Sandro Barros: alta-costura à mesa
Queridinho da alta sociedade pelos vestidos de festa que produz, o paulista Sandro Barros se viu em uma encruzilhada durante o surgimento e ascensão da Covid-19. Com a rápida disseminação da doença e o risco alto de contágio, ele deu o exemplo. Muito além das restrições de isolamento social impostas, o estilista ficou 90 dias trabalhando do apartamento e ensaiou um retorno gradual ao Atelier Sandro Barros. Com o adiamento – e até cancelamento de casamentos -, que foram trocados por poucos e restritos mini weddings, Barros passou a apostar em duas novas linhas de produtos e serviços para casa. Confira:
“A minha paixão por decoração é muito antiga. (…) Depois de muitos pedidos, achei que o melhor momento para essa paixão virar um negócio seria agora”
De Itapetininga, a cerca de duas horas da capital paulista, você se transformou em uma referência no mercado de vestidos de noivas para a alta sociedade ao atuar na Daslu e responder pela Daslu Couture. Depois, em carreira solo, abriu o próprio ateliê e passou a desenhar de 3 a 4 vestidos de noiva por fim de semana. Como avalia o avanço da sua ascendente carreira?
Avancei plantando o bem e a gentileza com meus colaboradores e clientes. Tenho a humildade para saber o meu devido lugar e sou muito cerimonioso com todos. Em 20 anos de carreira como estilista, nunca flagrei uma mulher nua e sempre fui formal e respeitoso.
Em março de 2020, com o avanço da pandemia e o início das restrições impostas pelo governo estadual, você deve ter se deparado com um dos momentos mais inimagináveis e desafiadores de sua carreira. Como encarou a pandemia em suas várias fases?
A Covid-19 é um pesadelo horrível, uma praga. Ainda não sei qual lição a humanidade vai tirar desse momento trágico. A única certeza é que viramos história. Como empresário, fiz tudo o que pude para manter meu quadro de funcionários. Como cidadão, segui todas as recomendações, principalmente para não contaminar as pessoas próximas a mim e ocupar um lugar no hospital.
Você conseguiu segurar 40 de seus 44 funcionários e, como já disse publicamente, muitas costureiras estão trabalhando contigo há mais de 20 anos. Como foi ter que gerenciar uma pandemia em um negócio de luxo e de nicho? O que mudou e quais lições tirou desse momento tão surreal para a população e a economia?
A maior lição disso tudo é valorizar as pessoas que realmente amamos e estão próximas no cotidiano. Ter uma empresa de vestidos de festa num momento onde as festas são proibidas é o mesmo que vender areia no deserto. Fiz máscaras para doar, depois para vender, lives (na internet) e vídeos intermináveis, ações beneficentes e vestidos mais simples para jantares. Agora, lanço uma coleção de pijamas de linho estampado e uma linha para a casa. Vida que segue, principalmente pensando nos meus funcionários e as famílias que dependem do Atelier Sandro Barros. Por eles, eu continuo.
Quando decidiu lançar a linha home? O que te impulsionou a entrar nessa nova área e como é a estrutura desse negócio?
A minha paixão por decoração é muito antiga. Comecei a minha coleção de porcelanas aos 21 anos. Depois de muitos pedidos, achei que o melhor momento para essa paixão virar um negócio seria agora. Eu amo receber em casa, cozinhar, amo ser dono de casa. Agora, esse meu olhar está à venda.
Você vai ter várias coleções por ano? É tudo feito à mão?
São duas linhas: uma de produtos e a outra de serviços. Sandro Barros Home terá enxovais para mesa, porcelana, cristais e prataria. Já Sandro Barros Conciergerie de Maison é voltada para quem não tem tempo ou não gosta de cuidar da casa. Eu desenho desde os uniformes até as flores, compro a faca x, o pote y e a panela. Até o menu da semana, nós podemos desenvolver. As coleções serão voltadas para as datas festivas brasileiras como Natal, Páscoa e por temas como fazenda, praia…
Como está sendo sua rotina na pandemia: passou a trabalhar em casa ou continuou indo ao ateliê?
No início, fiquei 90 dias trancado no apartamento, sem ir nem mesmo até o elevador. Depois, retomamos aos poucos o Atelier Sandro Barros, mas com o intuito de sermos exemplos e não apenas atender as exigências do governo. Apenas uma noiva se casou em dezembro, em Cuiabá, uma se casou em janeiro, no Rio de Janeiro, e, mais recentemente, uma, em Manaus. O restante adiou a data e algumas fizeram um casamento civil. Nenhum vestido foi transformado, apenas um sonho adiado. Dois casos mais radicais: uma cancelou o casamento e a outra terminou o noivado.
Como está sendo passar a pandemia ao lado do Bruno Astuto? Vocês ficaram mais juntos do que nunca ou a rotina de trabalho dos dois não impactou muito o tempo no dia a dia do casamento?
Somos muito companheiros e gostamos das mesmas coisas. Também temos o privilégio de termos em casa escritórios separados. E trabalhamos muito, sempre, mesmo nas férias. A diferença foi usar pijamas o tempo todo, cozinhei muito e voltamos a estudar mais, eu francês e japonês e o Bruno russo e alemão.
Existe abertura entre vocês para sugestões, por exemplo, dele no seu trabalho ou não? Recordo-me que você havia lançado, não sei se ao certo há dois anos, uma coleção inspirada em Viena, na Áustria. Antes disso, vocês dois fizeram uma viagem-mergulho para lá. Por isso pergunto…
Nós temos os dois momentos, sempre abertos a opinião um do outro. Mas, da mesma forma que temos total liberdade para dar palpites, também guardamos alguns segredos.
Qual sua expectativa de retorno à normalidade? Você disse que muitos casamentos foram adiados para 2022, o que significa que, neste ano, você já deve estar bastante atarefado, correndo contra o relógio.
Acredito numa “normalidade” no final de 2022. Até lá, ainda vamos sofrer muito.
O que a pandemia te ensinou do ponto de vista pessoal e profissional?
Nos momentos de crise, a verdade sempre aparece, as máscaras caem e nos decepcionamos e ficamos magoados. Para ambos pontos de vista, nós sempre vamos colher o que plantamos.
Por Françoise Terzian
Fotos Daniel Cancini