Amaury Jr: o mestre do colunismo social

Sempre agradável em suas entrevistas, o apresentador Amaury Jr. – que está há 37 anos no ar –, sem dúvida alguma, é o grande mestre brasileiro do colunismo social na televisão. Mas nem por isso o astro da Rede TV! deixa de arrancar grandes confissões de seus entrevistados. Afinal, como ele mesmo faz questão de dizer, com docilidade é possível perguntar o que se quer. E aqui, nesta entrevista exclusiva – e cheio de dulçor! – foi a vez de Amaury responder as perguntas que muita gente sempre quis lhe fazer (formuladas por nós, da Go Where, e por oito personalidades que já passaram pelo seu programa).
Você está há 37 anos com seu programa no ar. Agora que chegou aos 70, não está na hora de parar e curtir os netos?
Ao contrário, me considero com uma experiência bem mais afinada para aperfeiçoar minhas reportagens e entrevistas. Talvez seja hora de um novo projeto, conservando o DNA do programa, pois tudo mudou com o COVID-19. Um novo formato pode ser renovador e estimulante, onde eu ficaria à vontade para fazer apenas o que me dá prazer. Quanto aos meus netos, curto os quatro, e muito, mesmo no batente.
Ainda está faltando alguém, no cenário nacional, que gostaria de entrevistar?
Sempre tem mais alguém. Os valores mudam, novos líderes aparecem, influencers, gente criando um novo olhar no mundo sobre os fatos. Mas vou falar de novo de Marisa Monte, porque nunca deu certo entrevistá-la. E como sou fã incondicional, fico inconformado. Também pode ser que ela não queira…
Suas entrevistas seguem uma linha suave, agradável, com perguntas doces. Não acha que deveria ter apertado mais os entrevistados?
Entrevistar é uma arte, todos sabem. Com docilidade você pode perguntar o que quer, dando ao seu convidado oportunidades de defesa se o assunto for muito delicado. O que nunca deixei de fazer é tocar nos pontos fundamentais da pauta. Acho que com agressividade nada se resolve. Por isso prefiro sempre ser um entrevistador no conceito original da palavra, do que ser inquisidor. Acredito que está dando certo, primeiro porque nunca recebi um não, e olha que tenho mais de 50 mil nomes na minha lista de entrevistados no programa.
Sua relação com o Conrad, em Punta Del Este, foi marcante e você divulgou o cassino durante anos nos seus programas. Acha que teve uma compensação financeira justa? E, aproveitando, acha que os jogos devem ser legalizados aqui no Brasil?
Foi uma relação próspera tanto para o Conrad como para o programa. O público adorava descobrir Punta e o Uruguai através das reportagens. Muitas vezes o conteúdo se curva ao dinheiro em função do brilho do programa. Só para se ter uma ideia, entrevistei ao longo da nossa temporada no Conrad personalidades como Shakira, Paul Anka, Charles Aznavour, The Beach Boys, Olivia Newton John, Liza Minelli, Roberto Carlos, Rita Lee, Maria Rita, James Brown, Dionne Warwick, só para citar apenas alguns. Acabamos nos transformando no arauto do Conrad no Brasil. Agora o Enjoy, novo nome do Conrad, promete voltar com o mesmo entusiasmo dos velhos tempos. Tomara.
Você sempre foi um homem muito assediado por belas mulheres. Como você lidava com esse assédio? Teve paixões, mesmo que platônicas, que surgiram daí?
Assédio? Tenho muitos, todas querendo falar dos seus projetos no meu microfone. Amor platônico? Sarah Brightman.
As suas saídas das emissoras de TV em que trabalhou foram muito tumultuadas. Por que sempre esse estresse?
São tumultos benignos porque sempre houve muito respeito entre nós. Talvez eu seja o mais pacífico dos apresentadores. E se houve rancor, que na lente de aumento da imprensa pareceu tumulto, foram por razões de pequenos detalhes insignificantes, hoje eu sei disso, que poderiam ser evitados.
Qual o apresentador mais genial da televisão? Hebe, Chacrinha, Faustão, Flávio Cavalcante, Silvio Santos…
Não há parâmetro de comparação. É o mesmo que comparar Fernanda Young e Martha Medeiros como escritoras. Ambas são geniais, mas cada uma no seu estilo. Hebe nada tem a ver com Chacrinha, de quem fui jurado. Fui jurado também do Flávio Cavalcante, um revolucionário na TV. E o que falar do Faustão e do Silvio Santos? Cada um na sua seara, com seu jeito, seu vocabulário, sua descontração. Mas sinto muita falta do Jô Soares e seu savoir faire.
A TV brasileira acaba de completar 70 anos e a Globo fez uma retrospectiva dessa história, mas falaram muito pouco sobre você. Ficou ressentido? Acha que merecia mais espaço? Afinal, você é o símbolo do colunismo social na televisão!
Acho que não falaram nada, bem como omitiram muitos nomes. Mas já me acostumei. E quanto a Globo, sou muito grato pelas aberturas que me deu. Por exemplo, nunca proibiram nenhum artista de falar conosco, afora os programas que fui convidado.
O seu estúdio de gravação fica em uma belíssima casa na Rua das Guianas, que passou por uma grande repaginação, tornando-se o Casa-Studio Amaury Jr. Fale um pouco sobre esse projeto.
Foi uma reforma que deu muito trabalho. E só conseguimos levantar o cenário, uma obra prima da designer Iara Kílaris, pela obstinação de Nadia Guimarães. Agora falta um projeto novo para estrear lá. A pandemia embaraçou tudo que havíamos planejado, mas nossa estreia está prestes a surgir. Aguardem que é coisa boa, feita com carinho e profissionalismo.
Você exercitou seu lado empreendedor com o Clube A e com a revista Flash, mas esses dois projetos não foram para frente. O que acha que deu errado?
O erro no Club A foi tentar reeditar o glamour do Gallery. Não havia mais circunstância para isso, a noite já havia sofrido um processo de mutação. Depois, cabiam quatro vezes o Gallery no Club A. Minha inexperiência de administrador de casa noturna contribuiu para o projeto arrefecer. Mas valeu enquanto durou pela experiência adquirida e a criação de um clube que se alinhou entre os mais bonitos do mundo. Da revista Flash também só sobrou experiência, dinheiro nenhum. Fazer uma publicação semanal de alto nível em conflito com as pessoas envolvidas, editora gráfica e etc, foi um delírio. Mas sobrou também experiência.
Você já escreveu livros, teve filhos, construiu uma carreira de sucesso… O que ainda falta fazer?
Já escrevi vários livros, tive filhos e netos, sem arredar pé do trabalho. O que falta fazer? As muitas ideias que brotam todos os dias, mas sem apoio e financiamento. Quem se habilita?
Para finalizar: o seu saldo de vida até hoje é positivo. É famoso, ficou milionário, viajou o mundo, frequentou os melhores restaurantes, se hospedou em castelos… Você imaginava, quando saiu de São José do Rio Preto, que seu trabalho iria lhe proporcionar tudo isso?
Quem está há 40 anos no ar garante notoriedade. Conheci mesmo o que há de melhor graças às minhas viagens e festas. Não tenho grandes ambições, mas tudo que desejei, consegui. Não foram proporcionadas pelo fator sorte, como alguns dizem, mas fruto de perseverança e muito trabalho.
PERGUNTAS DOS FAMOSOS
WASHINGTON OLIVETTO: Qual entrevista esperava ser espetacular e não foi? E qual achava que seria mais ou menos e foi espetacular?
Não espera muito da viúva de Elvis Presley, a Priscila. E foi espetacular, ficou conosco mais de uma hora. E esperava tudo de Luiz Fernando Veríssimo, meu escritor predileto. Mas ele é monossilábico e não resultou em muita coisa.
CESAR FILHO: Qual a personalidade mais surpreendente (não a mais a importante!) que já entrevistou?
Para citar só uma, e recente, o Leandro Karnal. Poucas vezes vi uma erudição tamanha e facilidade para se expressar. Ele é o entrevistado mais surpreendente que conheci nesses últimos tempos, com gatilho rápido e precisão nas respostas.
MARCELO DE CARVALHO: Qual foi sua entrevistada mais linda, aquela que – com todo respeito à Celina – lhe tirou o fôlego?
No passado foi Claudia Cardinale, que entrevistei no Brasil. No presente, Diana Krall, que me deixou boquiaberto. Nem precisava da sua magistral música para compor o seu magnetismo.
JOSÉ LUIS GANDINI: O que se arrependeu de não ter feito na sua vida?
De ter colocado no ar, primeiro, Roger Abdelmassih e, depois, João de Deus. Quanta falta de feeling…
FAA MORENA: Teve alguma viagem que já fez pelo programa que aconteceu algo de tão inusitado que não pode ir ao ar?
Paola Novaes trabalhava comigo e fomos cobrir o lançamento do navio Grandiosa. O convidado, entre outros, era Gerard Depardieu, que estava embriagado e deu tanto em cima da Paola que virou um problema. Problema que teve até perseguição dele atrás de Paola, cujo jogo de cintura foi suficiente para manter distância. E nós de guarda-costas, eu e Leandro Sawaya, nosso diretor. Poderia render uma matéria que nos dias de hoje se transformaria num gossip internacional.
LUIS ALBERTO SADALLA: Como vê o futuro da TV aberta no Brasil e a chegada do streaming?
A TV aberta vai durar ainda muito tempo no Brasil. Bastam ver os números de quem só assiste à televisão pela aberta, são mais de oitenta milhões de brasileiros.
RONNIE VON: Você é casado há muitos anos com a Celina. Como foi que ela te conquistou?
Talvez pelos mesmos motivos que a Kika te arrebatou. Mulheres com doçura de alma, companheiras, que fazem o amor crescer a cada dia e cada vez mais.
CARLOS BETTENCOURT: Quando você vai subir a serra de Campos de Jordão e conhecer o meu restaurante, o Dois Rios?
Aprecio muito a excelência da sua cozinha portuguesa. Eu já vi fotos do local, que lugar lindo! Vou conferir em breve.