Confira o novo mapa do mercado de charutos no Brasil e as marcas disponíveis por aqui
Há alguns anos, falar em charutos era sinônimo dos tradicionais “Puros Habanos”, produzidos na ilha de Cuba. Eles foram os pioneiros, com marcas reconhecidas até hoje, como Montecristo, Partagas, Romeo y Julieta e Cohiba. Porém, seu domínio mundial e também aqui no Brasil vem sendo ameaçado cada vez mais por charutos produzidos em outros países. O grande destaque é a Nicarágua, que até os anos 1960 praticamente só plantava tabaco. Até que surgiu a primeira fábrica de charutos, a Joya de Nicarágua, em 1968. De lá para cá, vários produtores, a grande maioria cubanos, que deixaram a ilha por conta da revolução cubana, começaram a produzir charutos para atender ao mercado norte-americano que, por conta do embargo, não podia receber nenhum produto produzido em Cuba. Foi assim que começaram a surgir grandes marcas como A.J. Fernandez, Oliva, My Father, além da pioneira Joya de Nicarágua.
Um começo difícil
Ao voltarmos no tempo, 30 anos atrás, encontramos um programa nacional do governo da Nicarágua dedicado a remover milhares de minas terrestres não detonadas, que ocupavam toda a parte norte do país, onde fica a região de Esteli, grande produtora de tabaco, matéria-prima para produção dos charutos. Esta foi uma triste herança da guerra contra os Contras ou FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional), partido socialista que assumiu o poder na Nicarágua desde a vitória da Revolução Sandinista e o fim da ditadura de Anastasio Somoza.
Naqueles tempos, o país lutava para produzir até um milhão de charutos por ano, sendo superado por nações como a Jamaica e o México. O jogo mudou quando o país mais pobre da América Central passou a produzir um dos tabacos mais ricos do mundo, utilizado para produção de charutos premium, para o mercado norte-americano. Esta virada de jogo fez com que eles exportassem mais charutos para os Estados Unidos do que qualquer outra nação, superando em muito Honduras e até mesmo a República Dominicana, que dominou o mercado por décadas.
Números que impressionam
No ano passado, 456 milhões de charutos feitos à mão (existem os feitos à máquina) foram enviados para os Estados Unidos, de acordo com a Cigar Association of America. As remessas aumentaram 25,3% em relação a 2020. Donos de tabacarias disseram que as importações contam apenas parte desta história, pois os charutos também estão sendo vendidos em números recordes. Os três maiores produtores de charutos registraram ganhos em 2022, todos significativos. A Nicarágua, líder de mercado, embarcou 240,9 milhões de charutos em 2021, um aumento de 29,4% em relação aos números de 2020. Sozinha, ela responde por mais da metade das remessas de charutos para os Estados Unidos, 52,8%. A República Dominicana registrou um ganho de 22,5%, enviando 129,5 milhões de charutos. Honduras teve um aumento de 18,3%, com 84,2 milhões de charutos artesanais.
Enquanto isso no Brasil
Por aqui, os números também seguem crescendo. Atualmente, o mercado tem à disposição dos apreciadores 70 marcas de charutos à venda, segundo a Cigar Consulting, empresa que acompanha a movimentação deste mercado. São 13 marcas produzidas no Brasil, 12 produzidas em Cuba, 10 na República Dominicana, além de charutos de Honduras, Alemanha, Costa Rica, Suíça e Itália. Quem lidera com ampla vantagem é a Nicarágua, com 27 das 70 marcas comercializadas.
Além da grande oferta, o consumo praticamente dobrou durante o período da pandemia. Com as pessoas em casa e o home office, quem apreciava um charuto dia sim, dia não, passou a degustar todos os dias. Quem consumia um por dia aumentou para dois, novos pontos de venda surgiram e as vendas online explodiram.
Com a oferta de tantas marcas, o consumidor pode ficar confuso por onde começar, pois cada uma delas tem diferentes formatos e linhas de charutos no seu portfólio.
Conheça algumas das principais marcas que estão à venda no mercado.
Joya de Nicarágua: a mais antiga e conhecida na Nicarágua, fundada em 1968. Tem 15 linhas distintas com blends (misturas) e formatos diferenciados. Vale a pena começar com a linha Joya Clássico Original, seguir para Joya Clássico Medio Siglo e depois apreciar a linha Joya Antaño, mais encorpada e potente.
AJ Fernandez: nasceu no interior de Cuba, na área de San Luis de Pinar del Río. Seu pai, Ismael, e seu tio trabalhavam para o departamento agrícola do governo, especificamente para o tabaco. Aos 13 anos, Fernandez ia direto para uma fazenda de tabaco chamada Finca La China depois da escola. Em 2003, Fernandez deixou sua terra natal para a Nicarágua, onde começou a enrolar charutos para clientes como Rocky Patel. Logo em seguida lançou sua primeira linha de charutos a San Lotano com cinco blends e formatos diferentes. Hoje, Fernandez possui uma das maiores operações de charutos premium da Nicarágua e outras linhas como Belas Artes, Enclave, New World e Belas Artes
My Father: Jose Pepin Garcia e sua família fundaram uma pequena fábrica em Little Havana, em 2003, logo depois de deixarem Cuba. A primeira marca produzida recebeu o nome de Don Pepin Garcia Original (conhecida como Don Pepin Blue Label), em 2006 expandiu a linha com Don Pepin Garcia Cuban Classic, também conhecida como “Black Label”, seguida pelo Don Pepin Garcia Series JJ, que usa uma faixa branca. Em 29 de agosto de 2009 abrem uma grande fábrica em Esteli na Nicarágua, com 30 mil metros quadrados. O filho de Garcia, Jaime, secretamente criou um novo blend de charutos e batizou com o nome de My Father, em homenagem a Pepin. Hoje, Pepin, Jaime e a filha Janny Garcia controlam a My Father Cigars, que produz milhões de charutos por ano. Outra marca produzida por eles é a Flor de Las Antillas, lançada em maio de 2012, que faz referência a Cuba, maior das ilhas do Caribe. Atualmente são 21 linhas de produtos com mais de 100 formatos.
Oliva: Melanio Oliva cultivou sua primeira safra de tabaco em Pinar Del Río, Cuba, em 1886. Suas operações de cultivo foram suspensas enquanto ele lutava na Guerra da Independência de Cuba. Após retornar da guerra, Melanio retomou suas operações de cultivo de tabaco. No início dos anos 1920, o filho de Melanio, Facundo Oliva, assumiu as operações de cultivo. Facundo cultivou os campos de tabaco da família Oliva por várias décadas. Após a revolução cubana a paisagem do tabaco mudou. O filho de Facundo, Gilberto Oliva, mudou os negócios da família, de cultivador para negociante. No início dos anos 60 a pressão tornou-se muito grande e Gilberto viajou de país em país em busca de condições para recriar aquele sabor característico cubano. Suas viagens o levaram a Honduras, Panamá, México e até mesmo às Filipinas. Algum tempo depois, Gilberto finalmente encontrou um terreno fértil na Nicarágua e, em 1995, abriu as portas de sua primeira fábrica de charutos. Hoje em dia a família Oliva é o segundo maior produtor de sementes cubanas na Nicarágua. Usando métodos testados de secagem, blend e enrolamento, eles construíram um império com mais de 16 linhas e 90 charutos diferentes que conquistaram vários prêmios da indústria e consumidores, culminando em charuto do ano em 2014 pela revista Cigar Aficcionado.
GOTF – Guardian Of The Farm: em 1998, Eduardo Fernandez foi para a Nicarágua com um sonho: cultivar o melhor fumo do mundo que capturasse a própria essência dos charutos cubanos de outrora. Para fazer isso, ele viajou a Cuba e montou uma equipe de agrônomos cubanos de classe mundial. Esses homens supervisionaram a produção de tabaco durante o apogeu dos charutos cubanos e conheciam o gosto pelo qual eram famosos e viram que podiam recriar o estilo e o aroma da folha cubana usando métodos cubanos tradicionais em conjunto com os recursos disponíveis na Nicarágua. Mais de 20 anos e inúmeros prêmios depois, Aganorsa Leaf é conhecida em todo o mundo por seu sabor característico, que possui todos os grandes atributos do terroir da Nicarágua, juntamente com o aroma e sabor cubano clássicos. O Guardians of the Farm foi criado em homenagem aos American Bulldogs que guardam a fábrica e os campos da Aganorsa Leaf na Nicarágua. Cada bitola tem o nome de um destes protetores caninos, (JJ, Rambo, Campeon e Apollo).
Vale a pena experimentar
Flor de la Vega, CR, Don Fernando, D.O.C. El Faraón, Esperanza, Fratello, Gentili, Gurkha, Leon, Los 3 Catedráticos, Luiz Martinez, Mombacho, Perceverância, Perla del Mar, Pichardo, Quorum e Siboney são outras marcas disponíveis no mercado, todas produzidas na Nicarágua.
Onde encontrar
Charutos 2 GO – Showroom dedicado a charutos e acessórios de charutaria, especializado em OffCuba.
Avenida Jamaris, 100 – cj 203 – Indianópolis
Tel.: (11) 97211-9571
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Por Cesar Adames
Fotos Daniel Cancini
Produção Sidney Osiro