Diogo Vilela e Sylvia Massari
Depois de grande sucesso no Rio, o musical “Sim! Eu aceito!” estreou em São Paulo no mês passado com casa cheia e também já está arrebatando as plateias. A montagem é a primeira fora dos Estados Unidos de um clássico da Broadway, “I do! I do!”, de 1966, com texto de Tom Jones. No palco, Diogo Vilela e Sylvia Massari vivem os protagonistas dessa história sobre casamento, amor e os percalços de uma vida a dois. Em entrevista a Go Where, eles contaram o que pretendem com esse espetáculo.
Por Lilian Anazetti Pimentel
A dupla Diogo Vilela e Sylvia Massari já foi aplaudida com louvor em outras duas ocasiões – quando estrelaram Cauby, Cauby (2006) e a A Gaiola das Loucas (2010). Este ano, juntos novamente, sobem ao palco para viverem marido e
mulher, no espetáculo Sim! Eu aceito – O musical do casamento. E a sintonia dos dois, mais uma vez, já se comprova um sucesso. Dirigidos por Cláudio Figueira, que também assina a coreografia, Diogo e Sylvia protagonizam uma história de amor que evolui por cinco décadas. A trama começa com o casamento de Michael e Agnes, no fim do século 19, e chega à década de 1940, passando por eventos como o nascimento do primeiro filho, ascensão profissional, eventuais traições, o casamento dos filhos e o envelhecimento a dois. As passagens de tempo são pontuadas pela mudança de figurino:
Os atores fazem oito trocas de roupa no total, incluindo a colocação de perucas. No mais, o cenário é sempre o mesmo. “A história fala de afeto, de relações, de todas as mazelas que o amor pode trazer. O tempo histórico não é muito ressaltado na peça, mas, sim, o tempo humano, as crises”, diz Diogo. Para ele, esse é um assunto que não envelhece. “São discussões bem atuais. As pessoas se cutucam na plateia, chamam a atenção do parceiro”.
O casamento
E puxando o assunto para a vida real, ele tem a sua própria opinião sobre o que é preciso para um casamento seguir firme ao longo dos anos. “Agora que já tenho bastante experiência de vida, vejo as discussões da peça como uma reflexão. O que importa é você saber quem é o outro, e o outro saber quem é você, porque essa é a maior forma de companheirismo que existe. Respeitar o limite alheio”, diz ele.
Sylvia acredita que o amor verdadeiro acaba perdoando tudo. “Não existe um casamento sem atrito, mas a convivência e a compreensão fazem com que tudo dê certo, que um entenda o lado do outro”. Na peça, ela vive uma mulher submissa ao homem. “É uma época onde ela precisa seguir as regras impostas pelo marido, viver à sua sombra. A angústia da mulher daquela época era ver o tempo passando e ela se realizando apenas como mãe e esposa. Tem uma cena em que a personagem diz ‘a vida inteira eu fui mãe, fui esposa, a vida inteira eu fui vista pelos olhos dos outros; tem hora que não sei mais quem eu sou!’ Hoje, a mulher não tem mais essa angustia, mas um cansaço, já que acumulou várias funções.”
O preparo
A atriz, que também está na novela Sete Vidas, da Rede Globo, diz que esta é uma das personagens que mais lhe exigiu preparo físico. Não à toa: afinal, é o único espetáculo da Broadway feito para dois atores. “A preparação desse espetáculo é mais física do que qualquer outra coisa. Exige muito da gente. Faço ginástica, natação, tenho uma alimentação supernatural, não como carne, e tenho a sorte de não engordar, isso ajuda bastante. Acho que tenho uma agilidade não compatível com a minha idade”, diz Sylvia.
“Sem dúvida é um trabalho que exige muito da performance dos atores. Os americanos são muito voltados pra isso! Aí, tivemos de traduzir essas performances na personalidade das nossas personagens. Isso foi o mais fascinante”, diz Diogo, que acaba de completar 57 anos e, num momento de reflexão sobre sua própria vida, diz que adora o ócio criativo: “Sou uma pessoa que pensa muito, gosto de estar sozinho, gosto do silêncio, adoro calma quando não estou
trabalhando”.
Depois de 45 anos de carreira, trabalhar, para ele, é sinônimo de renovação. “A nossa profissão é um processo de metamorfose, onde o artista, por meio da sua vivência emocional, coloca tudo o que pode no personagem. Pra mim, essa é a grande satisfação de ser ator: a isenção, poder viver uma coisa que você não é. A doação também é uma recompensa. É uma profissão para pessoas que têm uma obsessão pelos sentimentos”.
O teatro
E quando o assunto é teatro, ele vai além. “Estar em cena é um processo existencial de vida para mim. Já a televisão é para eu me sustentar, para estar perto dos colegas; não trabalho na televisão percebendo-a intelectualmente, mesmo já tendo feito coisas maravilhosas”, diz ele. Para Sylvia, o teatro também é uma paixão. “São 48 anos de carreira e estar no palco é a minha praia. Acho que o teatro tem uma magia própria, tem sempre uma coisa nova a cada apresentação. E
acho que ele vai muito bem, principalmente depois que os musicais começaram a chegar ao Brasil. Sou otimista, acredito que ainda vamos continuar firmes e fortes por muitos anos”.
Diogo acredita que hoje em dia o teatro está em busca da imagem. “Antes, nos pós-guerra, as questões levadas ao teatro eram muito complexas. Hoje em dia, o mundo não é complexo, ele é raso; e o teatro não pode ser raso, então fica sendo imagético”. Assim, com belíssimo visual e música de altíssima qualidade, os musicais encantam o público brasileiro!
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