Antonio Fagundes e seu filho Bruno dividem o palco
Parceiros na vida real e na profissional, Antonio e Bruno Fagundes voltam a dividir o palco na peça Vermelho, em cartaz no Teatro Tuca, em São Paulo.
Por: Malu Bonetto
Vista por aproximadamente 50 mil espectadores na primeira temporada paulistana, há quatro anos, Vermelho retorna para os palcos paulistanos e repete o sucesso de público. Um dos motivos, é claro, é a dupla de atores que comandam a peça: Antonio Fagundes e Bruno Fagundes, pai e filho na vida real e colegas de profissão. O premiado texto de John Logan (responsável pelo roteiro de O Gladiador, O Aviador, 007 Skyfall e 007 Spectre) se passa no final dos anos 50, quando o pintor Mark Rothko – líder do expressionismo abstrato – recebe uma alta quantia para pintar grandes painéis de um luxuoso restaurante em Nova York. Em seu ateliê, ele recebe, pela primeira vez, seu novo assistente, Ken, e a partir da pergunta “O que você vê?” (apontando para uma das pinturas em que trabalhava), inicia-se um eletrizante embate entre os dois.
Talento no DNA
A mãe de Bruno Fagundes é a atriz Mara Carvalho e nem ela nem o pai questionaram o filho sobre a decisão de seguir a mesma profissão deles. “Poderia ter sido pintor, pianista, mas foi a expressão de ser ator que tocou minha alma, e, aos 16 anos, resolvi estudar teatro. Amo televisão e cinema, mas infelizmente, nesses dois veículos, ficamos meio que à mercê do mercado e produtores de elenco, sem falar que existe um fator sorte envolvido, entre outras coisas. Você precisa ser chamado para testes para ter uma oportunidade. No teatro, descobri que poderia clamar pela minha autonomia e foi isso que me motivou a produzir. Me inquieta pensar que tenho que esperar ser chamado. Comecei a criar minhas próprias oportunidades, indo atrás de textos, arregaçando as mangas e produzindo. Descobri o poder realizador dentro de mim e não pretendo parar tão cedo. Mas estou 100% aberto a oportunidades diversas, tenho muita sede de trabalho”, conta Bruno, que, hoje, aos 27 anos, soma mais de dez peças de teatro, inclusive como produtor executivo. E foi justamente esse lado produtor que fez com que ele desse um intervalo de quatro anos em Vermelho. “Durante uma viagem a Nova York, Bruno assistiu à peça Tribos, se encantou e voltou para o Brasil com a ideia de montá-la. Descobrimos que os direitos de exibição aqui estavam acabando – ou nos associávamos a quem estava com os direitos ou teríamos que começar tudo do zero. Optamos por dar uma pausa em Verme-lho e começar Tribos, mas, no nosso íntimo, sentíamos falta de Vermelho”, conta Antonio Fagundes.
Parceria nos palcos…
Com 50 anos de carreira só no teatro, Antonio Fagundes diz que uma das coisas que mais admira em Bruno é sua disciplina, além da autoexigência. “Meu orgulho não é só ver meu filho em cena, mas ver que ele é um bom colega de profissão. Não tem coisa mais linda que crescermos juntos e caminharmos de mãos dadas na nossa profissão”, diz, todo orgulhoso do filho.
Em Vermelho, como são só os dois no palco, essa sintonia ca mais evidente. O segredo? Segundo Bruno, está em não dividir o palco, mas em multiplicar o palco. “Nos entendemos perfeitamente, tanto que um olhar apenas é suficiente para saber o que o outro está pensando. Esse trabalho não é de um ou de outro, é nosso!”.
A performance dessa dupla talentosa não é a única coisa que atrai os espectadores. É possível comprar ingressos especiais para conhecer coxias, camarim, visão do cenário do próprio palco, bate-papo e foto com os atores. A ideia de mostrar os bastidores de um espetáculo começou na década de 80, quando Antonio Fagundes subiu ao palco com Fragmentos de um Discurso Amo-roso. “É uma oportunidade única para quem quer conhecer a magia do teatro e acompanhar de perto o que vivemos antes de cada apresentação”, conta.
Mas essa não é a única opção de ter um bate-papo com os dois – após o final de cada apresentação, eles conversam com a plateia, contando curiosidades da montagem e da própria vida do pintor Mark Rothko. “Sempre gostei dessa ideia de conversar com a plateia depois do espetáculo, mas tive que parar de fazer isso porque não é todo elenco que gosta de ficar no palco mais meia hora, e nem sempre a conversa flui como queremos. Acho importante se comunicar com o público e transmitir informações que eles não são obrigados a saber, mas que ficam agradecidos por termos agregado”, conta Antonio Fagundes.
… e também nas telinhas
A parceria de pai e filho não acontece apenas nos palcos. Os dois trabalharam juntos na novela global Meu Pedacinho de Chão, exibida em 2014. Nela, Antonio interpretava Giácomo, e Bruno, o Dr. Renato, cuja interpretação lhe rendeu três prêmios como ator revelação de TV. “Eu já havia sido escalado para a novela antes mesmo de saber que meu pai faria parte do elenco. Na época, ele ainda gravava Amor à Vida e sua participação ainda era incerta. Quando nos cruzamos no núcleo de criação do Luiz Fernando Carvalho, ficamos muito surpresos e felizes. Além disso, nossos personagens eram amigos na trama. Foi mais um de nossos encontros felizes na profissão, uma experiência maravilhosa”, conta Bruno.
Um desabafo de mestre
Com uma carreira sólida também no cinema, onde fez mais de 40 longas-metragens, Antonio Fagundes continua tendo o palco como sua principal paixão. “Me dá urticária quando ouço alguém dizer que os ingressos de teatro são caros. Um simples cafezinho custa R$ 8 e você não pode gastar o dinheiro de dez cafezinhos para prestigiar o trabalho de um ator? Não é questão de ser caro, é questão de gostar e ser interessado, compreender a linguagem e saber o que está sendo dito… Mesmo porque, é normal você se afastar do que não entende, e teatro, infelizmente, não é mais disciplina nas escolas. Então, se você não aprende a gostar em casa ou com os amigos, por que vai se interessar sozinho? Pagar R$ 750 no MMA não é caro, pagar R$ 80 em uma pizza não é caro… É tudo questão de interesse! O produto tem um preço, geralmente condicionado ao que ele custou, mas o teatro é o único produto do Brasil que não segue isso – você está sempre devendo, e é o interesse da plateia que faz as pessoas acharem se a peça é cara ou não.”
Vermelho
Teatro Tuca – Teatro da PUC.
R. Monte Alegre, nº 1024, Perdizes – São Paulo