Conheça a história da Guayabera, a camisa que conquistou a América Central

A Guayabera é a icônica camisa que representa a história de vários países centro-americanos. Esta peça legítima é rica em tradições, e tem um grande significado nacional, regional e cultural. Discutir sua origem e história é quase um trabalho acadêmico — que até já rendeu uma exposição em 2012 chamada The Guayabera: A Shirt’s Story no Museu de História de Miami, Estados Unidos. A grande maioria dos historiadores concorda que sua origem foi em Cuba, mas temos várias versões para sua criação. A reportagem de Go Where Lifestyle foi até Cuba descobrir um pouco mais deste universo que mistura moda, cultura e política, e traz aqui um pouco mais sobre este ícone fashion da América Central.

Goiabas e Yayabo

Alguns pesquisadores acreditam que o traje surgiu nas Filipinas, em uma versão chamada de Barong Tagalog (ou Barong ou Baro), que é considerada a roupa nacional do país. Uma camisa leve, muitas vezes de tecidos simples e bordada. Estudiosos sugerem que o barong chegou a Cuba através do México, por influência de comerciantes de escravos. Os cubanos, por outro lado, reivindicam a história do trabalhador e de sua esposa, com referências à guayabera na literatura cubana, desde a década de 1890. Segundo esta versão, os imigrantes espanhóis, José Pérez Rodríguez e sua esposa, Encarnación Núñez García, ao chegarem a Cuba se estabeleceram perto do Rio Yayabo, em Sancti Spiritus. José pediu a sua esposa que fizesse uma camisa com mangas mais longas e quatro bolsos para guardar seus charutos, pertences e “otras cositas” enquanto trabalhava. Como era muito prática, logo começou a ser copiada na região que tinha uma grande produção de goiabas cultivadas pelos guayaberos (produtores de goiaba) que a utilizavam para levar as guayabas (goiabas), dando outra versão para o termo Guayabera. Outra versão vem do termo Yayabero, usado para designar as pessoas da região do rio Yayabo, em Cuba. Logo surgiram outras versões como a Guaybera Habanera, Camayguana, Sancti Spiritus e outras províncias.

FOTO: Divulgação

Cuba e charuteiros

Em Cuba, nos dias de hoje, a peça de roupa vem morrendo lentamente como tradição popular, a ponto de estarem sempre associadas ao governo. Os turistas podem encontrar guayaberas à venda em várias lojas, mas a qualidade deixa um pouco a desejar, segundo constatou a reportagem de Go Where. Por outro lado, ela ficou muito popular entre os charuteiros pela praticidade dos bolsos. Dá para colocar porta-charutos, cortador e isqueiro em cada bolso diferente. O produtor de charutos Don Fernando (@guayaberasdf), que é cubano, resolveu trazer a Guayabera para o Brasil e produz localmente vários modelos de excelente qualidade. Outro produtor mais recente é a @guayaberabr. 

Uma camisa, vários nomes

Por ter se espalhado pelo Caribe, ela pode ter diferentes nomes como Mexican Wedding Shirt, Cuban Shirt, Chacabana (República Dominicana), Shirt-Jac (Trinidad & Tobago e Guiana), Guayabel (Haiti) e Bush Jacket (Jamaica). Independentemente da verdadeira origem das camisas, seus laços com a cultura, a história e a sociedade hispânicas são claros. Continua sendo um pilar e ícone do estilo hispânico, com guayaberas sendo usadas em várias ocasiões, manga curta para o dia a dia ou manga longa para eventos mais formais.

FOTO: Divulgação

Uniforme militar

Outra versão da história relata que a guayabera surge como uma releitura de uma camisa usada pelo exército espanhol durante a guerra hispano-americana (1898), que libertou Cuba do domínio espanhol. O uniforme era feito com um tecido chamado rayadillo (material listrado azul e branco) e tinha quatro bolsos perto da bainha para colocar munição dos rifles utilizados na guerra.

Versão mexicana

Após a revolução cubana em 1959, os fabricantes no México ganharam destaque na produção desta camisa e introduziram bordados que simbolizavam a tradição têxtil da cultura maia. Neste momento, ela recebe o nome de camisa de Yucatán ou “camisa de casamento mexicana”. Ela tornou-se um item básico para casamentos na praia, com seu tecido de linho e cores claras que mantêm o corpo mais fresco com o calor, em um estilo que pode passar mais formalidade. Na década de 1970, ela fica ainda mais popular quando o então presidente Luis Echeverria começou a usar as camisas em eventos públicos para se conectar à população. Até hoje é muito comum ver políticos utilizando guayaberas quando fazem campanha. 

FOTO: Divulgação

Exclusive Interview 

Emiliano Nelson

Emiliano Nelson é atualmente o responsável pela nova imagem da Guayabera, em Cuba. Com desenhos diferenciados e produção taylor made, ele é uma referência no assunto e nos recebeu para uma entrevista em seu atelier em Havana, Cuba.

Como você começou a produzir Guayaberas? 

Em 1992 fui trabalhar em um fábrica de Guayaberas que não produzia mais este tipo de peça. Fiz uma primeira para um figurino de teatro e, a partir daí, comecei a me interessar e estudar mais sobre suas origens.

O que define a Guayabera cubana?

É uma peça que tem quatro bolsos frontais e três alforzas frontais, além de três nas costas. Alforza é o nome dado à técnica de costura que faz dobraduras no tecido. 

Com relação ao tecido, qual é o mais utilizado?

Pode ser qualquer tipo de tecido, mas o mais tradicional é o linho e o algodão.

A Guayabera tradicional tem mangas longas ou curtas?

A tradicional tem mangas longas e pode substituir um terno em cerimônias oficiais, enquanto a de manga curta é mais utilizada no dia a dia.

Quantos modelos já criou e qual o mais diferente?

Já fiz mais de 100 desenhos diferentes, mas uma das mais conhecidas é a que leva a bandeira cubana na parte de trás. Foi um pedido do cantor cubano Issac Delgado que estava lançando um disco chamado Super Cubano e queria um traje que representasse toda sua cubania. 

Você já produziu Guayaberas para muitos clientes famosos. Pode citar alguns?

Em Cuba já fiz modelos para Compay Segundo, Chucho Valdez, Alicia Alonso e outros dirigentes cubanos. Também fiz algumas peças para artistas e cantores como Dany Glover, Sting, Ozzy Osborne e até para a Filarmônica de Nova York, além de presidentes e políticos de outros países do caribe.

A Guayabera acabou virando um traje para os apreciadores de charutos?

Sim. Tive a oportunidade de participar de algumas edições do Festival del Habano, maior evento de charutos do mundo e muitos aficionados viraram clientes.

Como uma pessoa pode ter uma peça exclusiva feita por você?

O ideal é entrar em contato comigo e agendar uma visita, assim posso tirar suas medidas, definir o tipo de tecido, cor e aí, entre 3 a 5 dias, vou produzir a Guayabera.

FOTO: Divulgação

@enelsoncollection
WhatsApp +53 5 2639554

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POR: Cesar Adames
FOTOS: Divulgação