A flor da pele…
Sensual, romântica, enigmática, misteriosa, cheia de vida… Cleo consegue ser mil mulheres em uma.
Atualmente, na minissérie O Caçador, ela deixa vir à tona um lado mais frágil.
Nesta entrevista exclusiva, ela conta como lida com todas essas vertentes para construir cada personagem
Fotos André Nicolau
Por Malu Bonetto
Styling Luciana Novis e Cris Pinheiro Guimarães
Make/Hair Erica Monteiro
Filha de artistas, Cleo Pires relutou em se tornar atriz e aceitou como “um quebra-galho”, como ela mesmo diz, o convite para participar da minissérie Memorial de Maria Moura, em 1994. Quase dez anos depois, ela encontrou Monique Gardenberg, diretora do filme Benjamin, num banheiro de cinema, e recebeu o convite para estrelar o filme. Cleo encarou o desafio e venceu o Festival do Rio como melhor atriz. Esse, talvez, tenha sido o grande empurrãozinho que ela precisava para decidir seguir a carreira de atriz. De lá para cá, já estrelou mais de dez trabalhos na televisão e cinco peças de teatro. E agora, aos 32 anos, aparece como a frágil Kátia, em O Caçador. A personagem, que manterá um caso com o cunhado – interpretado por Cauã Reymond –, será bipolar e promete, segundo a própria atriz, fazer as pessoas pensarem e refletirem sobre frustrações e medos escondidos.
Kátia será uma bipolar viciada em remédios e em bebida. Como se preparou para interpretá-la?
Ela é uma mulher intensa, com altos muito altos e baixos muito baixos, e isso a afeta profundamente em tudo à sua volta. Para construir meus personagens, costumo usar algumas coisas que despertam a emoção
que está dentro de mim, muitas vezes dormente. No caso da Kátia, assisti várias vezes aos filmes Betty Blue (que conta a história de uma mulher jovem e bela, dona de um temperamento imprevisível e instável) e Uma Mulher Sob Influência (uma mulher com desequilíbrio emocional e depressão é hospitalizada pelo marido). Eles viraram meus filmes de cabeceira e fiquei completamente obcecada pela Cecilia Dalle e pela Gena Rowlands
(protagonistas dos filmes, respectivamente).
Como você acha que o público vai reagir ao envolvimento amoroso da personagem com o cunhado?
Não sei, mas acho que isso não é o mais importante da trama. O caso dela com o cunhado é uma extensão de um drama muito pessoal e profundo que ela não acessa. Mas, é claro, nem todo mundo está disposto a humanizar as histórias nem em suas próprias vidas, imagina a de um personagem. Acho que as pessoas gostam de apontar o dedo e julgar os erros dos outros. É como se o problema na vida do outro fosse o bode expiatório perfeito para as frustrações e medos escondidos de cada um. Imagina então um personagem… Quanto à bipolaridade da personagem, acho que todo mundo tem seus altos e baixos, mas o bipolar tem altos muito altos e baixos muito baixos.
Você tem algo em comum com ela?
Eu acredito que uma pessoa tem todas as emoções e sentimentos dentro de si. Ou eu já passei por algum momento em que posso identificar a minha emoção com a emoção da personagem, ou posso imaginar aquilo através da minha própria sensibilidade. Todo mundo já sofreu, todo mundo já se sentiu doído, e quando uma personagem pede isso, você coloca cores mais fortes nesse seu lado para interpretar essa personagem específica.
Como o seu namorado (o ator Rômulo Arantes Neto), está reagindo às cenas de sexo com o Cauã Reymond?
Ninguém gosta de passar por isso, eu acho. Mas isso não é o que rege nossa relação. O ciúme é algo bastante pontual e amoroso no nosso caso. E queremos, sim, ser parceiros.
“Eu acredito que uma pessoa tem todas as
emoções e sentimentos dentro de si”
Li na internet que para interpretar a Kátia, você mudou seu corpo e se tornou adepta do crossfit. É verdade isso?
Não foi isso que eu disse. Eu disse que tentei ficar mais disciplinada, me exercitar mais, comer melhor… Mas sou muito hedonista e nem consegui emagrecer o tanto que eu achava que seria bom para a Kátia.
O crossfit veio depois e não foi para a preparação da personagem.
Você tem algum cuidado especial para estar sempre bela?
Eu gosto de beleza e harmonia. Sou libriana e beleza não passa batido para mim. Ao mesmo tempo, não sou de muito fru-fru. Gosto de estar bonita, mas sou simples nesse quesito. Aposto na alimentação e exercício, não tem mistério.
Lurdinha, em América, a Surya, em Caminho das Índias, e a Bianca, em Salve Jorge, todas essas personagens abusavam da sensualidade. E você, no dia a dia, também é assim?
Nunca me incomodei em interpretar personagens sensuais, já no dia a dia acredito que a sensualidade está no momento, numa sensação
Vale tudo pelo personagem?
Esse tudo muda a cada momento, a cada personagem, a cada trabalho.
É um julgamento que só da pra fazer na hora.
Seus olhos são superexpressivos. Algum cuidado específico com a região?
Eu mesmo tiro as minhas sobrancelhas e adoro maquiagem para realçar essa região.
Toda mulher sonha em mudar algo no corpo. E você?
Cada dia, eu implico com uma coisa, mas nada grave. Acho que toda mulher deve ser meio assim.
“Acho que as pessoas gostam de apontar o dedo e julgar os erros dos outros.
É como se o problema na vida do outro fosse o bode expiatório perfeito para as frustrações e medos escondidos de cada um”
Seus pais e seu irmão cantam. Qual sua ligação com a música?
A música é algo forte para mim, eu sempre quis fazer parte disso e desenvolver isso em mim. Eu gosto de cantar e escrevo, mas não sei compor. Não sei o que vai ser disso… vamos ver.
Você estreou em 1994 na minissérie Memorial de Maria Moura, interpretando sua mãe quando jovem. Como foi essa estreia?
Não era uma estreia para mim. A Denise Saraceni, diretora da minissérie, precisava de alguém para o papel e eu quebrei um galho. Mesmo porque eu não queria ser atriz.
Então foi por isso que houve um intervalo de quase dez anos para você atuar novamente (ela protagonizou o filme Benjamim, em 2003)?
Eu não queria ser atriz. Eu não estava trabalhando nem estudando ou me preparando para isso. Estava vivendo a minha vida.
Essa história de que você foi convidada num banheiro de cinema pela Monique Gardenberg para estrelar Benjamim é verdade?
É verdade. Eu não tinha feito nenhum trabalho, eu não era atriz. Ela me quis por outros motivos, uma visão própria dela.
Acredita em destino?
Acredito em destino, mas não em coincidências.
“Eu gosto de beleza e harmonia. Sou libriana e
beleza não passa batido para mim”
Para finalizar, quem é Cleo Pires no dia a dia?
Quando eu descobrir, eu te falo…