Marcelo Serrado: Gatão de meia idade
A menos de seis meses de completar 50 anos de idade (ele faz aniversário em fevereiro), o ator Marcelo Serrado roubou a cena como o deputado Carlos Eduardo, na novela Velho Chico, da Rede Globo.
Por: Malu Bonetto
Carioca da gema, Marcelo Serrado começou sua carreira em 1987, na novela Corpo Santo, da TV Manchete. Dois anos depois, estreou na Rede Globo, onde permaneceu por 15 anos. Em 2005, decidiu não renovar seu contrato com a emissora carioca para atuar em Mandrake, série produzida no Brasil pelo canal HBO Brasil. Na sequência, assinou contrato de três anos com a Record, onde atuou nas novelas Prova de Amor e Vidas Opostas. Paralelamente a tudo isso, ainda estrelou alguns espetáculos teatrais, como o muscial Tom & Vinícius, em que interpretou Tom Jobim, e filmes como Malu de Bicicleta. Mas foi em 2011, na pele do Crô, na novela Fina Estampa, que Serrado conquistou o público e a crítica de vez. Quem não se lembra dos bordões “Me deixou viúva”, “Ovulei” e “Minha Santa Madonna de La Isla Bonita!” do mordomo e fiel escudeiro da Tereza Cristina (Christiane Torloni)? Desde então, ele tem emendado um sucesso no outro e mostrou que é realmente um grande ator ao viver o deputado Carlos Eduardo, na novela Velho Chico. Confira, a seguir, os melhores trechos da entrevista que o ator concedeu a Go’Where Luxo durante os intervalos das gravações finais da novela.
GW: Carlos Eduardo, seu personagem em Velho Chico, era um político de índole duvidosa. Como foi a construção desse personagem?
MS: Durante três meses fiz laboratório com o diretor Luis Fernando Carvalho no galpão que ele tem na Rede Globo. Com a ajuda dos atores e dos preparadores, pude ir bem fundo na essência de Carlos.
GW: E você, Marcelo, é ligado em política?
MS: Sou, mas me desencantei com ela. Passei três dias no Congresso vendo o que rolava por lá como pesquisa para o meu personagem. Lá é um retrato do nosso país, nossos representantes são um pouco de nós, e confesso que não gostei muito do que vi por lá.
GW: Esse descontentamento tem a ver com as críticas e os comentários que sofreu ao se expor nas redes sociais a favor do afastamento de Dilma Rousseff?
MS: Essa polarização é burra e não nos leva a lugar nenhum. No dia que perceberem que não há dois lados, será tarde demais. Eu era contra o governo passado, mas não significa que seja a favor desse. A meu ver, estão todos, diria que 90%, no mesmo barco, todos abraçados numa onda de escândalos. E sou a favor de uma reforma política total. Acho que é preciso adotar medidas anticorrupção e acabar com o foro privilegiado. Mas não me manifesto mais porque essas agressões são desnecessárias e não me interessam. Tenho mais o que fazer, pois a internet é uma terra de ninguém, onde as agressões não têm rosto. Como dizia o escritor Umberto Eco: “A internet deu voz aos idiotas”. Acho que essa onda de ataques nas redes sociais é coisa de gente que não tem o que fazer. Deveriam ler um livro, estudar e parar de ficar tuitando.
GW: Então, vamos mudar para um assunto mais leve: o que mudou no Marcelo pai da Catarina, de dez anos, para o Marcelo pai dos gêmeos Guilherme e Felipe, de três anos?
MS: É uma mudança total, é A e Z. Sou um cara sortudo, pois meus filhos são nota 10 e sou muito ligados, a eles. Procuro sempre brincar com o que eles gostam e curtir ao máximo nossos momentos em família.
GW: Ano que vem, você fará 50 anos, e dizem que esse é um marco na vida. Alguma expectativa?
MS: Sou um sujeito normal como todos os outros, mas, por ser aquariano, gosto de ficar no mundo da lua, às vezes. E só quero continuar trabalhando e com saúde.
GW: São 30 anos de televisão, como descobriu sua veia artística?
MS: Antes de ser ator, sou músico. À noite, nos barzinhos, tocava gaita – até fui professor de gaita. Também toco piano e violão. Mas foi nos anos 80, por ser muito tímido, que fui fazer teatro para tentar amenizar essa timidez e, aos poucos, fui vendo que era isso que queria para minha vida.
GW: O que diria que mudou nas novelas nesses anos?
MS: A tecnologia e a rapidez das histórias. As novelas estão mais dinâmicas, mas confesso que eu amava as novelas antigas como Roque Santeiro e Vale Tudo.
GW: Com tantos personagens, é possível ter um inesquecível?
MS: O Crô, de Fina Estampa, e o delegado Nogueira, da novela Vidas Opostas, foram dois momentos marcantes na minha vida. Tanto que, mesmo depois de cinco anos da novela, ainda recebo o carinho do público por causa do Crô.
GW: Em diversos papeis, você teve seu lado cômico explorado, até chegou a fazer stand-up…
MS: Ainda faço stand-up, sempre achei incrível estar sozinho com uma plateia com um microfone apenas. Aos poucos fui fazendo esse exercício e aprendendo muito com os colegas que fazem stand-up, e hoje posso dizer que me sinto à vontade, inclusive no meu solo O ATORmentado, que está em cartaz pelo Brasil.
GW: Saiu na mídia que você ficou chateado ao ser substituído no longa que irá retratar a vida do maestro João Carlos Martins. Pretende prestigiar o filme assim mesmo?
MS: Fui chamado pelo próprio João, fizemos o programa do Serginho Groisman (Altas Horas) juntos, toquei na sala São Paulo com ele e foi pela mídia que soube que não estava mais no elenco. Ele não foi ético, mas já foi. Desejo sucesso!
GW: Com o fim da novela Velho Chico, quais os próximos passos na carreira?
MS: Em março, estreio meu monólogo Os Vilões de Shakespeare, peça inglesa muito interessante. Volto para a televisão na novela das sete, Pega Ladrão, com estreia prevista para abril de 2017; e só posso adiantar que será divertidíssima. E, em 2018, farei a novela das 21h do Aguinaldo Silva.