ESG mostra como lucro e responsabilidade podem caminhar juntos
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No início, as empresas pareciam impunes aos impactos causados ao meio ambiente e à sociedade. A poluição era vista como um efeito colateral inevitável, e a responsabilidade social limitava se a ações pontuais. Hoje, no entanto, a sustentabilidade empresarial adquiriu um novo peso, com normas e cobranças que redesenham o papel corporativo no mundo. Nesse contexto, o conceito de ESG – que significa Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) – que surgiu em 2004, no relatório da ONU intitulado Who Cares Wins (Quem se Importa Ganha), obteve forma como um norte para companhias que buscam aliar lucro e impacto positivo. Mas o que é ESG, e por que ele importa tanto para empresas e sociedade? ESG representa uma nova abordagem de gestão que vai além do lucro e exige que as empresas considerem seu impacto ambiental, sua relação com a sociedade e a forma como são administradas. Ao incorporar o “E” de ambiental, as empresas passam a adotar práticas que minimizam os danos ao meio ambiente, como o uso de energias renováveis, a gestão sustentável de recursos e a redução de emissões de carbono. Esse compromisso é visível na Vivo, do setor de telecomunicações, que alcançou neutralidade de carbono em suas operações e utiliza energia 100% renovável. Com metas claras, a telecom pretende antecipar seu objetivo de atingir o net zero em 2035, destacando-se em seu setor, que é um dos grandes poluidores do mundo. Ainda no âmbito ambiental, outra empresa brasileira de grande destaque é a Natura, que investe no projeto Amazônia Viva, voltado à preservação de dois milhões de hectares da floresta e ao apoio de comunidades tradicionais. Já o pilar social, simbolizado pelo “S”, exige que as empresas olhem para o impacto que causam na sociedade, seja ao promover condições justas de trabalho, seja ao apoiar a diversidade e a inclusão. Esse aspecto se reflete em programas como o Vivo Diversidade, que oferece capacitação e oportunidades para minorias, e na Natura, que atingiu em 2022 a meta de mais de 50% de mulheres na liderança, e eliminou diferenças salariais não justificadas entre gênero e raça na América Latina e no Brasil. O pilar da governança, representado pelo “G”, envolve transparência e ética na administração da empresa. Ele busca assegurar que decisões sejam tomadas de maneira justa, com responsabilidade perante investidores, trabalhadores e o poder público. Na Natura, por exemplo, a governança envolve o compromisso com um futuro de baixo carbono, com metas para zerar suas emissões até 2030 e alcançar o net zero até 2050. Essa postura amplia a confiança da sociedade e dos investidores, que cada vez mais buscam transparência e compromisso em relação à sustentabilidade.
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FOTO: Divulgação Natura
Economia Circular
A adoção de práticas ESG vai além do ganho reputacional e impacta positivamente o desenvolvimento técnico e financeiro das empresas. Um exemplo claro está na Natura, que investe na reciclagem de embalagens e na redução de resíduos plásticos. Para a empresa, iniciativas como esta representam uma maneira de transformar desafios ambientais em novas oportunidades de negócios. Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura, enfatizou: “compreendemos que só sustentar já não é suficiente para responder aos desafios atuais. Incorporamos a lógica de regeneração à nossa estratégia, indo na contramão de uma visão compensatória.” Essas práticas também impactam diretamente a sociedade, promovendo um futuro mais justo e menos poluente. Programas de inclusão e de preservação ambiental contribuem para melhorar a qualidade de vida e impulsionar a economia circular, integrando setores que se beneficiam da sustentabilidade. A Vivo, ao investir em programas de reciclagem como o “Vivo Recicle”, recolhe lixo eletrônico nas lojas e educa o público sobre a importância do descarte correto. Só em 2023, foram recolhidas 12 toneladas de resíduos, com planos de expansão para atingir 375 toneladas até 2035.
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FOTO: Divulgação Natura/ Lucas Mont
Certificações
Com o crescimento do interesse no ESG, a certificação tornou-se um selo de responsabilidade que valida as práticas de uma empresa e demonstra seu compromisso com a sustentabilidade. Essa certificação é concedida por consultorias especializadas que analisam o cumprimento de uma série de indicadores relacionados aos três pilares do ESG. A adoção desse selo beneficia as empresas, uma vez que as torna mais atraentes para investidores, clientes e trabalhadores que valorizam práticas sustentáveis. Contudo, Alexandre Arnone, advogado e chairman do Instituto Global ESG, alerta que o mercado brasileiro enfrenta dificuldades para regulamentar essas práticas de maneira eficaz. Ele destaca que, enquanto muitas empresas obtêm certificados ESG, poucas aplicam essas práticas de forma profunda. “A maioria ainda vê o ESG como uma ferramenta de marketing. Sem normas técnicas e fiscalização, ESG continua sendo superficial em várias empresas, servindo apenas para valorizar a imagem, sem impacto real”, diz Arnone.
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FOTO: Divulgação Vivo/ Rodolfo Buhrer
Greenwashing: ESG para inglês ver
Junto do crescimento do ESG, surgiu também o desafio do greenwashing, uma prática em que empresas promovem uma imagem de responsabilidade socioambiental, mas sem o compromisso real. Muitas empresas utilizam campanhas publicitárias para mostrar que se importam com o meio ambiente e com questões sociais, sem adotar mudanças estruturais significativas. Arnone, que também é um dos fundadores da Frente Parlamentar “ESG na Prática”, alerta sobre essa prática: “O mercado brasileiro tem muito greenwashing. O que é feito hoje é marketing. Poucas empresas aplicam o ESG de fato, e muitas recorrem a certificados que não têm base sólida, sem critérios de medição e fiscalização.” A Frente Parlamentar ESG, da qual Arnone faz parte, busca instaurar normas para combater o greenwashing e promover o ESG de forma autêntica. A ideia é criar uma legislação que permita a verificação das práticas, garantindo que as empresas realmente cumpram os compromissos estabelecidos em seus certificados.
Impacto Financeiro
As práticas ESG têm um impacto financeiro direto para as empresas, pois permitem o acesso a investimentos e parcerias que valorizam a responsabilidade social e ambiental. O mercado financeiro tem demonstrado preferência por empresas que comprovam seus compromissos com o ESG, atraindo investidores que priorizam a sustentabilidade em suas decisões. Ao alinhar sua estratégia com os princípios ESG, a Natura, por exemplo, conseguiu emitir debêntures sustentáveis, captando R$ 1,32 bilhão, com parte dos fundos destinados a bioingredientes da Amazônia. Esses investimentos aumentam a competitividade da empresa e fortalecem sua reputação no mercado. Na Vivo, o impacto financeiro das práticas ESG é igualmente evidente. A empresa trabalha com uma governança sustentável que inclui 20% da remuneração variável dos executivos vinculada às metas ESG, o que reforça a importância dessas práticas em sua gestão. Além disso, a Vivo se destaca nos rankings de sustentabilidade, atraindo investidores que valorizam uma agenda responsável. Com a expansão dessas práticas, empresas e consumidores começaram a perceber o papel transformador que essas iniciativas desempenham na economia e na vida em sociedade. Na Natura, o compromisso vai além da preservação ambiental, integrando aspectos de regeneração e criação de valor para as comunidades. Já a Vivo utiliza a tecnologia para reduzir a pegada ambiental de seus clientes, promovendo soluções digitais que evitam deslocamentos e diminuem o uso de recursos. O ESG não é uma meta passageira; ele se consolidou como parte essencial da estratégia empresarial moderna. Em vez de um simples selo, o ESG representa um novo contrato entre empresas, investidores e sociedade, com um compromisso mútuo pela transparência, pela inclusão e pelo respeito ao meio ambiente. O avanço dessas práticas no Brasil depende do esforço conjunto de empresas, reguladores e da sociedade, que exigem e valorizam empresas que se preocupam com mais do que o lucro imediato.
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FOTO: Divulgação Vivo/ Rodolfo Buhrer
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POR: Allan Ravagnani
FOTO DESTAQUE: Adobe Stock
FOTOS: Divulgação Natura, Divulgação Natura/ Lucas Mont e Divulgação Vivo/ Rodolfo Buhrer