Elas têm a força
Conheça algumas mulheres poderosas do mundo corporativo brasileiro e saiba como elas chegaram lá
Que as mulheres estão ocupando cada vez mais espaços nobres nas empresas não é novidade. Isto sem falar nas empreendedoras de sucesso, que conseguiram erguer impérios. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Ethos, há cinco anos as executivas correspondiam a apenas 6% dos cargos de diretoria nas 500 maiores empresas do Brasil. Hoje elas representam 11,5% dos postos de diretoria, 24,6% dos de gerência e 37% dos de supervisão. É verdade que ainda é difícil encontrar mulheres na presidência de companhias abertas, por exemplo. No máximo, integram os conselhos de administração. Mas muitos cases de sucesso de executivas vale muito a pena conhecer, por demonstrarem o valor dessas empreendedoras. Conheça aqui algumas dessas mulheres poderosas e suas histórias fantásticas de sucesso profissional.
Elle est le chef
A brasileira Anna Chaia foi nomeada presidente responsável pela gestão da nova empresa numa fase crucial de profissionalização da L’Occitane no Brasil. Sua principal missão é estabelecer uma sinergia com a matriz e implementar a estratégia local de acordo com as orientações internacionais
A L’Occitane sempre foi identificada com o mercado de luxo. Como é trabalhar para esse segmento?
Somos uma marca de luxo acessível, não impossível de se comprar. No Brasil estamos focando essencialmente nas classes A e B. Temos muito ainda para crescer na classe B. Porém, sempre trabalhando a imagem, a qualidade dos produtos, a abertura das lojas, visando à classe A, que sempre foi nosso DNA. Para crescer, precisamos ampliar um pouco esse espectro. Por isso nossa estratégia foi abrir lojas em cidades secundárias, fora do eixo São Paulo-Rio, como Joinvile, Caxias do Sul, Londrina. Abrimos também no interior de São Paulo, como Ribeirão Preto, que pega a classe A e a classe B.
A classe AAA continua no foco?
Claro! A maioria dos nossos clientes é desse segmento. Fazemos todo um trabalho de marketing direto, eventos de fidelização e procuramos abrir os SPAs próximos a áreas de maior incidência desse público. Reformamos nosso SPA da Rua Bela Cintra, com xamã, bangalôs ao ar livre. Um novo conceito.
Os clientes da classe AAA viajam muito, conhecem outras marcas e SPAs no exterior. Como agradar a quem está acostumado com o melhor?
Foi o contato desses clientes com a L’Occitane na França que proporcionou a primeira loja no Brasil, há 14 anos. Se hoje temos 70 e estamos caminhando para 100 lojas, é porque esse público tem identidade com a marca. O grande desafio é continuar mantendo o interesse. Estamos trazendo os lançamentos da França em tempo real, apesar de todas as complicações logísticas, registro, importação…
Vocês não têm um competidor direto no mercado brasileiro de produtos de beleza de luxo?
Como marca internacional, temos. Dentro do varejo de luxo acessível, a gente está sozinho. Isso é ótimo! Queremos mais é crescer, abrir mais lojas, ampliar a cobertura geográfica e aproveitar para continuar nessa posição favorável.
Como o Brasil é visto pela L’Occitane na França?
A imagem é ótima. A L’Occitane abriu seu capital na Bolsa de Hong- Kong em 2009. E 75% do capital levantado foi investido em países emergentes: Brasil, México, China e Índia. Hoje, o Brasil é a quinta operação mais importante do mundo da marca. Esperamos muito em breve passar para a terceira.
E como agradar o público de luxo, cada vez mais exigente?
Acho que começa desde a escolha da embalagem. Hoje o design é feito a mão pelo nosso fundador, Olivier Baussan, para garantir um um conceito por trás. E as formulações… O número de ingredientes que vai numa formulação é enorme! É uma alquimia. Em outra frente, a gente defende o bem-estar. Se você entra numa loja L’Occitane, vê muita madeira, cerâmica, mosaicos de azulejo. É material nobre. E, finalmente, temos um centro de treinamento para capacitar nosso pessoal de vendas, que tem um perfil diferenciado. Isso tudo é uma cadeia que compõe nossa estratégia.
Quanto vocês esperam crescer nos próximos anos?
Nos últimos quatro anos crescemos 30% ao ano e nossa expectativa é crescer no Brasil 35% em 2012. No mundo, a marca cresce muito na Rússia, na China e no México.
A importação continua sendo um dificultador ou melhorou?
Melhorou muito. Temos processos organizados e que caminham muito bem. Estou há quase dois anos na empresa e não enfrentei casos complicados. Obviamente, se a taxação não fosse tão pesada, teríamos como oferecer preços mais acessíveis. Porém, há produtos da nossa linha em que a diferença do preço no Brasil e na França não é tão grande. A nossa linha de cabelos, por exemplo, tem preços muito parecidos. E estamos há dois anos sem aumentar os preços.
O site da L’Occitane oferece muitos itens e até kits para compras online. É uma estratégia forte?
Certamente. Você recebe o seu kit montado em casa, todo protegido, maravilhoso. Não paga frete. E o esquema permite mandar para outra pessoa como presente, com um cartãozinho. Os kits são realmente um sucesso.
Vocês não fazem muita propaganda. Isso é uma política da empresa?
A gente acredita que nosso maior investimento tem de ser nas lojas, no treinamento, nos kits, nas vitrines, na equipe. Isso funciona no mundo. É a receita global. Temos um CRM que administra o nosso banco de dados para estimular as vendas.
Que mensagem você deixa para as clientes da marca?
A L’Occitane tem uma proposta única de juntar a sabedoria da colheita dos ingredientes de forma sustentável com embalagens lindíssimas e produtos com forte sensorial. Somos produtos tipo “Eco-X”. Se você não é cliente ainda, não sabe o que está perdendo…
Luciana Salton – Diretora-executiva da Vinícola Salton
Garra que vem no DNA
Mãe da pequena Laura, de apenas sete meses, Luciana Salton sempre sonhou em trabalhar na empresa da família, a Vinícola Salton, hoje uma das mais importantes produtoras de vinhos e espumantes do País. No cargo de diretora-executiva, a empresária assumiu uma ponta das rédeas da empresa logo após a morte súbita de seu pai, há três anos. Pós-graduada em Administração de Empresas, Luciana é a primeira mulher da família a ocupar um cargo desse porte na empresa fundada por seu bisavô há mais de 100 anos. Luciana, que já trabalhou num banco e numa indústria farmacêutica, ressalta que seu foco é trabalhar com garra e empenho, independentemente do cargo que ocupa. “Foi importante para a minha carreira trabalhar em outras empresas e estou aqui porque sou profissional e não por ser uma Salton. Desempenho um papel importante, mas ninguém é insubstituível, a empresa é maior e independente de qualquer pessoa”, declara. A empresa, hoje com quase 500 funcionários diretos entre São Paulo e Rio Grande do Sul, exige da executiva uma verdadeira maratona, com questões a serem resolvidas diariamente. “Me policio para chegar cedo em casa e faço meu dia render aqui no escritório para curtir minha filhinha o máximo possível”, diz a mamãe empresária.
Mônica Pereira – Gerente de Marketing Givenchy, Kenzo e Fendi
Cheiro de sucesso
Ela é uma profissional dinâmica e completamente apaixonada pelo que faz. Atua na área de beleza desde 2006 e atualmente é gerente de marketing das marcas Givenchy, Kenzo e Fendi, com o desafio de interagir cada vez mais com o consumidor brasileiro. Carioca radicada em São Paulo, Mônica é formada em Publicidade e Propaganda com mestrado pelo IBMEC e pós-graduação em Marketing pela PUC Rio.
“Aos 17 anos, eu já sabia que queria algo dinâmico, que interagisse com o ser humano, que envolvesse comunicação e fosse ligado à moda e à beleza. Acabei escolhendo fazer Publicidade e Propaganda. Comecei estagiando como tráfego numa agência, que me fez ver que gostava mesmo é de entender os desejos e as motivações do consumidor e desenvolver estratégias e produtos para satisfazê-lo. Esta percepção me conduziu a um estágio num instituto de pesquisa, onde aprendi a lidar com dados e obter insights relevantes sobre motivos racionais ou emocionais das escolhas do consumidor. Aos 24 anos, assumi um cargo de destaque na divisão de produtos de mesa da Cisper. Um ano depois, passei para gerente de produto de um distribuidor das marcas Nina Ricci, Guerlain e Boucheron Perfumes. Foi um grande desafi o, pois eu era a única mulher e lidava com muitos homens até 20 anos mais velhos que eu. Além disso, precisava manter um constante contato com as marcas na França e estabelecer estratégias de diferenciação para cada uma delas. E internamente, com a força de vendas, sempre o nosso primeiro cliente. Externamente, no ponto de vendas, num mercado que ainda é muito protegido e não oferece as condições ideais para uma competição saudável, tanto do ponto de vista do fornecedor quanto do consumidor.
Hoje trabalho com o que sempre almejei – na LVMH, gerenciando as marcas Givenchy, Kenzo e Fendi na Divisão de Parfums et Cosmétiques. Tenho a vantagem de trabalhar com marcas que despertam uma paixão e num segmento muito interessante, pois vendemos, além de um produto, sonho e autoestima. Todo esse sentimento retorna para a equipe de forma muito positiva e gratificante. Para alcançar isso, há quase cinco anos precisei mudar do Rio para São Paulo. Para uma carioca que morava em frente à praia, isto representou uma alteração radical no estilo e ritmo de vida. Trabalhar num país que tem um potencial enorme, como o Brasil, mas que ainda apresenta as mesmas restrições de 20 atrás é um desafio extra. Por isso preciso ter uma postura política e ao mesmo tempo ambiciosa. Isto torna o trabalho muito prazeroso e há uma forte motivação em desenvolver um plano ambicioso para colocar as marcas num patamar similar em nosso País.
Com esse cenário e a maturidade profissional alcançada, o estilo gerencial acaba sendo influenciado. O importante é saber dividir o conhecimento técnico, interagindo de forma diferenciada, motivando a equipe e lutando para que a criatividade seja uma constante. Minha equipe atual é muito superior a todas as outras com que trabalhei e a geração Y tem um formato mental e emocional bem distinto, o que torna o dia a dia muito divertido. Credito meu sucesso a estar trabalhando no segmento e com as marcas que eu sempre almejei, junto de uma equipe competente, altamente motivada e apaixonada pelo mercado em que atuamos.
Ana Maria Rocha de Moura Campos – Diretora comercial e de novos projetos da Ferri
Filha de peixe
A Ferri está no mercado de calçados e bolsas de luxo há quase 30 anos. A fórmula é a antiga – e hoje em dia cada vez mais rara: empresa familiar. A matriarca, Selma Rocha, fundou a empresa em 1984 e hoje continua dando as cartas, com o reforço dos fi lhos Ana Maria, que cuida dos novos negócios, e Luis Fernando, que desenha e produz os modelos. Atualmente a grife tem lojas próprias nos shoppings Villa Lobos, Pátio Higienópolis e Morumbi Shopping. E, graças especialmente à atuação de Ana Maria, aumenta sua presença comercializando seus produtos para quase 30 lojas multimarcas nas principais cidades e capitais brasileiras.
“Desde muito nova observei cheia de interesse as atividades profissionais de minha mãe, Selma Rocha, que, como minha avó, dedicava-se à moda, especialmente à produção e comercialização de sapatos e bolsas. Quando tinha 11 anos, comecei a frequentar todos os dias a loja da minha mãe. Passava tanto tempo lá que chegava a fazer minhas lições de casa no meio das clientes e sapatos, que sempre foram minha paixão. Com ela aprendi, desde cedo, que nada é mais importante do que um saudável relacionamento com as pessoas e que todas elas merecem sempre excelente atendimento. Esta filosofi a acabou constituindo na Ferri um grande diferencial de vendas. Além disso, uma constante preocupação de aprimorar a qualidade de nossos produtos, a razão de nosso crescimento e sucesso. Embora minha mãe continue, em razão de seu equilíbrio e segurança, na liderança e organização das empresas de nosso grupo, ela conta comigo na diretoria comercial e de novos projetos. E também com meu irmão Luís Fernando, arquiteto e professor universitário, na produção e criação de nossos modelos, sempre afinados com o bom gosto e focados nas tendências da moda. Porque a Ferri é ética, verdadeira e comprometida com os seus objetivos, estou convencida de que nosso sucesso será permanente. Nunca me esqueço das fortes palavras da dona Selma: ‘Sem verdade e comprometimento, não vamos a lugar nenhum’. Tenho isso como um mantra e repito sempre para minhas filhas e funcionários”.
Carla Sarni – Presidente da Sorridents
A força de um sorriso
Fundada em 1995, na zona leste da capital paulista, a Sorridents é hoje a maior rede de clínicas odontológicas da América Latina. São mais de 180 clínicas franqueadas em 14 estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Sergipe e Distrito Federal. A fórmula é oferecer ao público em cada clínica todas as especialidades da odontologia, da pediatria à geriatria, o que também possibilita realizar os tratamentos da família num único local.
A presidente e fundadora da Sorridents, a Dra. Carla Sarni, além de empresária de sucesso, tem preocupações humanistas, pois acredita que é possível tornar a saúde bucal acessível a um maior número de pessoas.
“Nasci em Pitangueiras, interior do estado de São Paulo. Escolhi minha profissão muito cedo e aos 16 anos já cursava Odontologia em Alfenas (MG). Com o passar dos anos, descobri que aquela escolha precoce tinha um motivo maior. Eu não estava atrás de status ou de enriquecer. Meu propósito sempre foi auxiliar as pessoas, independentemente da condição financeira de cada um. Minha família mesmo não tinha condições e cheguei a vender água na porta da faculdade para me manter. Mas com muita batalha finalizei o curso em 1995 e optei por voltar a São Paulo para iniciar a carreira. Consegui uma vaga como dentista terceirizada num consultório dentário na zona leste da cidade. Em três meses de trabalho, conquistei uma invejada carteira de clientes, por conta do carisma, dedicação e amor à profissão. O mesmo período de tempo foi necessário para que eu abrisse minha própria clínica. Sempre trabalhei até tarde da noite e aos finais de semana atendia em regiões mais carentes da cidade, como a favela Pantanal, em São Miguel Paulista. O foco sempre foi levar tratamentos de qualidade por valores acessíveis às pessoas, de forma que o retorno desses pacientes fosse incentivado. A estratégia deu certo. Abri uma clínica no Tatuapé, outra na Penha e, em 2003, a Sorridents já contava com 19 unidades em operação. Nesse momento, optei por licenciar a marca para continuar a expansão. Em apenas três anos contabilizávamos 87 clínicas em operação. Para acompanhar a administração de cada uma das clínicas e padronizar o atendimento, minha equipe realizou estudos de mercado e de viabilidade do negócio e concluímos que o momento era propício para o início do processo de franchising da marca. Formatamos o modelo de negócio e passamos a operar através do sistema, com conversão de todas as unidades licenciadas em franqueadas. Hoje, a Sorridents Clínicas Odontológicas totaliza 180 unidades em todo o País e espero alcançar a marca de 500 clínicas até 2016. Tivemos muitos desafios, mas o que mais me marcou foi a dificuldade em conseguir dinheiro para investir no crescimento com taxas boas e a longo prazo. Quando nos transformamos em franquia, já existiam outras atuando no segmento. Por isso considero que nossa expansão foi uma grande conquista. Driblamos e superamos a competitividade. Mas sei que sempre tenho muito que aprender e muito a melhorar como empresária e ser humano.
Leia essa e outras matérias na Go’Where Business n° 7.