O universo d’OSGEMEOS na Pinacoteca de São Paulo
A entrada no mundo de Tritrez – o universo imaginário e lúdico onde vivem os seres criados por Gustavo e Otávio Pandolfo – é uma experiência singular. O visitante é envolvido, já no início da mostra, por rajadas de cores intensas nas paredes, teto e chão, como se estivesse num túnel mágico, e se insere completamente no espaço particular da dupla, ao lado das famosas figurinhas amarelas, das engenhocas divertidas (formalmente chamadas de instalações) e das referências da cultura de rua; esta última, a grande força motriz para a formação artística dos irmãos. Nesta mostra, os “segredos” dos meninos mais talentosos da região central de São Paulo se revelam também em cadernos de anotações, fotos, vídeos, desenhos e pinturas que, juntos, formam a gênese do que viria a ser a riqueza de nuances e personagens da arte fantástica criada por eles.
Nascidos no bairro do Cambuci, os adolescentes desde cedo foram fisgados pelo gênero musical do hip-hip e seus desdobramentos: os encontros com a garotada para cantar rap no centro da cidade, as rodas de break, o grafite. O movimento artístico urbano chegou ao Brasil nos anos 80 como respingos da manifestação que se originou nos subúrbios de Nova York na década de 1970. O pouco material a que tinham acesso por aqui (“um livro e dois filmes”) era rapidamente absorvido pelos gêmeos, que inicialmente precisaram aprender sobre a expressão cultural que se fazia fora, para então entender o caminho que queriam seguir no futuro.
Rabiscando juntos desde os 3, 4 anos de idade, tiveram todo o aval da família para desenvolver a criatividade. Tudo começou com o desenho. A partir daí decidiram pintar dentro de casa (quartos, corredores, cozinha) para aprender a usar o spray e, depois, tomaram as ruas. A experimentação foi positiva – imagens da cidade foram se aperfeiçoando; a figura do homenzinho amarelo se fixou; e por fim, a cor constante nos trabalhos produzidos por eles se manteve um símbolo da energia positiva do sol que viam da casa da mãe, ainda pequenos, na hora de fazer as lições da escola.
Os personagens foram pipocando das ruas de São Paulo para muros, murais e fachadas de vários lugares do mundo. Daí foi um pulo para as mostras coletivas e depois individuais. E nesta maratona colorida que alterna a arte de rua com exposições nas principais entidades internacionais, eles se propõem a nunca deixarem de ser grafiteiros de raiz, aceitando também a condição de artistas contemporâneos, que se institucionalizam assim que entram em uma galeria ou um museu. De uma forma ou de outra, as suas criações já foram vistas na Alemanha, Suécia, Portugal, Cuba, EUA, Canadá, Japão, Inglaterra, Escócia e Itália, só para citar alguns países. O próximo da lista será a Coréia do Sul. “Cada figura é diferente e tem a sua própria história, mas juntas elas fornecem um padrão.” Alguns bonecos são os gigantes; outros são minúsculos. Na parede de um viaduto há, por vezes, um teor social ou político embutido no desenho feito às pressas. Já no ambiente fechado de uma mostra, eles têm tempo suficiente para modificar o espaço fechado e construir o mundo deles. “As pessoas querem entrar dentro das nossas cabeças”, acreditam os irmãos. A Pinacoteca e o curador da exposição, Jochen Volz, sabem disso, e programaram a mostra mais completa já realizada sobre OSGEMEOS: a chance de entrarmos dentro do sonho deles, naquilo em que eles acreditam. Nem que seja por alguns momentos divertidos.
OSGEMEOS: SEGREDOS
Quando: até 22 de fevereiro de 2021
Onde: Pinacoteca de São Paulo, Praça da Luz, 2
Tel.: (11) 3324-1000
Ingresso com horário marcado
Vendas on-line: www.pinacoteca.org.br
Por Laura Wie
Fotos: Divulgação