Nathalia Arcuri: musa das finanças
São mais de 6 milhões de inscritos no seu canal do YouTube e 1,6 milhão de seguidores no Instagram, isso sem mencionar os 2,8 milhões em seu perfil pessoal nessa mesma mídia social. A jornalista Nathalia Arcuri, criadora do Me Poupe!, conseguiu conquistar milhares de fãs falando sobre um assunto que, para a maioria das pessoas, parece muito complicado. De forma clara e descontraída, ela aborda temas como investimentos, ações e juros compostos na internet, no rádio e também na televisão – a expert em educação financeira acaba de estrear o programa Me Poupe Show! na Rede TV! e segue firme com seu objetivo de “desfuder a nação”, como ela mesmo gosta de dizer. Confira:
Como surgiu seu interesse pelo mundo das finanças e investimento?
Tudo começou dentro da minha própria casa. Desde cedo reparei em hábitos e os questionei até entender que nunca tivemos uma educação financeira. Aos 7 anos perguntei aos meus pais se eu tinha uma poupança para comprar um carro quando fizesse 18. Escutei isso de uma amiga da escola, cujo pai estava reservando uma grana com esse objetivo. Ouvi do meu pai “cresça e apareça” – para a minha sorte! – e é o que eu tenho feito desde então. Fui atrás da minha liberdade, algo muito maior que apenas um carro e, a partir disso, entendi que deveria repassar o que aprendi adiante: uso essa técnica em meus conteúdos até hoje, aliando metas e sonhos a planos de execução.
Tudo é questão de planejamento. O primeiro passo é organizar o quartinho das finanças: detalhe tudo o que ganha e seu custo de vida, separe tudo o que for fixo – gasto que não muda mês a mês –, do que for flexível – gasto com variação de preço. Isso vai te ajudar a entender para onde vai seu salário e o quanto é possível economizar.
Você é uma “poupadora” desde criança?
Sim, foi cedo que comecei. Logo após entender que meu pai não poderia me dar um carro, fiz disso o meu objetivo: guardei por anos o dinheiro do lanche, pedi dinheiro em vez de brinquedos de presente, fiz ponta em comercial de TV e, assim, poupei até os meus 18 anos. Quando, na época, acabei ganhando um carro de presente da minha madrinha, resolvi pegar o dinheiro que havia poupado e começar a investir oficialmente.
Como seus pais viam essa sua vontade de guardar dinheiro? Eles apoiavam, entendiam ou achavam que você estava se tornando muquirana?
Cresci sem receber uma educação financeira. No início sempre fui vista como diferente e julgada por decisões que tomava, afinal é isso que acontece com qualquer um que decide tomar as rédeas da própria vida.
Qual o limite que separa um bom poupador de um pão duro?
Acho o termo muito engraçado, pois as pessoas, normalmente, taxam assim as que economizam ou pedem desconto. Eu mesma já fui julgada como muquirana. Um bom poupador é aquele que planeja. Você não precisa abrir mão das coisas, mas entender que dizer alguns “nãos” para si próprio também é importante para alcançar seus sonhos mais selvagens.
Quando teve o insight de que poderia falar sobre finanças de maneira fácil e que teria um público para isso?
Meus hábitos financeiros sempre foram considerados algo de outro mundo, para muita gente. Percebi, a partir disso, que não existia conteúdo de fácil acesso sobre, até mesmo, os temas mais básicos. A educação financeira não é mesmo assunto comum no país. Mas o estalo de fazer disso uma carreira veio de duas situações. A primeira foi com a minha diarista, que, em meados de 2012, me contou que comprou um tênis para a filha no valor de R$ 600 – era isso o que eu pagava para ela na época. Foi aí que comecei a tentar entender, por meio de estudo, o porquê de a sociedade adotar esse comportamento com tranquilidade. Na época, era repórter de TV e foi lá que decidi oferecer uma ideia: construir um reality para transformar gastadores em investidores. Gostaram, mas passaram para que outra pessoa o apresentasse. Quando descobri que isso aconteceu porque eu não tinha especialização em economia, fui atrás. Estudei, criei o canal e cá estou, com o meu próprio negócio – e programa na TV.
O seu canal, o Me Poupe!, está com 6 milhões de inscritos no YouTube. Além disso, você já escreveu dois livros, tem um programa semanal na Rádio 89 e estreou recentemente um programa na Rede TV! Qual o segredo de tanto sucesso? Imaginou que faria “tanto barulho” falando sobre dinheiro?
Meu objetivo não era fazer barulho. Criei a Me Poupe! com um propósito: transformar a vida de pelo menos uma pessoa por meio da educação financeira. O segredo do sucesso é o desejo de impactar cada vez mais lares com o meu conteúdo. Sigo com a missão de “desfuder” a nação.
O seu salário na Rede TV! é de R$1. Por que esse valor simbólico?
O programa é um projeto que estava guardado a sete chaves, esperando apenas uma emissora de TV corajosa o suficiente para me deixar colocar em prática. A liberdade de ensinar e dizer o que é preciso ser dito sobre bancos, produtos financeiros ou outros temas não está à venda. Temos cotas de patrocínio, claro, mas precisei arriscar não ganhar nada, pois, como boa investidora, avaliei o custo de oportunidade da operação. Se der lucro, a Me Poupe! se beneficiará, caso contrário, sei que estou eu beneficiando milhões de pessoas que, talvez, nem tenham acesso à internet para chegar até meu conteúdo.
A pandemia mexeu com a vida financeira de milhares de pessoas. Isso fez com que os brasileiros, consequentemente, buscassem mais informações sobre economia, finanças?
Sim, vimos um aumento de visualizações nos nossos conteúdos e isso porque as pessoas realmente estão precisando. Em 2020, fomos eleitos como uma das 100 marcas mais lembradas durante a pandemia, justamente por falarmos sobre educação financeira. Seguimos trabalhando para que mais pessoas consigam passar por esse período turbulento, com apoio e conhecimento.
Você fala muito em renda extra e fundo de reserva no seu canal. E neste momento, muita gente sentiu na pele o quanto isso é importante. Qual a dica para quem deseja começar agora a poupar?
Tudo é questão de planejamento. O primeiro passo é organizar o quartinho das finanças: detalhe tudo o que ganha e seu custo de vida, separe tudo o que for fixo – gasto que não muda mês a mês –, do que for flexível – gasto com variação de preço. Isso vai te ajudar a entender para onde vai seu salário e o quanto é possível economizar. Agora que você já sabe quanto entra e quanto sai, tá na hora de se desafiar, pois o que ganha e o que gasta é o básico: parta para as metas, defina tudo o que quer para o seu dinheiro a curto, médio e longo prazo. Depois de saber onde está e aonde pretende ir, comece a poupar, nem que seja R$ 1 por mês. Lembre-se, existem alternativas que fazem seu dinheiro trabalhar para você – alô, juros compostos! – e elas são acessíveis. Sempre considere investir o dinheiro que separou para guardar. Pra quem nunca investiu ou poupou dinheiro nenhum é importante entender que mais vale começar com pouco, todo mês, do que esperar ter mais dinheiro para iniciar. Se você esperar, esse dia nunca vai chegar.
É preciso mudar radicalmente os hábitos para se tornar um bom poupador?
É preciso rever hábitos, pois se não está conseguindo poupar, algo não está certo. Reavalie custo de vida, entenda quais são os gastos que não estão cabendo dentro do orçamento. Viva sempre um degrau abaixo daquilo que se ganha. Não é preciso abrir mão de tudo para poupar, mas apenas se planejar.
E, para gente finalizar, uma curiosidade: você enfia o pé na jaca de vez em quando com o seu dinheiro, tem momentos de compras por impulso?
Não tem como você enfiar o pé na jaca se você se planejar para ter o que deseja. Tudo o que eu preciso, seja uma calça jeans ou um celular, vira uma meta e eu me planejo para ter isso. Não é preciso abrir mão de tudo para guardar dinheiro, somente se organizar. Planejamento é tudo.
Por Cibele Carbone