Teste da água: beba sem moderação
Degustamos sete águas nacionais com gás. Conheça a campeã!
Por: Aroldo de Oliveira
Por que será que estão falando por aí que o brasileiro aprendeu a beber água? Em tempos não tão longínquos assim, água era apenas água – seja da torneira, seja a mineral, com gás ou sem gás, apenas isso. E, assim como aconteceu com vinho, cerveja, café, chocolate, entre outras bebidas, a difusão de diversas marcas de água ganhou corpo nos pontos de vendas – e passou a ser objeto de provas de sabor. Como aqui o assunto é água nacional, antes de iniciar a degustação promovida por esta edição de aniversário de Go Where Gastronomia, abrimos a discussão e contamos tudo pra você. A roda de conversa com os degustadores teve no comando o professor Renato Frascino, consultor de vinhos e destilados e que se tornou, também, especialista no chamado “precioso líquido”. Brinca ele: “Água é a primeira bebida que entra e a última que sai da mesa, e a única que pode ser consumida sem moderação”. Toma mais um gole de água e prossegue: “O que as pessoas antenadas estão prestando mais atenção é que existe a água para o dia a dia, para hidratar apenas; águas esportivas, bem leves; e, claro, águas gourmet, para acompanhar um bom vinho e uma boa refeição”, enfatiza Renato. Mas, se formos ampliar essa discussão, muita gente que não gosta desse termo gourmet, utilizado para quase tudo que se torna mais caro, mas que nem sempre é acima da média, Frascino faz a defesa. “Tecnicamente falando, a água gourmet tem de ter pelo menos 120 mg de bicarbonato para se tornar premium, adquirindo mais mineralidade, leveza, estrutura, e despertar os sentidos como aromas e gostos.”
Nossa roda de discussão, e de degustação, conta ainda com os sommeliers Gabriela Bigarelli, Daniella Romano, Gustavo Massa Beltrati, o bartender e também sommelier Rodrigo Sepulveda e fecha com o empresário Kleber Thomé, proprietário da boutique de pães Mr. Baker. “Após essa degustação, estou contente em conhecer e saber que a água brasileira está em um bom nível de qualidade, se compararmos com as internacionais”, relata Daniella Romano. O sommelier Gustavo concorda em parte. “No quesito águas leves, estamos no mesmo nível, mas, quando corremos para as águas gastronômicas, ainda falta corpo para atingir o nível da Acqua Panna, San Pellegrino, Voss, entre outras”.
Conversa vai e vem, vamos voltar para o foco da degustação. É bom discutir o nível de nossas águas, sua qualidade, higiene, salinidade, etc. Enfim, tudo isso é saudável para a indústria e vai ajudar na evolução dos produtos. “É difícil degustar água. Elas são bem parecidas, é preciso estar atento aos detalhes, à efervescência, persistência, corpo. E esse exercício ajuda na diferenciação de cada uma delas”, explica Rodrigo Sepulveda. Daniella destaca mais um detalhe e defende o gênero. “Mulher tem muita sensibilidade para essas mínimas características que diferenciam cada água”. Será?
Nacional e de boa qualidade
A degustação de águas nacionais com gás, promovida por Go Where Gastronomia, foi às cegas – ou seja, o júri não sabia que água estava tomando. A ficha, que pode ser visualizada no box desta página, valia 100 pontos no total, com divisão de pesos diferentes para cada item. O olhar (clareza da água) valeu de 0 a 10. O item nariz, pelo qual se registra a impressão dos aromas, valeu de 0 a 30. O paladar, de 0 a 40, o maior peso. E, por fim, o exame final, que pedia um veredito de balanço e persistência, valeu de 0 a 20. As águas foram numeradas de 1 a 7 e a degustação seguiu esta sequência. Na ordem:
- Pura Font Danone
- Minalba
- Crystal Vip
- Schin
- Prata
- São Lourenço
- Platina
Algumas informações do decorrer da degustação são fundamentais para entendermos a dinâmica. A água 1, Pura Font, se saiu melhor que a água 2, Minalba, no resultado final, mas ambas tiveram notas apenas razoáveis dos jurados. “A água 1 é leve, com salinidade perceptível, corretamente suave”, diz Kleber Thomé. “Ela não tem defeitos, mas não se sobressai no corpo, é uma água para o dia a dia”, completa Rodrigo. “A água 2 tem bons aspectos, é correta, mas falta brilho para ser combinada com bons pratos. Apenas para o dia a dia também”, resume Gustavo. A água 3, Crystal Vip, chamou a atenção negativamente de Gabriela Bigarelli. “Ela tem um leve defeito, não sei se de armazenamento, mas incomodou pelo gosto de plástico, apesar da salinidade e brilho corretos.” Já a água 4, Schin, cresceu diante dos degustadores e foi festejada por todos. “Uma das melhores até agora. Correta, brilhante, ótima efervescência, refrescante, vai bem para o dia a dia e para acompanhar uma boa refeição”, relata Rodrigo. Ele completa: “Tem aromas evidentes, salinidade ok, corpo leve, equilibrada e persistência média.”
A água 5, Prata, também foi bem avaliada, mas ficou um degrau abaixo da Schin e teve comentários comedidos. “Olhar correto, no nariz é bem perceptível, salinidade correta e corpo médio, bom equilíbrio”, destaca Gabriela. A briga pelo primeiro lugar fi caria realmente entre a 6 e a 7, São Lourenço e Platina, respectivamente. A água São Lourenço, da Nestlé Waters, tem uma história de 125 anos e sua fonte é na cidade de São Lourenço, sul de Minas. Atualmente, o portfólio de produtos dessa marca reúne as garrafas de 300 ml, 510 ml e 1,26 l, nas versões com gás e sem gás, comercializadas somente no Brasil. A empresa não informou qual é o volume de água São Lourenço produzido na fábrica. Já a fonte da Platina fica em Águas da Prata, interior de São Paulo, em uma exuberante e preservada faixa da Mata Atlântica. Tem, assim como a São Lourenço, uma história rica e antiga, uma vez que iniciou as atividades em 1918. Entretanto, a fonte ficou inativa por um bom tempo até ser comprada em 2007 e reiniciar as atividades em 2014, com bastante êxito. Renato Frascino fez questão de destacar a qualidade da São Lourenço. “É perceptível o quão natural ela é. Legítima, tem originalidade, acidez e salinidade equilibrada, que denota algo muito positivo, com longa persistência. É a mais autêntica de todas”, diz. A água Platina, a última a ser degustada, conquistou os degustadores e surpreendeu. “Para mim, a que mais se destacou em todos os itens, sem dúvida”, diz Kleber. “Mais efervescência, aromas neutros, paladar equilibrado, boa acidez e salinidade leve.” Gustavo concordou. “Melhor água, superior. Mais corpo e equilíbrio. Tem características realmente marcantes.”
“Elas são bem parecidas, é preciso estar atento aos detalhes, à efervescência, persistência, corpo” Rodrigo Sepulveda
“Após essa degustação, estou contente por saber que a água brasileira está em um bom nível de qualidade” Kleber Thomé
“As águas seis e sete se completam em uma mesa” Gabriela Bigarelli
“No quesito águas gastronômicas, ainda falta corpo para atingirmos nível da Acqua Panna, San Pellegrino, Voss…” Gustavo Massa Beltrati
“Água é a primeira bebida que entra e a última que sai da mesa” Renato Frascino
Ranking – Por ordem de pontos
Gustavo |
Kleber | Renato | Gabriela | Rodrigo | Daniella |
TOTAL |
|
1. Platina |
96 |
75 | 88 | 100 | 72 | 87 |
518 |
2. São Lourenço |
93 |
65 | 86 | 80 | 87 | 88 |
499 |
3. Schin |
89 |
53 | 80 | 85 | 79 | 82 |
468 |
4. Prata |
82 |
55 | 70 | 85 | 84 | 85 |
461 |
5. Pura Font |
81 |
60 | 70 | 75 | 68 | 81 |
435 |
6. Minalba |
72 |
43 | 81 | 75 | 73 | 88 |
432 |
7. Crystal Vip |
73 |
32 | 60 | 65 | 55 | 85 |
370 |