Edgard Corona leva o Grupo Smart Fit ao primeiro IPO de academias do Brasil
O Grupo Smart Fit foi fundado em 1996 com a abertura da primeira unidade da academia Bio Ritmo, em São Paulo, que rapidamente tornou-se referência no mercado fitness brasileiro e começou um processo de expansão para outras cidades e Estados. Em 2009, depois da consolidação da Bio Ritmo e de analisar estudos em diversos países, o Grupo traz para o Brasil o conceito de Low Cost High Value e abre as primeiras unidades da Smart Fit. A ideia central era democratizar o fitness de alto padrão, com mensalidades equivalentes a cerca de 20% do preço da maioria das academias high end das capitais brasileiras e instalações com arquitetura, equipamentos e acabamentos de primeira linha. O modelo transformou o mercado. A demanda superou todas as expectativas e, em menos de um ano, a rede já estava presente em quatro estados brasileiros. O sucesso atraiu o interesse de investidores. Em 2010, o Pátria Investimentos se associou ao grupo com o aporte de R$70 milhões. Os recursos foram usados na expansão, que iniciou sua trajetória pela América Latina com a abertura da primeira unidade na Cidade do México, em 2011. Na sequência, em 2014, a empresa chega ao Chile e, em 2016, na República Dominicana, Colômbia e Peru.
O Grupo Smart Fit tornou-se o maior do setor na América Latina com 500 unidades em 2017. No mesmo ano, lançou seus primeiros studios destinados a atividades específicas, como yoga, corrida e musculação com as marcas Race Boot Camp, Vydia e Tonus Gym. Em 2019, o grupo lançou a startup TotalPass, benefício corporativo que funciona como uma assinatura de academias oferecido pelas empresas para seus funcionários. Em 2021, o Grupo Smart Fit faz um dos mais bem-sucedidos IPOs do país, sendo a primeira empresa do setor fitness a entrar no Novo Mercado da B3. Em 2024, o Grupo lança a Nation CT, um centro de treinamento especializado em musculação de alta performance e fisiculturismo, com estrutura pioneira no Brasil. No mesmo ano a Velocity, maior rede de academias de bike indoor do Brasil, e a Kore, de treinamento funcional, são compradas, ampliando o portfólio de studios do grupo. Atualmente, o Grupo detém as marcas Smart Fit, Bio Ritmo, Nation CT e O2, os studios Race Bootcamp, Vidya Studio, Tonus Gym, One Pilates, Jab House, Velocity e Kore, além dos produtos digitais Total Pass e Queima Diária. Mais de 5,2 milhões de latino-americanos cuidam da saúde em mais de 1.500 unidades, espalhadas em mais de 15 países da América Latina.
“A Smart Fit trouxe a democratização e teve um monte de marcas que vieram atrás com o mesmo modelo”
Com a missão de democratizar o acesso ao fitness de alto padrão, à qualidade de vida e ao bem-estar, a Smart Fit é líder em academias na América Latina e a quarta maior rede do mundo em número de clientes. Para a GoWhere Business, o CEO e fundador do Grupo Bio Ritmo, Edgard Corona, dá mais detalhes na entrevista a seguir.
Edgard, são quase 30 anos atuando no setor fitness. Que sucesso!
Para ser exato, 28 anos. Nós começamos em maio de 1996 com a Bio Ritmo de Santo Amaro, em São Paulo. Foi o primeiro negócio, e o primeiro erro!
Primeiro erro? Mas deu tão certo que a marca está vivíssima…
Tudo é experiência. Quando você começa um negócio, vai lá, pesquisa, olha outros cases que estão dando certo, mas faz pior, né? Na época, tinha a Fórmula, que era uma academia de sete mil metros e estava muito bem. E resolvemos lançar a Bio Ritmo em Santo Amaro com três andares. Mas pegamos o arquiteto errado e economizamos no projeto. A academia era vertical, não horizontal. De fato, demorou muito para arrumar aquela unidade.
Como foi a sequência?
Em 1997, a gente abre a Bio Ritmo da Paulista, já tentando fazer uma ruptura. Queríamos uma academia que não parecia uma. Chamamos o arquiteto João Armentano para dar uma cara diferente, com uma iluminação e com uma cara mais moderna. Deu certo! Na sequência, a gente começa a ver que o processo de venda está errado, vai para os EUA, muda o benchmark, observa o crescimento da concorrência, mas percebe que não está conseguindo vender.
Esse processo da venda correta do conceito e do produto que acaba interrompendo o sucesso das empresas?
Sim e percebemos que não estávamos sabendo vender. Fomos aos EUA, trouxemos consultores de venda para o Brasil, que ensinavam a nossa equipe. Aí começamos a comprar mais lojas, vender mais. A conversão, que era de 10%, virou uns 30%, 35%, e começamos a dar resultado.
A Bio Ritmo tinha encontrado o conceito ideal?
Ainda não, porque entendemos uma coisa que era importante. O trânsito de São Paulo é ruim e não adiantava ficar fazendo lojas (academias) muito grandes, porque as pessoas estavam querendo uma estrutura boa, porém, perto de casa, então começamos a reduzir o tamanho. E isso faz com que a gente tenha, por metro quadrado, mais pessoas. Naquela época, a Fórmula, Companhia Atlética… colocavam 0.3, 0.4 alunos por metro quadrado. Já na Bio Ritmo, com esses desenhos novos, focando em musculação e ginástica, e não tendo 30 coisas diferentes, estávamos com 1.3 alunos por metro quadrado. Começamos a crescer a Bio Ritmo, e abrir novas unidades, nos bairros, com esse conceito.
E como surgiu a Smart Fit, que foi um furacão e quebrou os paradigmas das academias?
Pois é. Participei de um negócio chamado Round Table, nos Estados Unidos. Tem um guru que organiza e que junta caras do Alasca, do Kentucky, do Tennessee, de Nashville, e outros Estados, e lá conheci um case que é a Planet Fitness. Na época, eles já estavam com 800 lojas, e hoje a Planet tem duas mil e poucas lojas, e 22 milhões de alunos nos Estados Unidos. É quase 7% da população americana.
Você se inspirou na Planet?
Na verdade foi um modelo que avaliamos – e no início surgiu muita desconfiança. Os caras falavam: não é lavagem de dinheiro? Eles não estão faturando, a conta não bate! O cara está abrindo 60, 70 lojas por ano, está ganhando dinheiro sim! Tentei trazer a marca para o Brasil, mas eles rejeitaram. Então eu entendi o modelo. Era só musculação. Você não tinha uma adaptação, não tinha aquela história do Brasil, com plano mensal, trimestral, semestral, anual, família… Aqui a vendedora tinha que ser PHD em vendas, porque tinha 70 planos, e o cliente tinha que ser um craque em matemática. O resultado virava uma confusão, você não vendia. Olhando para a planta, eles tinham dois planos: anual e mensal, ponto! Debitado no cartão ou no banco.
Daí surgiu a primeira Smart?
Resolvemos fazer uma academia igual, porém mais bonita, porque a deles lá era feia. Vamos fazer uma academia legal, com iluminação boa, máquinas top. Tem de oferecer um negócio chique, sofisticado, até o ponto que o cara não sabia se estava na Bio Ritmo ou era Smart Fit mesmo. Aí soltamos as primeiras lojas, já usando essa recorrência.
E como foi o start?
Quando fizemos isso, há uma série de custos que você corta. Professores de ginástica, cara que cuida de horário, pois é um monte de gente para marcar as atividades, e mais recepcionista e vendedora. Resultado, teu custo caiu. Nós soltamos a loja a 49 reais. A primeira foi em 2009, no Morumbi, em frente ao Jardim Sul. Aí abrimos mais três lojas ao mesmo tempo. Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. E no primeiro dia vendeu 300 matrículas em São Paulo e 500 em Brasília. Achamos a veia! Até meu sócio veio falar “vamos subir o preço”. Eu disse não, modelo é modelo. E seguimos a 49 reais. E aí começamos a crescer.
Entre Bio Ritmo e Smart Fit são quantas lojas?
Próximo de 1.600.
Não há uma “concorrência”, vamos dizer assim, entre a Smart e a Bio Ritmo?
Em 2014, quando a Smart começou a ir bem, imaginamos que poderia machucar um pouco a Bio Ritmo. Daí fizemos uma mudança de modelo dentro da Bio Ritmo, tirando as salas de aula e colocando estúdios, com espaços ambientados especificamente para a atividade que ele quer fazer. Então se ele quer yoga, tem de ser uma experiência diferente pra quem quer fazer crossfit, por exemplo. O cenário tem de ser diferente e a experiência também. E a aula é de hora em hora, ou seja, mesmo que ele atrasar, pega a turma seguinte e não fica sem fazer a atividade
“Se alguém está vivo, se está crescendo, tem algum aprendizado – esse cara é um vencedor. O mercado traz muita informação”
Você é um expert neste universo, Edgard. Mas não se formou em educação física, e sim em engenharia química. Como virou essa chave?
Eu trabalhei de 1979 a 1995 em Usina de Açúcar, que era um negócio da minha família. Quinze anos plantando e colhendo cana, processando, fazendo açúcar, fazendo álcool, exportando.
Quando essa Smart surgiu, cobrando 50 reais a matrícula, sem professor, houve muita crítica?
A hora que abrimos a Smart, lá em 2009, a primeira reação foi: “não tem professor, chama o órgão responsável, denuncia, tenta bater. Todo mundo contra. Vai acabar com o nosso mercado.” Muitas opiniões e críticas. Mas tinha o outro lado. O cara entrava na Smart, uma loja maravilhosa, aparelhos novos, enquanto as academias cobravam R$ 150, sem ar-condicionado e condições ruins. Houve um massacre, uma reciclagem, e o mercado entendeu que esse era o jeito certo de trabalhar. Vai ter que se renovar de alguma maneira e oferecer mais. Então, o que aconteceu? Por conta disso, houve a democratização e teve um monte de marcas que vieram atrás com o mesmo modelo.
Isso ajudou mais pessoas a praticarem atividades?
Sim, no Brasil, por conta desse preço baixo, aumentou muito o número de praticantes. Então acho que isso criou uma história importante. Nós fizemos, fomos os caras que democratizamos a atividade na academia. Com o surgimento da Smart Fit, houve aumento do bem-estar e até da longevidade de uma população. Já imaginou você pensar dessa forma? Tem um fato bacana que meu sócio, do México, me disse: “mexicano pobre não treina.” Eu falei, como assim? Treina sim. O que vocês estão cobrando aqui, que são 300 dólares, não treina mesmo. Hoje, nós temos, no México, mais de um milhão de alunos. A cada 100 mexicanos, um é aluno nosso. A cada 100 habitantes da América Latina, um está na Smart. São cinco milhões de clientes.
Como vocês fazem pesquisa para continuar inovando?
Meu time todo roda muito, visita tudo, todos os concorrentes, todos os modelos, tudo o que está acontecendo no mundo a gente vai visitar, vai conhecer. Porque se alguém está vivo, se alguém está crescendo, tem algum aprendizado, esse cara é um vencedor. O mercado traz muita informação.
O que mudou depois que a empresa fez o IPO e entrou para a Bolsa de Valores? Aliás, por que fazer o IPO?
Olha, ficamos sem alternativas por conta da COVID. Um ano e meio fechados. Perdemos um bi no ano. Tivemos um 2019 fantástico, fizemos 190 lojas, íamos fazer 200 em 2020, e aí tem um aprendizado, você não pode errar o cenário. Daí houve uma capitalização. Nossos investidores toparam encarar, a empresa estava muito bem estruturada para crescer, daí o mercado abriu, aproveitamos para acelerar. E aí chegamos nessa posição de hoje.
E como que estão as ações hoje?
A bolsa não está fácil. Nós estamos bem perto do que deveria valer, já esteve melhor. Já esteve em R$ 26, hoje está em R$ 21, mas com juros estão altos, então dificulta.
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POR: Aroldo de Oliveira
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