De olho no luxo! Fernanda Hellmeister
Bastam alguns segundos observando uma peça de grifes como Chanel, Louis Vuitton ou Hermès para saber se está diante de uma cópia ou não. Sócia do escritório Hellmeister & Hellmeister Peritos Associados, fundado por seus pais há cerca de 40 anos, Fernanda Hellmeister é figura requisitada sempre que alguém precisa checar a autenticidade de um produto, fato cada vez mais comum com o aumento das compras feitas em brechós de luxo. Aqui, ela fala sobre esse trabalho minuncioso e dá dicas de como checar e se uma bolsa é realmente verdadeira.
Por: Cibele Carbone
GW: Quais cuidados devemos ter ao comprar algo em um brechó de luxo?
FH: É sempre bom verificar se não existe alguma denúncia relacionada ao brechó na internet, nas mídias sociais e no Reclame Aqui. Outra dica é verificar se o brechó tem diversas bolsas de uma determinada marca ou uma quantidade grande de um modelo específico. Se tiver, pode desconfiar. Ninguém tem estoque da mesma peça em brechó! Os brechós sérios trabalham com desapegos. E ninguém desapega de lotes do mesmo produto.
GW: Existe modismo na falsificação?
FH: Tem. Hoje em dia, as marcas em alta na falsificação são Yves Saint Laurent e Valentino, por suas dicas de autenticidade não serem conhecidas pelos leigos. A maioria das pessoas já sabe alguns pontos que devem ser observados na compra de uma Louis Vuitton usada, como a cor do couro da alça. Mas, fora modismos, a Louis Vuitton é uma das marcas mais falsificadas do mundo, seguida da Chanel e da Hermès.
GW: As marcas brasileiras são alvo de falsificação ou apenas as grifes internacionais?
FH: Acho que esse é um “privilégio”mesmo das marcas gringas. A única brasileira que tenho conhecimento que é copiada é a Victor Hugo, que ainda é objeto de desejo e associada ao luxo.
GW: Ao bater o olho, já sabe se a peça é fake?
FH: Ah, já sei… Filho de peixe peixinho é. Meus pais são peritos, e acho que nasci com esse dom. Sou extremamente observadora. E trabalho como perita há quase 12 anos.
GW: Fez algum curso com as grifes para saber todos os detalhes das peças originais?
FH: Cada marca tem seus padrões técnicos e uma espécie de guia de autenticidade. Estudei a fundo suas histórias, fiz várias análises comparativas das peças.
GW: Teve algum produto que sentiu mais dificuldade para comprovar que era cópia?
FH: Teve uma Neverfull, da Louis Vuitton, que me deu trabalho. Ela tinha todas as características de autenticidade, mas alguma coisa me dizia que não era original, instinto mesmo. Aí fui verificar novamente o date code. Ele é como se fosse o RG da bolsa e é composto por duas letras e quatro números: o segundo e o último número determinam seu ano de fabricação. Só consegui pegar que essa Neverfull não era original por conta do ano de fabricação, que dizia que ela tinha sido fabricada em 1939. Mas a Neverfull foi lançada em 2007!
GW: Além de perita, você é dona de um brechó de luxo há cinco anos. Por que resolveu abrir o Closet Care?
FH: Eu queria vender uma bolsa que tinha e fiz um post no Insta-gram, no meu perfil. Uma mulher de Ribeirão Preto, que nem me conhecia, mandou mensagem querendo comprar minha bolsa. Vendi. Depois, coloquei outras peças minhas e da minha mãe para vender, e as coisas foram indo. Até que as pessoas começaram a me pedir para vender para elas também. E foi assim que tudo começou.
GW: Como seleciona a origem das peças que revende?
FH: Elas devem estar em excelente estado de conservação, livre de avarias, odores, manchas, riscos de caneta… E, obviamente, devem ser originais.
GW: Já te ofereceram um objeto falsificado na Closet Care?
FH: Não, até porque as pessoas sabem que sou perita. O que já aconteceu é de me procurarem para vender uma bolsa, mas a pessoa só queria mesmo saber se o produto era verdadeiro ou não. Ela me enviou o produto para avaliação e, quando eu disse que gostaria de revender na Closet Care, mudou de ideia e pediu o produto de volta. A pessoa queria uma perícia de graça… (risos)
Perícia express
As bolsas da Louis Vuitton e da Chanel são as mais falsificadas no mundo. Por isso, a perita de luxo Fernanda Hellmeister revela algumas dicas de autenticidade dessas marcas.
Chanel
- O cartão de autenticidade tem numeração em baixo relevo. A impressão da numeração e as molduras douradas das bordas (frente e verso do cartão) são feitas com tinta à base de ouro, ou seja, elas não mudam de cor conforme a incidência de luz.
- A impressão em forma de selo que se encontra no canto superior direito do cartão é holográfica e, conforme a incidência de luz, revela o logo da marca.
- Toda bolsa tem o selo de autenticidade em seu interior, com o número de série da peça. Ele apresenta micropigmentos dourados e é impresso em suporte de papel faqueado. A qualquer tentativa de remoção, ele se desfaz.
- O couro utilizado nas bolsas é o Lambskin (cordeiro), liso e supermacio, e o Caviar (bezerro), granulado e mais resistente.
Louis Vuitton
- O couro é de excelente qualidade e escurece a curto prazo.
- A logomarca é gravada nos fechos.
- Há um date code no interior da bolsa com duas letras e quatro números: as letras identificam o local de fabricação, e o segundo e o último números vão identificar ano da fabricação.
- A marca não tem cartão de autenticidade.
- As peças são produzidas apenas na Alemanha, na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos e na França.
- As bolsas originais são costuradas, jamais coladas.