O Instagram chegou a 3 bilhões de usuários e, para comemorar, resolveu assumir aquilo que todos já sabiam: o algoritmo não dá conta de entender ninguém sozinho. A novidade da vez é um painel que permite “ensinar” a plataforma sobre seus interesses. Parece revolução, mas é só um verniz de autonomia sobre um sistema que continua ditando o jogo.
Recentemente fui passar 2 semanas na Espanha e, como estudiosa e consumidora do Instagram e do TikTok, notei que o algoritmo da outra plataforma, uma de suas principais concorrentes, detectou muito mais rápido minha mudança de interesse do que o Instagram. Para falar a verdade, a rede da Meta só conseguiu detectar a minha mudança de interesse na minha volta para o Brasil. Isso expõe o que nós já sabíamos o algoritmo do TikTok é bem mais ágil em detectar interesses.

IMAGEM: Agência Alma
A lógica do Instagram é simples: você pode ajustar os temas, escolher o que quer mais e o que não quer ver. É vendido como controle, mas no fundo é correção de falha. Se a máquina fosse tão precisa, não precisaríamos perder tempo atualizando manualmente o que nos interessa. A promessa de inteligência sempre foi que ela anteciparia o desejo. O que o Instagram entrega é um simulacro disso: uma ferramenta para remediar um mecanismo que nunca foi tão inteligente quanto quis parecer.
Essa mudança expõe o ponto central da disputa atual nas redes: não basta mais segurar usuários pelo hábito, é preciso oferecer a sensação de que eles decidem. A sensação, não a realidade. Porque enquanto você mexe nas configurações, a lógica continua sendo a mesma: DMs, Reels e recomendações de quem você nunca pediu para seguir. É o famoso “você pode escolher o tempero, mas o prato continua o mesmo”.

IMAGEM: Agência Alma
Do ponto de vista da comunicação, o recado é direto. Criadores e marcas não estão competindo pela atenção de seguidores, estão disputando a benevolência de um algoritmo que admite suas próprias falhas. O alcance já não depende de comunidade, mas de agradar um sistema que ora erra, ora acerta, mas nunca deixa de ser o mediador absoluto.
E aqui está o risco: quando a plataforma transforma frustração em recurso, ela cria um novo tipo de dependência. Você se sente parte do processo, mas só até o limite do que interessa ao negócio. Autenticidade vira moeda de troca, ajustada por menus de configuração. A liberdade de escolha vira mais uma camada de design para te manter rolando a tela.
E agora eu falo com você, marca, criador, gestor de influência: não se iluda achando que esse “painel de controle” vai devolver a relação direta com sua audiência. O jogo não é sobre conquistar seguidores, é sobre sobreviver a um sistema que decide quem aparece e quem é silenciado. Se você insiste em acreditar que autenticidade sozinha garante entrega, vai descobrir rápido que ela precisa ser traduzida em formatos que o algoritmo reconhece como valiosos.

IMAGEM: Agência Alma
Quer continuar relevante? Pare de apostar apenas no alcance que o Instagram promete. O jogo agora é outro: construir credibilidade fora da bolha do feed, diversificar presença em plataformas que não escondem tanto a comunidade atrás de recomendações e, acima de tudo, investir em narrativas que não dependem de filtro de máquina para fazer sentido.
Atenção é moeda, mas confiança é patrimônio. Quem confia em você vai te procurar, com ou sem algoritmo. Quem só te encontra porque o feed decidiu entregar, nunca foi seu público, foi refém de uma lógica que hoje se esconde atrás de uma interface de “controle”.
A lição que fica é menos sobre tecnologia e mais sobre poder. No fim das contas, essa atualização não é sobre dar autonomia ao usuário, mas sobre terceirizar para ele o trabalho de treinar uma máquina que já decidiu o que importa. A questão é: você, criador ou marca, vai continuar alimentando esse ciclo ou vai construir influência que resiste além do algoritmo?
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IMAGENS: Agência Alma
*Esse texto, em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões a partir da interpretação de fatos e dados coletados, é de responsabilidade integral do mesmo. O artigo não reflete, necessariamente, a opinião da GoWhere.