Fabiana Milazzo: a estilista que une bordados artesanais e tecidos tecnológicos

Com 25 anos de carreira, Fabiana Milazzo conquistou um espaço único na moda brasileira. Queridinha das mulheres que buscam peças feitas sob medida, a estilista mineira de Uberlândia transformou o artesanato local em um recurso para sofisticar e ressignificar itens básicos do guarda-roupa, tornando-os exclusivos e autorais.

Apaixonada pelo trabalho manual, Fabiana viajou ao Japão em busca de novas técnicas e referências. A experiência resultou na coleção Sakura, para a temporada 25/26, marcada por bordados minuciosos com pedrarias, flores de cerejeira em efeito tridimensional e organzas trabalhadas em tiras, que criam volumes em relevo. O grande destaque é o tecido Liquid, um material italiano de brilho intenso e aparência futurista. Nesta entrevista, a estilista compartilha detalhes sobre a nova coleção, inspirações e os caminhos da marca.

A moda mineira tem tradição em valorizar bordados e trabalhos manuais, algo cada vez mais associado ao mercado de luxo. Como você enxerga esse momento?

Em Minas, temos muita mão de obra artesanal. Quando esses trabalhos se unem ao design, surgem produtos que, mesmo não sendo exclusivos, carregam riqueza de detalhes e identidade. É isso que o mercado de luxo busca: peças autorais, com diferenciação e caráter especial.

No Japão, você encontrou semelhanças com essa valorização do manual. Trouxe alguma técnica de lá para a coleção?

As técnicas em si não eram novidade para mim, mas o que mais me impressionou foi a precisão e o cuidado dos japoneses com a excelência. Isso transformou minha forma de olhar para o processo criativo. A coleção Sakura nasceu desse contraste: a tradição do trabalho manual e a força tecnológica do Japão.

Como foi esse processo de pesquisa e qual o ponto de encontro entre Japão e Minas na sua coleção?

Sempre sonhei em ver de perto a floração das cerejeiras. Sou encantada por árvores em flor e quis viver esse momento. A beleza intensa, porém breve, me marcou. No Japão, percebi a convivência harmoniosa entre tradição e tecnologia, e quis traduzir isso na coleção: tecidos tecnológicos aliados a bordados delicados. Esse contraste traz leveza, sofisticação e transmite a delicadeza que senti nas pessoas e no país.

FOTO: Divulgação/Marcelo Soubhia

O tecido Liquid foi uma das grandes novidades. Como você o descobriu e o que ele trouxe para a coleção?

Conheci esse material na feira Première Vision, em Paris. Ele é único: não dá para criar moulage em outro tecido e depois transferir, é preciso trabalhar diretamente nele. O Liquid cria movimentos próprios, traz dinamismo e dá às peças uma aura futurista. Cada passo da modelo gera um efeito surpreendente.

Sua modelagem é sempre feminina e delicada, até mesmo no jeans. Qual o segredo para manter sua assinatura em cada peça?

Minha criação é intuitiva e muito ligada ao que sinto. É um reflexo da minha personalidade. Essa conexão pessoal garante que, independentemente do tecido ou da inspiração, minha identidade esteja sempre presente.

Algumas de suas peças levam semanas para serem produzidas. Há alguma criação que tenha sido especialmente marcante?

Alguns vestidos podem levar até um mês para ficarem prontos, principalmente os de alta costura. Essas peças permitem explorar técnicas novas e experimentar soluções inéditas, o que enriquece o design. Muitas vezes, trago elementos desse processo para coleções mais acessíveis, como cocktail dresses ou roupas casuais, mantendo o DNA autoral.

Quem é a mulher que usa Fabiana Milazzo?

Ela se identifica muito comigo: valoriza a feminilidade, a sofisticação e a qualidade do design. É uma mulher que trabalha, viaja, se cuida, busca versatilidade e deseja sensualidade na medida certa. Quer praticidade, mas sem abrir mão de peças autorais que tragam elegância ao cotidiano.

São 25 anos de marca. Como se manter relevante por tanto tempo e quais são os próximos passos?

Acredito que a relevância vem do amor e da dedicação ao que faço, somados a uma equipe incrível que compartilha o desafio de inovar. Ter pessoas capacitadas e comprometidas é essencial. Para o futuro, quero manter a marca atual e forte, ampliar o time — especialmente de mulheres — e continuar criando roupas autorais, femininas e leves. Prezo pela leveza em tudo: nas peças e também nas relações profissionais.

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Por Mariana Gallo
FOTOS: Divulgação/Marcelo Soubhia