O especialista em câmbio Fernando Bergallo dá dicas para investir no exterior
Por conta da pandemia, da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e das eleições brasileiras, estamos em um momento de muitas incertezas econômicas e políticas. Por isso, o mercado tende a flutuar bastante, principalmente quando se trata da cotação do dólar. Consultamos o especialista em câmbio Fernando Bergallo, da corretora FB Capital, que recomenda que, neste cenário, o empresário precisa proteger seu patrimônio pessoal diversificando seus investimentos, apostando em imóveis nos EUA.
O que faz um especialista em câmbio?
Eu comecei minha carreira em bancos de middle market, especializados em clientes de alta renda. Quando abri meu próprio escritório, passei a atender o mesmo perfil de clientes com capital superior a 15 milhões de reais, só que de maneira personalizada. São pessoas físicas que procuram um escritório a fim de realizar operações de câmbio para compra de ativos ou remessa de capital para o exterior. Atualmente o escritório conta com dois mil clientes.
Como é atender clientes com este perfil de alta renda?
É bem diferente. É um cliente exigente, que não tem muito tempo e quer resolver rápido. Por isso ele precisa ter uma confiança extrema no profissional que o atende. É quase que um tailor-made, ou seja, é preciso fazer uma operação customizada para cada um. Ouvir a história do cliente. Se ele tem um filho que vai estudar numa universidade americana ou se ele quer apenas investir ou ainda se deseja empreender nos Estados Unidos. Por isso o profissional precisa conhecer as regras do mercado aplicadas ao que esse cliente procura e, mais ainda, do mercado imobiliário dos Estados Unidos, que é o grande alvo da compra de ativos dessa parcela de cliente. Por isso eu viajo a cada dois meses para Flórida para conhecer todos os empreendimentos imobiliários que estão em lançamento voltados para esse segmento. Também é preciso conhecer muito bem as regras e a legislação brasileira que protege contra lavagem de dinheiro. É uma responsabilidade assessorar essas pessoas.
Você trabalha com bancos parceiros?
Sim, com bancos do segmento de middle market e com alto nível de especialização em câmbio. Eu faço tudo, mas na hora de passar a TED final tem que ser feita por um banco.
Qual é a sua avaliação do momento? É uma boa hora para o empresário comprar um imóvel no exterior ou empreender para resguardar o seu patrimônio?
Esse é um ponto muito importante. Na pandemia, o Real perdeu praticamente 50% do seu valor frente ao dólar. Antes ele estava um pouco abaixo de R$ 4, chegou a custar quase R$ 6 e agora estabilizou em um patamar em torno de R$ 5. Mesmo assim, foi uma queda muito expressiva. O cliente que tinha um patrimônio de R$ 10 milhões passou a ter um patrimônio de R$ 5 milhões se o valor for convertido em dólar. Ele perdeu muito dinheiro. Por isso é importante manter ativos no exterior. Eles acompanham o dólar e dificilmente perdem valor com essas flutuações cambiais do Real. Eu tenho um amigo que diz que no Brasil você precisa ser rico não em reais, mas em dólares. É exatamente isso. Atualmente o investidor pessoa física precisa ter patrimônio e gerar receita em dólar nos Estados Unidos para se proteger da desvalorização do real.
O quadro político do Brasil, com as eleições no fim do ano, influencia esse cenário?
Este ano eleitoral é complicado porque nós temos uma previsão de uma polarização entre dois candidatos que o mercado conhece muito bem. O Paulo Guedes, que era uma aposta no começo do governo Bolsonaro, prometeu que faria as reformas e que entregaria para o mercado melhores condições para o Brasil se desenvolver. Mas não entregou o que prometeu. Não fez a reforma fiscal que era muito esperada pelo mercado. Por não atingir os patamares desejados, ele não é mais visto com bons olhos. E o outro candidato que já foi presidente o mercado conhece. Ou seja, a previsibilidade dos dois candidatos é grande. Um é populista esquerda e o outro é populista direita, porém nenhum dos dois sinaliza que vai fazer as reformas estruturais que o Brasil tanto precisa e, principalmente, respeitar o teto de gastos e realizar os investimentos necessários para que o país se desenvolva.
Você citou que é hora de investir em ativos no exterior. E para o caso do empresário brasileiro que deseja empreender, ou seja, montar um negócio nos Estados Unidos?
Cada caso é um caso. Muitos brasileiros não foram bem-sucedidos nos seus empreendimentos nos Estados Unidos. Houve casos de restaurantes que não deram certo, franquias que não vingaram, porém existem oportunidades. Na verdade, a maioria dos empresários prefere apostar os seus investimentos em imóveis nos Estados Unidos.
Pela lei americana, ao investir um valor em um negócio, a pessoa pode solicitar o Green Card, em Portugal tem uma lei parecida, são instrumentos legais que oficializam a estadia no país. Isso é uma vantagem?
Sim, se morar no exterior e ter um negócio for o objetivo. Nos EUA tem a Lei EB-5, que demanda investimentos a partir de US$ 800 mil e em Portugal tem o Golden Visa, com o mesmo benefício, com investimentos a partir de 500 mil euros. Morar e empreender no exterior é bem diferente do Brasil. Em Portugal se esbarra em muitas dificuldades e diferenças culturais. O empresário brasileiro precisa entender algumas coisas. Por exemplo: o americano não gosta de brigadeiro. Não adianta você montar uma franquia de brigadeiro ou de pão de queijo que todo mundo adora aqui porque lá não dá certo. Muitos restaurantes quiseram abrir filiais nos EUA que também não deram certo. São Paulo é uma cidade muito mais cosmopolita do que Miami. A gastronomia paulistana é incrível, uma das melhores e mais variadas do mundo. A possibilidade de você investir aqui e ter sucesso é maior do que lá neste segmento.
Constituir empresas de offshore para administrar investimentos pessoais no exterior é uma prática que você recomenda?
Certamente! A segurança é o principal motivo para diversificar os ativos dos investimentos pessoais. A offshore proporciona isso de uma maneira muito eficiente, clara, com uma tributação menor e com um sucesso maior. É perfeito para, por exemplo, empresários que têm patrimônio muito alto ou que estão em processo de sucessão e vão ter de dividir herança. A desvalorização do real na pandemia acabou de mostrar o quanto isso é importante. O dólar é uma moeda forte, e se o empresário concentrar pelo menos 30% do seu patrimônio em dólar ele garante uma segurança. Vai ter ativos à sua disposição quando ele quiser.
Acontece também o oposto, ou seja, você atende empresários do exterior querendo investir aqui no Brasil?
Acontece bastante, principalmente para investimentos em startups que estão sendo incorporadas por grandes empresas e fundos de investimentos estrangeiros. Eles injetam capital nessas empresas ou as adquirem totalmente. Há muitas oportunidades no Brasil e, por incrível que pareça, está sobrando dinheiro no mundo. O Brasil, como um país emergente, oferece muitas oportunidades para o investidor estrangeiro. É um mercado atrativo.
Nós falamos de Portugal, e muitos empresários brasileiros recentemente se mudaram para lá. Eles transferiram os seus ativos para lá?
Aconteceu muito isso, principalmente nos três anos antes da pandemia. Porém, por incrível que pareça, muitos deles estão retornando. Morar em Portugal é bem diferente. São nove meses de frio e o brasileiro não está acostumado com isso. Apesar de ser um país estável, maravilhoso, com todas as oportunidades, a questão do clima mexe muito com a cabeça do brasileiro. Por outro lado, a Flórida tem um clima parecido com o do Brasil. Vários empresários que retornaram de Portugal estão reinvestindo seu dinheiro na Flórida. Se não é um imóvel para residir é para alugar. Lá o rendimento é muito parecido com o daqui. Só que lá a renda é em dólar e o patrimônio também. Apesar da inflação nos Estados Unidos estar no maior patamar dos últimos 30 anos, aqui a inflação explodiu. Está fora de controle. Por isso a desvalorização é alta.
Para realizar essas operações de câmbio, os empresários precisam justificar a origem do dinheiro?
Sim. Entretanto, o nosso escritório está preparado para ouvir a real situação do cliente e aconselhá-lo. Acontece uma situação muito comum de o cliente vender um imóvel e ainda não estar na declaração de renda de 2022 para ele justificar a transferência. Mas a gente tem como justifica com um dossiê que ele tem esse dinheiro lícito disponível para uma possível compra. Ou seja, nós prestamos uma assessoria muito customizada e dentro da legislação e dos parâmetros exigidos.
Sete dicas do especialista Fernando Bergallo
1. Não existe o melhor momento. Ficar esperando ou aguardar um dólar mais favorável é bobagem.
2. Não adianta ser rico em real. Você precisa ser rico em dólar! Diversifique seus investimentos nas oportunidades no Brasil, porém reserve 30% deles para investir em imóveis no exterior em dólar. É uma segurança e uma garantia de que você vai poder preservar os seus ativos.
3. Invista no exterior de forma fracionada, ou seja, se você quer investir, por exemplo, nove milhões de reais, invista três, depois de alguns meses, mais três e depois de outros meses, mais três – em vez de mandar todo o montante de uma só vez.
4. Pense a médio e longo prazo. Prefira investir em imóveis para gerar patrimônio e menos na geração de receitas em curto prazo. Ou seja, prefira imóveis que vão te dar uma receita de aluguel de imediato e que vão te dar uma boa rentabilidade em uma venda em um futuro mais distante.
5. Offshore não é um palavrão, muito menos sinônimo de lavagem de dinheiro. É uma necessidade para o empresário de alta renda. Ela resguarda o seu patrimônio e tem uma menor carga tributária. Dá até menos dor de cabeça trabalhista, por exemplo.
6. Olhe com bastante carinho não só as oportunidades financeiras, mas também as empreendedoras. O mercado de turismo no Brasil, por exemplo, tende a ser um ótimo investimento. Para se ter uma ideia, Orlando, na Flórida, recebe 90 milhões de visitantes por ano e o Brasil apenas 10 milhões. Ou seja, uma cidade americana recebe nove vezes mais visitante do que o Brasil todo. Isto porque falta infraestrutura hoteleira e uma ação de investimentos públicos e privados fortes nesse setor. Mas o potencial é enorme. E certamente o seu investimento pode virar um atrativo futuro para ser incorporado por um grupo estrangeiro.
7. Não se preocupe se o Brasil vai ser governado por A, B ou C. O seu patrimônio precisa ser resguardado. Procure profissionais competentes que vão lhe aconselhar sobre a melhor maneira de você realizar bons negócios e garantir a segurança para você e para sua família.
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Por Leonardo Millen
Fotos: Daniel Cancini