Cafés especiais ganham espaço no Brasil e seu consumo dobrou nos últimos anos
Hoje, 24 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Café, uma data instituída pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) para marcar o início do período de colheita dos grãos nas principais regiões produtoras do país.
De acordo com um relatório publicado pela SCA (Special Coffee Association), o consumo de cafés no país, sobretudo os de alta qualidade, vem crescendo de forma consistente desde 2008. Para se ter uma ideia, apenas entre 2016 e 2018, a participação no mercado de grãos classificados como especiais – aqueles que precisam atingir no mínimo 80 pontos de um total de 100 na metodologia da entidade – literalmente dobrou, saltando de 6% para 12%. E, mesmo com o abalo decorrente da pandemia, a previsão é de que siga em uma crescente.
“Muitos consumidores começaram a entender que aquele café tradicional do dia a dia é ruim e passaram a buscar produtos melhores”, avalia Caio Tucunduva, coffee hunter da No More Bad Coffee e mestre em sustentabilidade. Isso, no entanto, não significa que num futuro breve estaremos bebendo apenas café especial. “Mesmo que um produtor se dedique a cultivar grãos de alta qualidade, somente cerca de 30% terá potencial para ser classificado como especial”, explica ele. Já Henrique Ortiz, do Catarina Coffee & Love, compara esse tipo de bebida a um item de alto luxo. “Se compararmos com um vinho, o café especial é como se fosse um grand cru. É o auge da colheita. Não é factível democratizá-lo.”
Como forma de atender aos anseios de um café de melhor qualidade para o dia a dia sem que o preço cobrado seja considerado um impeditivo para se atingir um mercado maior, dois movimentos podem ser vistos. De um lado, a grande indústria vem investindo em grãos tratados com mais cuidado para abastecer as gôndolas de supermercado, com linhas classificadas como “superior” ou “gormet”. Do outro, as pequenas torrefações cada vez mais apostam nos chamados cafés especiais de entrada, geralmente de pontuação mais baixa e perfil sensorial mais próximo daquele que o consumidor médio está habituado. “É uma tendência”, confirma Ortiz. “Isso mostra que é possível trabalhar com uma matéria prima muito boa que tenha um preço competitivo.”
Outro fator que tem feito o consumidor em geral atentar mais para o que bebe são as redes ‘to go’, que surgem em cada esquina e oferecem bebidas de qualidade superior a valores mais acessíveis. Para isso, se valem de copos descartáveis ao invés de xícara, ausência de salão para consumo e sistema de pedidos totalmente digitalizado como forma de reduzir a mão de obra. “Elas têm uma capilaridade maior em comparação às cafeterias tradicionais, e fazem com que o público tenha mais chance de conhecer esse universo”, avalia Ortiz.
“O que vejo é a onde do café especial ganhando espaço e puxando para cima a qualidade geral da bebida”, analisa o especialista em torra Renato Cipriani. “Conheço produtores que já aprenderam a produzir esses cafés especiais, tidos como ‘de entrada’, com volume e consistência”, conclui. Ortiz complementa que o emprego de maior eficiência no campo também contribui para que se tenha grãos de boa qualidade com preço mais em conta. “Hoje é possível ter cafés bem pontuados que dão ‘menos trabalho’, com o emprego de colheita mecanizada e processos mais rápidos de secagem, por exemplo, sobretudo nos médios e grandes produtores.”
Mas mesmo que para o consumo diário os cafés de alta qualidade ainda são para poucos, Cipriani faz uma ponderação: “É uma das bebidas premium mais acessíveis a todos, sendo possível encontrar excelentes xícaras por menos de R$ 10.”
Onde tomar café especial em São Paulo
Feliciana Pães e Outras Histórias
A casa preserva uma aura de fazenda em pleno Mercado de Pinheiros, onde a proprietária Ana Paula Sater resgata fazeres de antigamente. Nos pães, entram farinhas orgânicas brasileiras. As frutas e as verduras utilizadas nas receitas vêm de hortas e pomares próprios. O café, proveniente de pequenos produtores da região de Lavras, no sul de Minas Gerais, chega verde em sacas de 60 quilos e é torrado no fogão a lenha, à moda antiga, num equipamento chamado “bola” – recipiente esférico de metal movido por manivela que confere à bebida aquele gostinho de interior. E, apesar de toda a produção ser para consumo da loja, há quem peça para levar um tantinho do café para casa.
Rua Pedro Cristi, 89 – Pinheiros – São Paulo
Tel.: (11) 99534-2473
Red Coffee
A marca ocupa desde 2019 um belo casarão dos anos 50 no Alto da Boa Vista, e recentemente assumiu o ponto antes ocupado pela também cafeteria Amar.go, no bairro de Pinheiros. Os cafés especiais, razão de ser da marca, são selecionados por um time de coffee hunters e vêm de diferentes regiões do país. Muitos são microlotes de alta pontuação são cunhados pelo proprietário Haroldo Monteiro e torrados semanalmente em um torrefador Carmomaq, a fim de garantir grãos sempre fresquinhos. Eles podem ser servidos na casa em forma de espresso ou coado ou então levados para casa em pacotinhos de 250 gramas.
Rua Min. Roberto Cardoso Alves, 416 – Santo Amaro – São Paulo
Tel.: (11) 2372-4003
Amor Espresso
A cafeteria de cafés especiais que serve beslisquetes doces e salgados veganos para acompanhar a bebida seja pura, com leite ou outras preparações diferentes é um dos bons lugares na Alameda Santos para desfrutar da data. Lá é possível desfrutar do ótimo espresso muito bem tirado pelas baristas todas treinadas pela ONG de mesmo nome que treina e emprega mulheres em situação de vulnerabilidade financeira. A casa tem também um espaço agradável para quem quer trabalhar.
Alameda Santos, 1298 – Jardim Paulista – São Paulo
Tu És Pão
Um misto de café com padaria, a casa tem boas receitas para acompanhar o café: bolos, doces, croissants recheados de diversos sabores, além de sanduiches, e outros beliscos que ficam disponíveis o dia todo o menu. O cuidado com o café é um capítulo importante: a super premiada barista Silvia Magalhães desenvolveu para a Tu És Pão o café Koruba – marca da padaria – onde um é feito especialmente para servir coado e outro para quem prefere os espresso. Ambos de pequenos produtores de Minas Gerais. Além disso, a cerâmica onde o café é servido também é de artesãs independentes.
Rua Isabel de Castela, 529 -Vila Madalena – São Paulo
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FOTO DESTAQUE: Adobe Stock
FOTOS: Divulgação Tu És Pão/Raul da Motta, Divulgação Amor Espresso, Divulgação Feliciana Pães/Elvis Fernandes, Divulgação Red Coffee/Márcio Hirosse