A beleza do simples nos móveis do designer Fernando Jaeger
Conhecido por suas peças com traços limpos e de altíssima qualidade, o designer de móveis Fernando Jaeger é, sem dúvida alguma, um dos responsáveis por aproximar o dia a dia dos brasileiros às peças de design.
Por: Cibele Carbone
Nada de traços rebuscados e formas esquisitas. As criações do designer de móveis Fernando Jaeger, 61 anos, possuem linhas harmoniosas e que convidam ao toque. É aquele tipo de peça que nos dá vontade de ter em casa. São bonitas e funcionais, não foram feitas apenas para enfeitar o ambiente. Talvez, esses se-jam um dos principais motivos do sucesso desse gaúcho de Santa Cruz do Sul, que já soma 38 anos de carreira e inúmeros prêmios pelo reconhecimento do seu trabalho. “Necessidade e harmonia andam lado a lado”, comenta Fernando, que já chegou a ter 65 produtos criados por ele sendo vendidos na rede de lojas Tok Stok, de quem foi parceiro ao longo de 15 anos
Casado com Yaskara, que é arquiteta, e pai de três filhos – Felipe, Marina e Téo –, Fernando deixou seu lado empreendedor falar mais alto e abriu seu próprio showroom, em 1994, com uma proposta inovadora: fazer móveis de design, com excelente qualidade e um preço acessível. No começo, inclusive, ele chegou até mesmo a atender alguns clientes, o que lhe ajudou a entender melhor o seu público consumidor. Suas peças, atualmente, podem ser encontradas no Fernando Jaeger Atelier – são duas lojas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro – e no FJ Pronto para Levar! – que também possui três pontos de venda nessas mesmas cidades.
O atual cenário econômico brasileiro afetou um pouco os negócios, mas ele aproveitou para apostar em um novo nicho: o de móveis corporativos. “A gente viu que a venda no showroom, para o consumidor final, deu uma retraída. Mas a gente cresceu muito no mercado corporativo, na venda de mobiliário assinado para empresas, restaurantes e hospitais – entre eles Albert Einstein e Rede D’Or. Esse crescimento se deu porque teve muita substituição dos móveis importados, que ficaram muito caros, pelo produto nacional. E a gente tem a capacidade de desenvolver os móveis de acordo com a necessidade de cada cliente e dentro de um valor que caiba no orçamento deles”, co-menta Fernando sobre essa nova empreitada. Confira os melhores trechos do bate-papo com o designer.
GW: De onde surgiu seu interesse pelo universo do design?
FJ: Quando criança, gostava muito de desenhar e, como eu queria ser piloto, fazia aviões. Depois, na adolescência, passei a amar e desenhar motos… Na verdade, eu gostava de desenhar produtos. Quando me mudei do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro, aos 18 anos, descobri que tinha a profissão de designer de produtos durante o cursinho pré-vestibular. Na época, a faculdade se chamava Desenho Industrial.
GW: E como entrou para a área de móveis?
FJ: O mobiliário foi um acaso na minha vida… Enquanto eu estava na faculdade, todo mundo falava que não tinha mercado de trabalho, o que era uma verdade. Mas olha como são as coisas: eu me formei e logo uma semana de-pois saiu um anúncio nos classificados de um cara que es-tava abrindo uma indústria de móveis contemporâneos, tubulares, e lá fui eu para o subúrbio do Rio mostrar meus trabalhos da faculdade e consegui o emprego. O legal é que eles queriam concorrer com os móveis da linha Innovator, da Tok Stok, mas não queria cópias… E eu comecei a desenhar esses móveis, e fiz muito mais: ajudei a mon-tar o layout da fábrica, fui para Santa Catarina comprar os equipamentos, a especificar os tecidos, e isso foi muito engrandecedor. Como designer, cresci dentro de uma fábrica, vivenciando todas as dificuldades que existem na profissão, da concepção até a produção dos móveis.
GW: Foi seu primeiro contato com esse universo, né?
FJ: Quando o dono da fábrica me entrevistou, ele perguntou se eu entendia alguma coisa sobre móveis, e eu disse que não, mas que antes de começar a desenhar, iria pesquisar e ler tudo sobre o assunto. Aí um dia, depois de algum tempo, perguntei por que eu tinha conseguido aquele emprego e ele disse que gostou da minha sinceridade… E também porque eu era baratinho (risos)
GW: Quais as principais características das suas peças?
FJ: Uso vários materiais, mas gosto muito de madeira natural. Quando a gente faz uma mesa de madeira, jamais vamos ter uma igual a outra, e é isso que é lindo, é um produto exclusivo. Também faço muito uso da madeira de reflorestamento, como o eucalipto – eu fui um dos pioneiros em usar eucaliptos em móveis, ele era muito usado para fazer celulose ou carvão.
GW: Ter nascido em uma cidade pequena do Rio Grande do Sul influenciou seu trabalho?
FJ: Acho que sim, essa coisa do uso racional dos materiais da natureza. Sempre tive essa preocupação na minha cabeça, a da sustentabilidade, de usar madeira de reflorestamento.
GW: Consegue se lembrar da sensação que teve ao ver a sua primeira peça pronta?
FJ: Lembro até hoje! Foi a linha de móveis tubulares coloridos com cadeira, mesa! Foi como se um filho tivesse nascido.
GW: Sente essa emoção ainda hoje, depois de tantos anos de carreira?
FJ: É sempre prazeroso, a gente fica ansioso esperando o protótipo da indústria, esperando o produto chegar na loja…
GW: Tem diferença criar um móvel para uma empresa e para uma casa?
FJ: É diferente, mas o bom produto é flexível e fica bom tanto na sua casa quanto em uma empresa.
GW: O que uma peça precisa para se tornar um ícone de design?
FJ: Uma peça icônica não precisa ter um design exagerado, ela pode ser marcante na sua simplicidade. Mas ela tem de ter um bom desenho e ser um móvel atemporal.
GW: Um tema muito recorrente na decoração, atualmente, é a sustentabilidade. Qual sua visão sobre o assunto?
FJ: A primeira coisa é fazer um projeto pensando que o móvel é feito para durar e que não é um bem descartável, assim não geramos lixo ambiental. Outro cuidado é usar materiais renováveis. Temos muito tecidos que são feitos de garrafa pet e feitos a partir da sobra de malharia de camisetas, que são desfiados e viram novamente rolos de tecidos. E o resultado fica ótimo! Também temos o cuidado de dar um destino para as sobras de nossas matérias–primas, que sempre acabam virando alguma coisa. Os tecidos viram almofadas e ecobags, por exemplo, e os tocos de madeira podem virar uma cabeceira de cama.
GW: E, para finalizar, que conselho daria para quem deseja comprar sua primeira peça de design?
FJ: Escolha as peças com parcimônia e pensando a longo prazo. Comece comprando os móveis que são itens de necessidade básica, como cama, mesa, cadeira… Pesquise muito, opte por peças bem-feitas.