar roupas novas não era algo tão constante, então, quando as roupas ficavam velhas, ela fazia um bordado e pronto, tínhamos vestimentas novas.” Talvez por isso a artista se orgulhe tanto em dizer que, para fazer suas obras, não compra praticamente nada.
Respeitando a forma natural da madeira, Bia conta que a natureza é sua grande fonte de inspiração, sua guia. “Quando viajo, não sou aquela pessoa que fica olhando a arquitetura, observo a forma das árvores, afinal, são elas que me inspiram. Hoje, recebo diversos e-mails com fotos das matérias-primas, mas, antigamente, ia aos lugares, nas represas, ver pessoalmente as madeiras. Eu não uso madeira de lei, não compro madeira, só recolho as que estão na natureza e as deixo mais harmônicas.”
O processo de criação das obras começa com a lavagem da madeira, depois ela passa por um tratamento para retirar possíveis bichos e fungos, e é encaminhada para a fumegação, onde se retira a umidade. Por fim, Bia vai dando uma nova forma à madeira e aos resíduos de floresta de manejo, aos produtos sustentáveis e às árvores nativas resgatadas em queimadas, desmatamentos, fundo de rios, barragens. O que para muitos parece apenas lixo, vira obra de arte nas mão da talentosa artista. “Todas as minhas obras feitas em mármore, bronze, ferro e resina, antes, foram esculpidas em madeira para depois serem reproduzidas em diferentes materiais. Por isso, o processo de criação de uma peça pode demorar de seis meses a anos, e o seu valor ir de R$ 1 mil a R$ 1 milhão”, conta.
Com várias exposições realizadas pelo Brasil e em países como França, Ale-manha, Estados Unidos e Itália, Bia ganhou o prêmio em escultura na 10ª Bienal de Florença 2015, foi reconheci- da com o 35º Prêmio Internacional Fontane di Roma, concedido pela Accademia Internazionale La Sponda e teve suas es- culturas expostas na Basílica Papale Di San Paolo Fuori.
Com um vasto currículo no Brasil e no exterior, a artista se prepara para encarar um novo desafio: a partir de janeiro será a primeira-dama do Estado. “Sei que terei diversas funções, mas tenho certeza que irei conseguir conciliar o cargo com minha carreira. Acredito que a primeira-dama é o coração do governo, mesmo porque o governador tem uma visão mais técnica do cargo. Eu, por exemplo, não tenho a visão do João, mas irei me dedicar muito ao Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo. Ajudarei na campanha do agasalho, irei nas entidades ajudar no que for preciso e possível, mas também irei cobrar se o dinheiro foi mesmo investido da maneira correta. Até porque só irei liberar verba se o projeto for realmente bom e se houver prestação de contas. Acredito que de nada adianta dar o peixe, é preciso ensinar as pessoas a pescar”, desabafa.
Bia revela que também se preocupa com a qualidade da educação oferecida no Estado e, como artista plástica, diz que a arte, como um todo, é a mãe de toda a nossa cultura. “Quero fazer do limão uma limonada, por exemplo: se alguém vier me pedir algo, primeiro vou ver se ela não consegue resolver sozinha. Fazendo um comparativo com as minhas obras: eu não compro quase nada, é tudo reciclado. Então, às vezes, a pessoa quer algo, mas, parando para analisar, ela pode aproveitar algo que já tem. As pessoas sempre têm alguma habilidade, às vezes, só não sabem como desenvolver ou aproveitá-las.”
Apesar de João Doria Jr. tomar posse só no início do ano, Bia se diz bem otimista com o cenário que se apresenta. “Eu me decepcionei um pouco na prefeitura porque estava tudo muito engessado, você ajudava uma pessoa, a outra reclamava. Mas espero que no governo, isso seja um pouco mais flexível, estou planejando algumas mudanças no Fundo Social, mas, como ainda não tomei posse, não sei a situação atual dele”, conta. Sobre as críticas, ela é direta: “iremos responder mostrando nosso trabalho. O resto passa, afinal, são só quatro anos, depois nossa vida voltará ao normal.”