As rendas de Martha Medeiros conquistam as famosas
O que Beyoncé, Elizabeth Hurley, Sofia Vergara, Gisele Bündchen e Ivete Sangalo têm em comum? Se você respondeu fama e beleza, acertou. Mas, além disso, elas se renderam à estilista brasileira Martha Medeiros.
Por: Malu Bonetto
Nascida em Alagoas, a estilista Martha Medeiros aos oito anos já confeccionava e vendia roupas de boneca para suas amigas – e sonhava em fazer a diferença no mundo da moda. Hoje, com mais de 20 pontos de venda espalhados pelo Brasil e exterior, incluindo Harrod’s e Bergdorf Goodman, a estilista tem quase 400 rendeiras trabalhando para ela e uma farta clientela disposta a desembolsar até R$ 70 mil por um vestido.
GW: Como surgiu sua paixão pela moda?
MM: Quando criança, já queria fazer moda. Cortava um tecido, fazia dois buracos para os bracinhos das bonecas e vendia esses vestidos para minhas amigas. Um dia, minha avó materna, que era professora de artes, disse que a boneca precisa se vestir tão bem quanto a dona. Então, ela, que tinha um pequeno ateliê em casa, pediu que suas duas costureiras me ensinassem os pontos básicos.
GW: Quando resolveu trabalhar com moda?
MM: Lá no nordeste, as pessoas brincavam que aos 18 anos você precisava passar no concurso público, comprar uma casa pelo BNH (Banco Nacional da Habitação) e se casar. Eu fiz as três coisas, mas, mesmo trabalhando no Banco do Brasil, queria mesmo era fazer roupa. En-tão comecei a customizar algumas peças que vendia para minhas colegas de trabalho e de-pois montei uma loja multimarcas, em Alagoas mesmo.
GW: Quando você resolveu se profissionalizar?
MM: Eu vinha para São Paulo comprar as roupas para revender e, em uma dessas viagens, em 1979, conheci um dos coordenadores do Senac, que estava abrindo o primeiro curso de moda na capital. No dia seguinte, já fui conhecer as instalações do campus. Saí de lá, fui à agência do Banco do Brasil, pedi minha transferência e do meu marido para uma agência de São Paulo, aluguei um apartamento, matriculei meus dois filhos na escola, voltei para Maceió e avisei meu marido que em dois meses mudaríamos para São Paulo. Já morando aqui, concluí o curso no Senac e fiz diversos outros na FAAP, até que um dia, indo para o banco, vestindo uma de minhas jaquetas customizadas, fui abordada por uma mulher que adorou a peça. Durante nossa conversa, descobri que se tratava da produtora da Angélica e ela comprou todas as jaquetas que eu tinha no estoque.
GW: Como a renda entrou na sua vida?
MM: Depois que terminei meus cursos em São Paulo, voltei para Alagoas e aproveitava a época de liquidação da loja em Maceió para visitar as comunidades rendeiras da região e fazermos alguns modelos para a loja não ficar vazia após a liquidação. O trabalho era lindo e as encomendas só aumentavam. Foi quando quis começar a misturar dois tipos de renda em um modelo, pesquisei pelo Sebrae novas regiões conhecidas pelas rendas e lá fui eu de ônibus, dando serviço às rendeiras e elas me ensinando sobre a renda e sobre a vida.
GW: Por que suas peças rendadas fazem tanto sucesso?
MM: As mulheres querem design e roupa contextualizada que as vistam bem. Eu agrego valor à peça: transformo uma simples renda em objeto de desejo.
GW: Quando decidiu abrir uma loja em São Paulo?
MM: Recebia muitas encomendas de São Paulo e passei a vir constantemente para cá. Precisava ter uma loja aqui. Vendi tudo que tinha, isso há nove anos, e aluguei uma loja na região dos Jardins. Gastei boa parte do meu dinheiro no seguro-fiança e o resto na reforma do imóvel. No meio da obra, acabou o dinheiro, fui à imobiliária para devolver as chaves e a corretora não quis aceitar porque acreditava que eu seria um sucesso. E ela fez mais ainda: devolveu meu seguro-fiança! Finalmente terminei a reforma e abri a loja. E uma nordestina abrindo uma loja especializada em rendas na área nobre de São Paulo chamou a atenção da mídia.
GW: Qual foi o grande divisor da sua carreira?
MM: Em 2010, a Bia Doria, esposa do João Doria, me convidou para fazer um desfile no jóquei. Era o Dória que organizava a Casa Cor na época. Na hora, disse a ela que não me sentia preparada. Pouco tempo depois, o próprio João me ligou dizendo que não existe o “não” como resposta e que a esposa dele iria comprar um vestido para o dia do desfile. Ela foi à minha loja, fez 50 cartões de próprio punho para todas aquelas pessoas que eu via na revista Caras, convidando para o desfile. Não tive como falar não e hoje agradeço por isso.
GW: Como é sua relação com as rendeiras?
MM: Não é só uma relação de compra e venda, faço questão de atuar ao lado delas, de ensinar o que sei para que elas tenham orgulho do que fazem. Quando cheguei lá, vi que a geração mais nova tinha vergonha de usar renda. Hoje, quando mostro artistas famosas usando minhas criações com as rendas que elas fizeram, vejo o orgulho estampado no rosto de cada uma.
GW: Você sempre soube que seria um sucesso?
MM: Eu nasci para dar certo, não tinha outra opção, mesmo porque minhas peças são abençoadas e feitas com amor. Sempre quero fazer a roupa mais linda da vida da cliente.
GW: Quando passou a ser conhecida no exterior?
MM: Há três anos, uma vendedora da loja avisou que tinha uma pessoa, que se apresentou como Sofia Vergara, falando “portunhol” no telefone. Mesmo não acreditando que fosse ela mesmo, a Camila, que trabalha comigo no marketing, atendeu a ligação. Sofia disse que seguia a marca no Instagram e queria que um dos três vestidos que iria usar no seu casamento fosse meu. Separei sete vestidos e fui para Los Angeles com uma modelista. Sofia provou um vestido vermelho, amou, mas disse que precisava sair em 45 minutos e, como ele estava muito comprido, apertado nos seios e folgado na cintura, iria com o dourado, da grife Sean John, que já estava separado. Na mesma hora, comecei a cortar a cauda do vestido enquanto ela se maquiava – e ela acabou usando o meu vestido no casamento.
GW: Então, foi a Sofia Vergara que despertou seu interesse em montar uma loja em Los Angeles?
MM: É, foi ela quem me disse que eu tinha que abrir uma loja em Los Angeles porque faço obra de arte. Sofia foi fazendo minha propaganda e angariando clientes.
GW: Bom, para finalizar, fale sobre o Projeto Olhar do Sertão.
MM: Adoro falar sobre isso porque as pessoas sempre compram muita roupa e, no meu caso, se elas souberem o que está por trás da confecção vão comprar mais ainda. Criei esse projeto em 2014 com o intuito de levar assistência social para uma das regiões mais pobres do nosso país, o sertão nordestino. Eu via que eles tinham necessidades básicas em que eu podia ajudar, como óculos, que algumas rendeiras precisavam e não tinham condições de comprar. Hoje, o projeto reúne pessoas do bem e leva assistência a quem mais precisa. Mas não faço isso por elas, nem pela marca Martha Medeiros. Faço por mim.