Confira as principais novidades do Museu do Ipiranga para este ano

Nesses 30 anos do Grupo GoWhere, muita informação e uma enormidade de pessoas estiveram em nossas páginas. É proposital essa releitura da história de nossos editoriais, até porque nos deparamos com importantes momentos, que nos faz refletir como tudo evoluiu – e melhorou. A matéria sobre o Museu do Ipiranga, que foi publicada na primeira edição da GoWhere, em 1995, trazia como destaque os 100 anos do Museu. Assinada pela jornalista Maricy Guimarães, enfatizava que não faltavam bons motivos para visitar o Museu Paulista, popularmente conhecido como Museu do Ipiranga. Maricy abrangia ainda a importância do centenário, beleza histórica do edifício e todos os atrativos que envolvem o complexo, do Jardim ao Monumento da Independência, sem esquecer-se do importante acervo. Pois bem, 30 anos passados da realização dessa matéria, o Museu do Ipiranga reabriu recentemente depois de passar uma restauração completa (2019-2022). Está impecável e com exposições permanentes e itinerantes importantes para a cidade de São Paulo e seus visitantes. Com um acervo de 450 mil itens, entre obras de arte, mobiliário, peças de indumentária, medalhas, selos, moedas e objetos cotidianos que narram a evolução dos usos e costumes do país desde o século 16, o Museu do Ipiranga é uma das sedes do Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Com 49 salas expositivas no Edifício-Monumento divididas em quatro pavimentos, o Museu do Ipiranga abriga 11 exposições de longa duração que apresentam um panorama da História e da cultura material brasileira. Conta ainda com uma sala expositiva climatizada no Piso Jardim, com 900m2, pronta para receber exposições temporárias que articulam os conteúdos presentes no Edifício-Monumento a temas da atualidade. Ainda entre as atrações, há o Mirante no topo do Edifício-Monumento, permitindo a vista em 360º do entorno do Museu, construído durante a reforma de cerca de três anos. Para celebrar este importante momento, conversamos com o Prof. Dr. Paulo César Garcez Marins, diretor do Museu.
Professor, até para fazer um link com os 30 anos do Grupo GoWhere, o que o senhor caracteriza que foi mais importante nesse período para o Museu Paulista (Ipiranga)?
Foi efetivamente o nosso restauro, a ampliação. Inclusive, porque foi o maior investimento até hoje da Lei Rouanet na recuperação de um museu no Brasil. Foram mais de 180 milhões de reais, e 25 patrocinadores. A reabertura do museu no Bicentenário da Independência foi algo construído por muitas pessoas. O que no momento de crise política que a gente vivia foi muito emocionante, sabe? Ali, para a reabertura do museu, estavam trabalhando a USP, a quem o museu pertence, mas tivemos uma colaboração fundamental do Governo Federal, do Governo Estadual e do Governo Municipal. Tudo isso durante a pandemia. A própria Universidade de São Paulo investiu 70 milhões de reais, e no total chegamos a quase a 250 milhões de reais de investimentos. Como transformar um símbolo da independência do Brasil, um museu que era muito menor – e também bem tradicional – num museu do século XXI.

FOTO: Divulgação/José Rosael
Como foi o impacto do público depois da reforma pela qual o Museu passou?
A reformulação praticamente fez com ele se tornasse outro museu. Em primeiro lugar, nós conseguimos triplicar a área expositiva, ou seja, tínhamos praticamente um piso e meio voltado para exposições, e hoje são cinco pisos. Depois, nós conseguimos, com essa obra, dotar o prédio de equipamentos, espaços que nós não tínhamos por conta da restrição do prédio antigo. Nós hoje chegamos ao Museu do Ipiranga por um novo piso que está na altura do Jardim Francês, que fica em frente ao museu, e esse piso, que é completamente novo, não existia. Tem um auditório para 204 lugares, onde realizamos eventos científicos, palestras, apresentações musicais, eventos culturais e um grande espaço. Nós dinamizamos a nossa ação cultural dentro do museu para além das exposições.
Outro fator positivo é que o Museu pode expor, por exemplo, mais peças do acervo?
Essa dimensão de visibilidade nas nossas coleções é algo fundamental, que também se processou a partir desta reabertura do prédio, porque nós temos quatro mil objetos do Museu expostos no edifício, o que é uma imensidão, mas a coleção contempla 400 mil itens. O Museu do Louvre, por exemplo, expõe 1% do acervo que eles detêm. Importante ter esses espaços de exposições temporárias para que nós possamos trazer outros objetos das reservas técnicas, também das nossas próprias coleções, não só de colecionadores particulares ou de outras instituições, mas da nossa própria instituição.

FOTO: Divulgação
Quais as outras novidades?
No hall de acolhimento do prédio, nós temos agora um café e uma livraria da editora da Universidade de São Paulo, que é a que mais vende no nosso estado, porque o fluxo de público é muito grande. Dotamos o prédio de novas funcionalidades, além de um espaço muito emblemático do museu, que é o terraço panorâmico do prédio (temporariamente fechado para manutenção), que também não existia no alto do edifício, e que permite uma vista de 360 graus em torno do prédio. Tivemos não só a recuperação de todas as áreas antigas, mas a ampliação com áreas novas e, claro, resolvendo também problemas tradicionais do prédio, como a questão da acessibilidade.
Além da estrutura física, o que mais mudou conceitualmente?
De 2022 para cá, mudou a maneira como abordamos a história do Brasil e a história de São Paulo a partir das nossas coleções. Porque o museu, tradicionalmente, foi sempre associado à memória das elites de São Paulo, sobretudo das elites de 400 anos. Fomos uma instituição que narrou a história de São Paulo e a história do Brasil. Por conta justamente do museu não ser apenas área expositiva, mas ter uma grande biblioteca, um grande arquivo, e publicar uma revista histórica desde 1922.

FOTO: Divulgação/ Heloisa Bortz
Com isso entra também a questão política?
Sim, até porque a gente está no Ipiranga, o lugar da declaração da ruptura política com a metrópole, mas, sobretudo, um lugar afeito à memória das elites paulistas cafeiculturas e dos seus ancestrais bandeirantes. Então, essa era a missão do Museu em quase todo o século XX. A partir de 1990, o museu foi sendo reorientado para uma perspectiva de incluir novos agentes sociais nas suas coleções. Então, nós as ampliamos em direção a camadas populares, a populações indígenas afro-brasileiras, a imigração, que é tão marcante aqui em São Paulo. Então, de 1989 para cá, o museu foi efetivamente ampliando as suas coleções e realizando também a releitura das mais antigas.
Qual o exemplo prático?
Um bom exemplo é um prato que pertenceu ao Barão de Iguape. Mas quem fez o prato? Quem desenhou o objeto? Quem vendeu para o Barão de Iguape? Quem herdou o prato? Quem lavava? Quem doou para o museu? Os objetos têm uma biografia complexa. E nós, muitas vezes, prestávamos atenção apenas num detalhe da biografia desses objetos. Então, além de adquirir novas coleções, também procuramos reler antigas coleções, procurando entender quais outros direitos sociais aquela coleção antiga informava. A partir, portanto, dessas mudanças é que nós concebemos as exposições. São 11 exposições de longa duração que estão articuladas em dois eixos.

FOTO: Divulgação/ Hélio Nobre
Porcelanas chamam muito a atenção do público. Como é organizar esse acervo para expor?
Porcelana é um objeto muito delicado. Aliás, não só porcelanas. Como é que a gente expõe louças? O que nós tínhamos no Museu antigamente? Nós tínhamos louças de Limoges. Produzidas na França no século XIX, com monogramas da elite do café. Nós continuamos tendo isso. Mas nós também compramos também Duralex. Aquela louça popular, indestrutível. E outras que foram muito comuns aqui no Brasil nos anos 70 e 80. A gente tem porcelana paulista. Fabricada aqui em Mauá. Temos porcelanas ligadas à imigração japonesa. De uso diário. Ou seja, a gente alcança todos os estados sociais.
Qual é a grande novidade do Museu para 2025?
Vamos inaugurar, em maio deste ano, uma grande exposição sobre imigração alemã e italiana no Rio Grande do Sul, a partir de uma coleção privada. Ou seja, pensar que o Museu Paulista não é ir ao Museu do Ipiranga, não é apenas o Museu de São Paulo ou sobre São Paulo, mas sobre outros contextos brasileiros. É uma coleção incrível ligada a objetos da vida cotidiana, que pertence a um casal de colecionadores do Rio Grande do Sul e que vai mostrar essa diversidade cultural de povos que mudam de continente, na verdade, tem que se adaptar num novo contexto econômico, num contexto ambiental também. Também teremos, no segundo semestre, uma exposição sobre leituras do Jean-Baptiste Debret, um pintor francês que participou da missão artística francesa aqui no Brasil no século XIX por artistas contemporâneos.

FOTO: Divulgação/ Heloisa Bortz
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POR Aroldo de Oliveira
FOTO DESTAQUE: Divulgação/ José Rosael
FOTOS: Divulgação/ José Rosael, Divulgação Museu Paulista, Divulgação/ Heloisa Bortz e Divulgação/ Hélio Nobre