Tania Khalill e seu novo projeto profissional: Palco da Vida
Morando nos Estados Unidos desde 2017, a atriz Tania Khalill sentiu o desejo de se reinventar quando entrou na casa dos 40 anos. Hoje, aos 44 anos, ela celebra a carreira no exterior e o projeto Palco da Vida, que ajuda mulheres dessa faixa etária a se transformarem em protagonistas de suas vidas. Confira:
O que despertou seu desejo de falar com as mulheres de 40 anos?
Surgiu por uma coisa muito orgânica, por ter feito 40 e sentido muitas transformações na minha vida. Senti uma necessidade, um grito interno de rever como estava levando minha vida, começaram questionamentos de várias ordens sobre como desejo passar o resto da vida. Comecei a fazer uma pesquisa com a Cinthia D´Auria, pesquisadora, com mulheres de mais de 40, e a gente constatou que é um momento em que a gente se reavalia. Não é um momento fácil quando a gente decide fazer esse movimento, é desafiador, duro, porque a gente questiona muito de como a gente conduziu a vida até aqui, e como a gente quer continuar conduzindo. O questionamento e o desejo de olhar para dentro é algo que me acompanha desde criança, mas veio de uma maneira bem diferente.
Qual a proposta do workshop Palco da Vida?
A ideia do Palco da Vida é usar ferramentas de autoconhecimento e escolher através delas o nosso melhor. Ele tem esse nome porque comecei a observar que quando estou em cena uso técnicas de interpretação que me colocam em contato com o meu melhor, com o que desejo ser para aquele personagem. Isso me colocou em contato com algo muito interessante que já vem do psicodrama, e a neurociência está aí para comprovar: eu tenho a responsabilidade, a possibilidade e a imensa chance de escolha de conduzir minha vida. Então, o workshop traz novos olhares para nossa própria vida, nos reconecta com as vontades sinceras, nos realinha com nossa essência para que a gente possa ser protagonista da nossa história e fazer com que ela brilhe e alcance a potência que nossos sonhos nos trazem. E de como fazer isso de forma prática, porque não dá para a gente acreditar que isso vai bater na nossa porta.
Por que acha que, na maior parte das vezes, a mulher tem o desejo de se reinventar quando chega as 40?
Acho que tem essa questão hormonal. Depois que a menina se torna mulher, a década dos 40 anos é a primeira onde ela entra em contato com a diminuição e o fim da sua fase reprodutiva, isso tem uma transformação hormonal e fisiológica gigantesca. E emocional também, porque no momento que você finda com a sua potência de gerar vida, outro tipo de vida tem que ser gerada. Em um panorama mais genérico começa a querer deixar frutos de outra ordem para o mundo e para nós mesmas. Nos coloca de frente com uma metade da vida completamente diferente da que veio até agora, onde a gente tinha que se estabelecer como mães, profissionais, pessoas que estudam para ser algo, que querem ser reconhecidas, que têm uma urgência em ser algo e aí, de repente, a gente começa a querer ser para nós mesmas, entrar em contato com uma outra delicadeza do porquê estamos aqui, e como fazer disso uma reinvenção.
A sua chegada aos 40 anos foi marcada por um processo, literalmente, de mudança: saiu do Brasil para ir morar nos Estados Unidos. Como foi deixar uma vida estável aqui e encarar o novo?
A chegada dos meus 40 teve esse marco de fazer essa escolha. Hoje em dia vejo isso muito mais claro, mais um nível que queria me resgatar de algum outro ponto e mudar de país, viver novas experiências, me reinventar quase que do zero profissionalmente, experimentar coisas novas e ter um pouco esse espírito aventureiro de largar tudo num sentido pronto, estável, ótimo, equilibrado, confortável e ir para um novo cheio de medos, de inseguranças, de novidades, de desafios. E eu me agradeço todos os dias, pois a gente tem que se agradecer, olhar para a gente e ver os pequenos e os grandes passos que damos na nossa vida e nos parabenizar, senão a gente só vê defeitos.
O fato de tuas filhas já estarem “crescidas”, te ajudou a tomar essa decisão da mudança e a despertar o desejo de se reinventar?
A Laura tinha 6 anos e a Isa 10 quando a gente veio. Facilitou, porque morar no exterior com bebê, onde a gente não conta com ajuda nenhuma é insano. Mas é desafiador todo dia, pois elas estão se tornando adolescentes, jovens com várias questões pertinentes da idade. Mas, com certeza, encarar esse desafio de estar em um país diferente, sem sua família, sem toda uma rede de apoio, com elas mais velhas, é mais fácil.
“A chegada dos meus 40 teve esse marco de fazer essa escolha. Hoje em dia vejo isso muito mais claro”
Como foi se reinventar também como atriz nos Estados Unidos? Você participou, em 2019, da série americana Mrs. Fletcher, da HBO, em uma cena bem sensual, com outra mulher…
Eu participei da série da HBO em uma cena com a Kathryn Hahn, que é uma atriz que sou absolutamente apaixonada, uma grande atriz, está fazendo cada dia mais coisas lindas. Que experiência incrível! Era uma cena que era para ser uma coisa quando fiz o teste e foi mudando… E fiquei muito feliz porque ela mesmo me disse o tanto que essa cena era importante para o desenrolar da personagem dela, que está passando por um momento de reavaliação, com o filho indo para a faculdade e ela, com 40 e tantos anos, se vendo sozinha, sem um parceiro. É uma série muito interessante e especial para o universo feminino, como muitas têm sido feitas com essa temperatura de olhar para mulher madura.
Já tem outros trabalhos em vista na televisão?
Tenho trabalhos em vista, um projeto de uma série minha, com esse conteúdo documental, híbrido e dramatúrgico, e tem uma série que estou envolvida sobre imigração, que é muito legal e espero que saia ainda no próximo ano. Estou sempre aberta, tenho recebido vários convites e o que achar que faz sentido com o momento que estou vivendo hoje, que vai me acrescentar, que vou aprender e que não vou me repetir, é tudo o que eu quero.
Por Cibele Carbone
Fotos Márcio Amaral Peterson