João Adibe Marques fala sobre o sucesso da gigante farmacêutica Cimed
Filho e neto de pioneiros da indústria farmacêutica brasileira, João Adibe Marques hoje, ao lado da irmã, comanda a Cimed, a terceira maior empresa nacional do setor – uma das líderes em genéricos, vitaminas, produtos de higiene e beleza. E está na lista da Forbes como o mais bem-sucedido empresário do segmento
Filho e neto de empreendedores do mercado farmacêutico, você foi introduzido no segmento aos 15 anos. O que foi mais marcante para você nesse começo de sua brilhante carreira? Do que você melhor se lembra?
O mais marcante, sem dúvida, foi ter crescido vendo meus pais trabalhando juntos para fazer o negócio crescer e dando um exemplo de perseverança e trabalho duro, para mim e minhas irmãs. Mas uma cena emblemática que ainda me emociona é de quando eu saía com uma pasta e o catálogo da Cimed embaixo do braço, para vender nossos produtos na Praça da Sé, centro de São Paulo, entendendo as dores e as necessidades dos nossos clientes e criando relações de parceria. Sem dúvida, esse foi o meu ponto de partida, como um vendedor de rua, em sua mais pura essência. E tenho muito orgulho da trajetória que construí até aqui, sem nunca ter deixado de ser vendedor.
Por esses laços familiares, era inevitável você seguir os passos de avô e pai – que aliás faleceu no ano passado. Nunca teve dúvidas sobre o encaminhamento de sua carreira?
Desde o dia em que meu pai me levou para trabalhar na Cimed, eu soube que ali era meu lugar e que construiria minha carreira na empresa. Aos 15 anos, iniciei na área da Expedição. Em seguida, aos 16, comecei a vender, e com 17 anos entendi que venda não era só prazo e preço, mas também marketing e conteúdo. Foi então que, com 18 anos, montei minha primeira equipe de vendas – e aos 22, fui conhecer o Brasil profundo, distante das capitais e dos grandes centros. Foi aí que entendi a necessidade de termos uma estrutura de expedição e logística que nos permitisse chegar a cada cidade do interior, nas pequenas farmácias de empreendedores locais com agilidade e rapidez. Esses pontos são mais do que farmácias. São, muitas vezes, o único local de acesso a tratamentos de saúde numa cidade. Hoje temos 24 centros de distribuição no Brasil, o que nos permite chegar a cada cantinho do país com velocidade recorde.
O mercado farmacêutico brasileiro é um dos mais saudáveis do mundo – cresce a dois dígitos por ano há décadas, independentemente de eventuais crises mundiais ou dos altos e baixos de nossa economia. Qual é o segredo?
Não acho que haja um segredo. A Cimed tem uma essência, um jeito de fazer, muito próprio, atrelado à nossa cultura. A agilidade e a inovação fazem parte de quem nós somos. Temos o mantra “Sucesso não aceita preguiça”, que traduz muito do nosso modelo de gestão. Mas é claro que tudo isso é norteado pelo nosso propósito de dar acesso à saúde e bem-estar para a população. Todas as nossas iniciativas, ações, campanhas, lançamentos, têm esse direcionamento.
A Cimed é a quarta maior empresa farma do país. Dá para resumir sua receita de sucesso? Qual foi sua principal contribuição pessoal à fórmula de gestão de seu pai e avô?
Cresci ouvindo do meu pai que qualquer adversidade é uma oportunidade para aprender e evoluir, para crescer e fazer diferente. Aprendi então que, se há uma crise, eu devo analisar as circunstâncias, identificar minhas habilidades para enfrentá-la e agir. E foi assim que eu e minha irmã demos continuidade ao trabalho iniciado pelos nossos pais e conseguimos um grande feito – tanto pessoal quanto profissional: ter elevado a Cimed ao lugar que estamos hoje. Resiliência, foco e trabalho duro são o legado deixado por meu pai e que eu levarei adiante para sempre.
O faturamento da empresa no ano passado foi de 1,9 bilhão de reais. E este ano de 2023 promete ser o melhor da história da CIMED, fundada em 1977. Qual é a atual receita?
Toda a estratégia de empresa está voltada para atingir os 3 bilhões este ano. Seu portfólio hoje é de 600 produtos – não apenas medicamentos, mas marcas vitoriosas no campo de vitaminas, suplementos, higiene, beleza e dermocosméticos, como Cimegripe, Lavitan, Dermafeme e Babymed.
O que você destacaria como carros-chefe da Cimed neste momento e para o crescimento deste ano?
Hoje a Cimed tem mais de 600 produtos no catálogo e mais de 70 mil pontos de vendas atendidos diretamente, marcando presença em 98% das farmácias brasileiras. Somos responsáveis por marcas líderes de mercado, como o Cimegripe, o antigripal mais vendido no Brasil, além de antialérgicos como o Loratamed, além do Nevralgex, uma das principais marcas para inflamação e dor do mercado. Na área de consumo, somos detentores das marcas K-MED, lubrificante íntimo líder de mercado, e Dermafeme, sabonete íntimo, o repelente Xô Inseto e o Carmed, hidratante labial mais vendido do Brasil. Após o sucesso da collab de Carmed com a marca de balas Fini, houve um crescimento na categoria de hidratantes labiais de mais de 90% no Brasil. Em setembro, inclusive, expandimos nosso portfólio com o lançamento de camisinha e sex toys, em uma collab com a Netflix. No segmento de vitaminas, a marca Lavitan tem market share de 20%, com uma família completa de produtos para mulheres, homens, pele, cabelo, unhas e outras especialidades.
A Covid evidentemente afetou o mercado farma genericamente, mas, no caso da Cimed, a busca por mais saúde e bem-estar, na falta de remédios específicos contra a pandemia, resultou numa explosão na venda de vitaminas. Como foi comandar essa etapa da empresa? Como um homem que vende saúde enfrentou a Covid?
A Cimed não parou, trabalhamos 24 horas por dia sete dias da semana. Contratamos mais gente e ampliamos turnos do time de fábrica para conseguir suprir a demanda. Apesar do momento difícil, as pessoas passaram a valorizar a prevenção e enxergar a vitamina como uma aliada. Em 2020, no auge do período de transmissão da Covid-19, registramos alta de 35% na receita, puxada pelo aumento do consumo de vitaminas e polivitamínicos. Nesse mesmo ano, as vendas no varejo chegaram a R$ 1,3 bilhão e a participação de vitaminas atingiu 30%. Foi um divisor de águas pra nós, já que, antes da pandemia, a representatividade desse segmento para o negócio era pequena. Agora, com a volta da normalidade, continuamos com uma estratégia educacional forte, atrelada à marca Lavitan, justamente para sustentar essa conscientização relacionada à prevenção e bem-estar. Neste ano, investimos aproximadamente R$ 100 milhões em campanhas, ações no digital e no offline dedicadas a essa linha. A principal frente é o merchan no programa Domingão com Huck, no quadro The Wall, com informações trazidas por Luciano sobre os benefícios das vitaminas.
Sua irmã, Karla Marques Felmanas, é vice-presidente da empresa. Essa dupla fraternal é um dos segredos da empresa? Como vocês trabalham em conjunto?
Eu e a Karla aprendemos com os nossos pais a sempre buscar o novo e olhar para o futuro sem esquecer do presente – e fazemos isso muito bem juntos. Formamos uma ótima dupla e nos complementamos com nossas habilidades. Meu foco como CEO está direcionado à estratégia do negócio, além de estar presente em tudo que é relacionado ao marketing da companhia, lançamentos de produtos, incluindo o segmento de genéricos. A Karla, como VP, olha mais para a gestão da empresa, direcionando a estratégia para fomentar nossa cultura, além de estar muito ligada ao dia a dia da fábrica e da operação como um todo.
Como é sua rotina no comando da Cimed? Você é workaholic ou reserva um tempo estratégico para seu lazer?
Tenho uma rotina super puxada de trabalho. Acordo às 5h, treino, e às 7h já estou trabalhando. Nesse horário, faço uma live de alinhamento com o time de vendas para pautar o dia. Depois, vou para o escritório e sigo a agenda de reuniões internas e externas. Também viajo muito para todos os estados do Brasil, visito clientes e estou sempre em contato com a equipe de vendas. Além disso, dedico parte do meu dia a conteúdos para as redes sociais. Tenho um time que cuida disso, mas preciso estar disponível para gravar e desenvolver conteúdos que dependem da minha imagem. Apesar desse ritmo agressivo, priorizo estar em casa para jantar com a minha família e viajar aos fins de semana com eles e com amigos.
Falando em lazer, você – ex-piloto de StockCar – é um aficionado do automobilismo e de carros icônicos. Ainda tem Ferrari? Dá umas corridinhas com ela?
Sim, tenho uma Ferrari SF90 amarela e, sempre que possível, saio com ela para desconectar da rotina, é como uma terapia. Os carros são uma paixão antiga e sinto saudades dessa época de piloto, tenho ótimas recordações.
Além de CEO da Cimed, você é um super-requisitado palestrante. E uma de suas máximas é “Sou próspero e proporciono isso a todos que estão à minha volta”. Como você faz isso na prática?
A Cimed tem uma equipe de cinco mil colaboradores. Desses, mais de mil são vendedores. Trabalhar em equipe é o que faz a empresa crescer e, para isso, todos precisam ser reconhecidos. Temos uma política muito robusta de bonificação para estimular colaboradores de todas as áreas. À medida que a empresa prospera, todos evoluem em conjunto.
Falando em prosperidade, a lista da revista Forbes atribui a você um patrimônio de 5 bilhões. O que um bilionário brasileiro deve e pode fazer com sua fortuna?
Desenvolvemos e apoiamos diversos projetos sociais. O principal deles é a Creche Claudia Marques Primeiros Passos, nome de minha mãe, que fica em Pouso Alegre, Minas Gerais, onde se localizam nossas fábricas. O espaço atende mais de 115 crianças de três meses a três anos, filhas dos nossos colaboradores. Eles deixam as crianças na creche para ir trabalhar. Além disso, desenvolvemos uma série de outras iniciativas sociais atreladas aos nossos produtos. Fizemos uma grande campanha que reverteu parte das vendas do sabonete íntimo Dermafeme à organizações de acolhimento a meninas e mulheres de diversas regiões do Brasil. Também temos um trabalho de apoio a crianças em situação de vulnerabilidade, por meio da marca Lavitan Patati Patatá.
Ao entrevistar o Carlos Wizard, que ficou rico ao vender sua escola de inglês, perguntamos o que ele passou a fazer depois de bilionário. A resposta: hotel cinco estrelas, primeira classe nos aviões e, nos restaurantes, não conferir a conta. E você?
Uma das minhas maiores conquistas materiais foi ter meu próprio avião e helicóptero. Como viajo muito a trabalho, e em muitas dessas viagens minha família me acompanha, ter essa frota aérea nos trouxe mais conforto para os deslocamentos. Além disso, meus carros são uma paixão.
Você costuma tirar férias a intervalos regulares? Viaja? Para onde, preferencialmente?
Sim, principalmente durante as férias escolares dos meus filhos caçulas – janeiro, julho e dezembro. Assim, consigo curtir com eles esse período e aproveito para descansar. Eu e minha família amamos destinos históricos e praia. Vamos muito a St. Barth, pequena ilha francesa localizada no meio do Caribe, onde temos uma casa.
Como é o João Adibe marido de Cinthya e pai?
Somos muito parceiros e sou muito grato por ter a Cinthya ao meu lado, mulher forte e inspiradora. Sou pai de cinco filhos – três já adultos (Adibe, Esther e Bruna) e os caçulas João Pedro e Charlotte. E adoro conviver com essa diferença de idade dos filhos, aprendo todos os dias com todos eles. Também é muito gratificante ver a troca e cumplicidade entre eles, especialmente dos mais velhos com os pequenos.
Voltando aos remédios. Sem spoilers, lançamentos promissores este ano? E para 2024?
Temos em nosso pipeline deste ano o lançamento de 110 produtos. Os destaques até aqui vão para o Carmed Fini, Carmed BFF e a collab de K-Med com a série Sex Education, com preservativos e sex toys. Em 2024 teremos muitas novidades também.
A Cimed tem como lema corporativo, além de produzir e vender remédios, proporcionar saúde e qualidade de vida a seus clientes. Como se faz isso?
Oferecendo produtos de qualidade e a preços acessíveis, seja para tratamentos de saúde, com toda a nossa linha de medicamentos OTC e genéricos, quanto no segmento de consumo, com itens para hidratação para a pele e labial, tratamento de acne, saúde sexual, vitaminas e outros.
Tem planos pessoais para os próximos anos? Alguma mudança decisiva? Algum plano ambicioso?
Como empresário, nosso plano é aumentar o nosso faturamento em um bi por ano. Quero continuar fortalecendo o propósito criado por meus pais – de proporcionar saúde e bem-estar para toda a população brasileira com acessibilidade. Para isso, seguiremos estudando este Brasil profundo e investindo em inovação.
Uma curiosidade: como está sua saúde de esportista nato? Toma remédios? Aliás, tudo tem remédio?
Tomo vitaminas, faço academia todos os dias e pratico corrida.
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POR Celso Arnaldo Araujo
FOTOS: Divulgação Cimed