Deborah Seco: Uma garota de sorte
E de muito talento! Com quase 20 anos de carreira, a atriz brilha absoluta na televisão e, para deleite dos fãs, também se destaca no cinema, como protagonista do longametragem Boa Sorte
Por Malu Bonetto
Quem não se lembra da caçula Carol em Confissões de adolescente? Pois é, praticamente 20 anos se passaram, Deborah Secco cresceu, se tornou uma das mulheres mais sexies da televisão e hoje esbanja talento como a aeromoça Inês, na novela Boogie Oogie, e como a soropositiva Judite, no longa-metragem Boa Sorte. Baseado no conto Frontal com Fanta, que faz parte da coletânea Tarja Preta, de Jorge Furtado, Boa Sorte recebeu os prêmios de melhor filme (pelo júri popular) e melhor direção de arte no Festival de Paulínia de 2014 e também participou da Mostra São Paulo.
O longa começa quando o jovem João, de apenas 17 anos, é internado pela família numa clínica de reabilitação. Inexperiente, tímido e viciado em um remédio controlado, ele acredita piamente que, ao tomar um comprimido psicotrópico com refrigerante, fica invisível. Na clínica, ele logo se torna amigo de Judite, uma mulher de pouco mais de 30 anos, que já experimentou de tudo na vida, já tomou todos os tipos de drogas, contraiu o vírus da Aids e, por isso, está condenada à morte. Juntos, eles resolvem curtir e aproveitar o sentimento que está nascendo.
“A Judite me escolheu”
Deborah já havia trabalhado com o roterista, diretor e autor Jorge Furtado nos filmes Meu Tio Matou um Cara e Caramuru – A Invenção do Brasil, e foi numa reunião com os amigos na casa dele que ela conheceu o conto Frontal com Fanta. “Como estava na fase de questionar o amor, lendo a primeira cena – a morte da Judite – já decidi que eu queria fazer esse conto. Na hora quis comprar os direitos dele, mas não estavam mais disponíveis.” Praticamente um ano e meio se passou, Deborah não conseguia esquecer a Judite e foi através de uma amiga que ela ficou sabendo que Carol Jabor filmaria o conto. “Desde o momento em que eu li o conto, sabia que eu era a Judite. Aquele conto nunca saiu da minha cabeça, aquele momento não saiu de mim, e, quando eu soube que iriam filmar, era como se eu tivesse voltado no tempo. Logo mandei um e-mail para a Carol pedindo que fizesse um teste comigo e, antes mesmo de ela confirmar que eu faria o filme, comecei a pesquisar. Esses dias reli os e-mails e confesso que foi algo meio obsessivo”, relembra Deborah.
“Ela é apaixonante”
Seduzida à primeira vista, ou melhor, à primeira lida, por Judite, a atriz conta que viver uma personagem que é totalmente seu oposto foi o máximo. “Não sou drogada e nunca tomei remédios, só para emagrecer, mas faz parte, confesso”, diverte-se. Para pesquisar a fundo a questão das drogas e o comportamento dos portadores do vírus HIV, ela foi ouvir médicos e pacientes. “Eu queria entender um pouco mais sobre esse universo, queria chegar no olhar deles. Ouvi de um
médico uma frase que acho que nunca vou esquecer: ‘quando eles descobrem a doença, descobrem que são fortes. Descobrem que a guerra já estava perdida desde o começo’. Descobri que o olhar deles é um olhar de força, de paz. Eu achava que a Judite era alguém que lutava pela vida, mas descobri que ela não lutava porque sabia que era luta perdida, mas tinha muita força, era uma mulher com vida. O oposto do que eu imaginava! E eu queria que ficasse bem claro que ela é uma mulher apaixonante, uma mulher que vale a pena se apaixonar e até arriscar a vida.”
“Estava na minha pior forma física”
Não foi só psicologicamente que Deborah se preparou para Judite. Para mostrar a fragilidade e a personagem debilitada, ela emagreceu praticamente 12 kg em três semanas. “As pessoas deveriam me olhar e ver uma pessoa fraca, ao mesmo tempo eu tinha que interpretar essa alma forte. Por isso foi tão importante perder peso. Eu estava na minha pior forma física, mas fiz da personagem a mulher mais bonita da minha carreira.”
Hoje, depois da Judite, sou focada no agora, quero me divertir mesmo
porque a única certeza que temos é o agora. Quero um amor de
verdade, um amor que faz você ser diferente. Quero aquele que faça a
vida valer a pena
Descrever a Judite é uma tarefa complicada para a atriz, mas ela a resume com muito carinho e admiração. “Ela foi um pouco de tudo, experimentou um pouco de tudo. Sem dúvida, é uma pessoa intensa, que viveu profundamente,
inteiramente, loucamente, e agora vive a paz de quem já não tem mais o que fazer aqui, já esgotou todas as possibilidades. Ela traz uma forma de ver a vida com calma e serenidade. Talvez, se todos nós tivéssemos essa consciência, poderíamos ser bem mais felizes. A Judite é uma mulher inteira, tanto para experimentar a loucura quanto a calma, tanto para ter coragem como para ter medo. Ela tem uma força que eu, Deborah, gostaria de ter. E acho que fazê-la foi a coisa mais certa que fiz na vida. Como atriz, até hoje não tive um trabalho tão intenso, profundo e que tenha me feito tão bem.”
“Sair da personagem foi a parte mais difícil”
Apesar de as filmagens terem durado apenas 28 dias, a entrega à personagem foi tanta que, por um momento, Deborah achou que estava doente. “Eu quis tanto viver a Judite que confesso que ela ficou quase um ano em mim.
Cheguei a me internar algumas vezes achando que estava doente e o médico repetia que eu estava ótima e que era apenas reflexo da busca e da entrega que eu tanto procurei. Deixar a Judite ir embora demorou quase um ano e foi talvez
o ano mais difícil da minha vida, ela é tão apaixonante que eu queria ir embora com ela.”
“Sermos genuinamente amados por alguém é algo raro”
Na escolha do seu parceiro de elenco, João Pedro Zappa, a atriz também teve muita importância. “Logo que conheci o João, trocamos olhares e um abraço. Percebi na hora que ele deveria ser o João do filme. Costumo dizer que minha Judite se apaixonou pelo João do João logo de cara”. A sintonia entre os dois é tão grande que, segundo a própria atriz, foi uma experiência que com certeza fará com que eles se amem para sempre, para o resto da vida. “Conseguimos
a intimidade emocional e física que era necessária para o filme. A história mais importante a ser contada era o quanto Judite tinha a oferecer de vida para ele, e o quanto ela aprendeu com ele. Acho que a Judite foi amada de verdade pela primeira vez por ele, então ela vai embora com um grande presente. Sermos genuinamente amados por alguém é algo raro, e talvez seja a melhor coisa que podemos levar dessa vida. Ela, no fim, consegue isso, e ele talvez viva a vida
inteira sem ter um amor como o dela. Essa história de amor salva os dois, um salva o outro. De certa forma, Judite continua vivendo em João graças a esse amor e essa experiência que eles compartilharam.”
“A única certeza que temos é o agora”
Deborah não cansa de dizer que sua vida mudou completamente depois que conheceu a Judite. “Ela me ensinou o poder do agora, do hoje. Eu era presa ao que eu queria ser, construir, ao que as pessoas iriam pensar, se o casamento iria dar certo. Hoje, depois da Judite, sou focada no agora, quero me divertir mesmo porque a única certeza que temos é o agora. Quero um amor de verdade, um amor que faz você ser diferente. Quero aquele que faça a vida valer a pena”.