João Armentano fala sobre sua paixão pela arquitetura
Dono de uma mente irrequieta, João Armentano – símbolo da arquitetura brasileira– torna sonhos em realidade, ou melhor, em ambientes que antes só existiam no imaginário de seus clientes. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre sua carreira, profissionais em que se espelha e, claro,, sobre as mudanças que a quarentena trouxe no jeito de morar dos brasileiros.
“Eu estudei no colégio Rio Branco e, no primário, era amigo da Marina Zalszupin, filha do Jorge Zalszupin. E como eu já queria ser arquiteto, ela me recebia na casa dela, no Jardim Europa, e eu já fi cava admirado com a belíssima casa que ele tinha feito. O meu olho brilhava, principalmente quando eu o via, era como se estivesse na frente de um rei”
Paulistano do bairro da Lapa, quando criança, João Armentano já sonhava em se tornar arquiteto. “Eu estudei no colégio Rio Branco e, no primário, era amigo da Marina Zalszupin, filha do Jorge Zalszupin. E como eu já queria ser arquiteto, ela me recebia na casa dela, no Jardim Europa, e eu já fi cava admirado com a belíssima casa que ele tinha feito. O meu olho brilhava, principalmente quando eu o via, era como se estivesse na frente de um rei”, relembra sobre seus encontros com o grande arquiteto polonês Jorge Zalszupin, que faleceu este ano. O sonho se tornou realidade, e hoje é João quem desperta a admiração de muitos jovens arquitetos, que vislumbram alcançar o mesmo sucesso e reconhecimento que conquistou com muito trabalho e dedicação. Irrequieto e com a mente sempre em busca de novas inspirações, João, assim como todos nós, foi pego de surpresa pela pandemia provocada pelo novo Coronavírus, teve de mudar sua rotina. “Eu ficava pensando: ‘alguma coisa temos de aprender com isso…’ E a pandemia apresentou o tempo para todo mundo. Caiu a ficha de que a gente não precisa pegar o carro para ir trabalhar… Que dá para fazer home office. Eu, por exemplo, ganhei quase duas horas por dia para trabalhar, criar…” Após uma semana de quarentena, viajou para o interior e se isolou em sua casa de campo, de onde ficou trabalhando e tocando os projetos de seu escritório de arquitetura, que continuou a todo vapor, já que muita gente o procurou para fazer pequenas melhorias dentro de casa. “Esse esquema de home office deu tão certo que estou me questionando se realmente preciso de um escritório de três andares. De repente, posso ir para um local menor para receber clientes e fazer reuniões com a equipe… É algo que tenho pensado muito.”
“Esse esquema de home office deu tão certo que estou me questionando se realmente preciso de um escritório de três andares. De repente, posso ir para um local menor para receber clientes e fazer reuniões com a equipe… É algo que tenho pensado muito.”
Confira, a seguir, os melhores trechos da entrevista exclusiva que ele concedeu para Go Where:
João, como você se define profissionalmente?
Eu posso ser péssimo em diversas coisas, mas, graças a Deus, eu tenho uma sensibilidade com a arquitetura. Eu nunca quis ser outra coisa… Eu nasci para ser arquiteto. Eu sou um sonhador, sou uma pessoa que está conversando ao mesmo tempo em que está pensando em um projeto novo, sou criador.
Onde você busca inspiração para os seus projetos. A inspiração vem de viagens, de livros, vivências do dia a dia?
Não tem como marcar um horário e falar: agora eu vou sentar e criar. O profissional de criação, como o arquiteto e o publicitário, acha inspiração em tudo, no passarinho voando, no pôr do sol… Já pensou uma pessoa que trabalha com criação morar num país onde já amanhece e o dia está todo branco? Deve ser muito difícil… Aqui no Brasil, não, esse país é cheio de energia, de ginga, de personalidade. Toda minha inspiração vem de coisas boas, que me passem boa energia.
Quais os impactos que a pandemia causou no universo da arquitetura e decoração? O jeito de morar será diferente? O ambiente para o home office fará parte, definitivamente, da casa dos brasileiros?
Eu tenho certeza de que o home office é a nova realidade. De todos os empreendimentos que estamos lançando, todo mundo pergunta “onde é o home office?”. A gente já teve ondas de home theater, de espaço gourmet, mas a preocupação é com o home office, essa necessidade é real. Não adianta ter uma casa agradabilíssima, mas sem espaço para trabalhar, para fazer uma reunião. Outra coisa que mudou é que a gente vem de uma fase onde as casas são totalmente integradas, sem paredes, só com algumas áreas reservadas, mas, com a pandemia, as pessoas perceberam que as casas integradas tiram toda a privacidade e muita gente está me procurando para fechar algumas áreas da casa.
Dá para fazer um belo projeto gastando pouco?
Vou falar com toda sinceridade: um bom profissional é aquele que faz um bom trabalho, sabendo dimensionar os gastos. Vamos combinar que é fácil fazer um projeto sem se importar com o quanto vai gastar. Agora, um belo desafio é fazer um projeto com condições econômicas superviáveis. Eu visto a camisa da pessoa que me procura.
Quais suas grandes referências na arquitetura nacional e internacional?
É impossível um arquiteto brasileiro não falar do grande mestre, que é o Oscar Niemeyer. Há mais de 50 anos, ele criou um projeto com uma identidade muito forte. Eu entro na Oca, lá no Parque do Ibirapuera, e aquilo é um sonho de projeto, um espaço sensacional. A cabeça do Niemeyer era demais, tanto que todos seus projetos são eternos. Então, eu tenho sempre que valorizar o Niemeyer, porque ele é reverenciado no mundo inteiro. Outro profissional que tiro o chapéu é o Paulo Mendes da Rocha, um ícone de bom gosto, leveza e elegância. E a partir daí vão se abrindo os leques… O Ruy Othake é um mestre com seu traço oriental, o hotel Unique é uma obra-prima, um projeto único no mundo.
Já pensou em investir em projetos de habitações populares? Tem alguma obra social ligada à arquitetura?
Um dos meus sonhos, evidentemente, é conseguir solucionar o problema das habitações precárias nas periferias das grandes cidades… Como é a condição de vida de uma pessoa que vive em um barraco, com condições insalubres? Isso me incomoda muito! Eu tenho sonhos e projetos que visam solucionar esse problema de forma inteligente e com economia. Por sorte, eu tenho uma irmã que é muito inteligente, a Maria Angélica, e ela está indo atrás de um novo método construtivo, que vai ser economicamente mais viável e mais rápido. Estou sonhando com que ela desenvolva, cada vez mais, essas soluções para que a gente possa começar a aplicar com o governo e tentar resolver esse caos urbano. Não vejo a hora de tentar solucionar todo esse problema da habitação.
Para finalizarmos, o arquiteto polonês Jorge Zalszupin morreu em agosto deste ano, aos 98 anos, e ele era uma grande referência mundial em design… Você também se inspirou no trabalho do Jorge Zalszupin?
Totalmente! Eu estudei no colégio Rio Branco e, no primário, era amigo da Marina Zalszupin, fi lha do Jorge. E como eu já queria ser arquiteto, ela me recebia na casa dela, no Jardim Europa, e eu já fi cava admirado com a belíssima casa que ele tinha feito. O meu olho brilhava, principalmente quando eu o via, era como se estivesse na frente de um rei. Eu gosto muito do trabalho dele e, assim como o Oscar Niemeyer, suas casas e peças são eternas.
Por: Norberto Busto
Fotos: Divulgação