Crise de oportunidades
Inflação elevada, demissões e juros altos são temas recorrentes nos dias de hoje. Mas, para alguns especialistas, o atual cenário econômico pode ser um bom momento para investir recursos financeiros e pessoais.
Um estudo interessante, realizado nos Estados Unidos pelo Banco Wells Fargo, mostrou que a geração Y (entre 18 e 31 anos) tem uma poupança, em média, 50% maior do que a que tinha a geração X na mesma idade. Isso é um ótimo sinal e é consequência de uma educação financeira mais bem aplicada. No Brasil, a realidade é outra e precisa ser melhorada, mas muita coisa vem mudando. “Para se ter uma ideia, de acordo com dados da DSOP Educação Financeira, mais de um milhão de pessoas já foram educadas financeiramente – por meio de cursos, workshops e programas em mais de 1500 escolas públicas e privadas de todo o país, o que nos dá uma ótima perspectiva para o futuro”, diz o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.
Autor do livro Mesada não é só dinheiro – Conheça os 8 tipos e construa um novo futuro (Editora DSOP), Reinaldo acredita que é importante as pessoas entenderem que a crise representa uma ótima oportunidade de mudar os hábitos, sabendo exatamente para onde vai cada centavo do dinheiro, e fazer cortes – investindo o dinheiro que será economizado. “Atualmente, um dos melhores investimentos é no Tesouro Direto, que está dando bons rendimentos. Se for algum sonho que possa ser realizado entre um e dez anos, considerado portanto de médio prazo, então, além do Tesouro Direto, há outras opções, como CDB e Fundo de Investimentos. Agora, se forem desejos acima de dez anos, ou seja, longo prazo, aí podemos pensar em Previdência Privada, Bolsa de Valores e alguns títulos do Tesouro Direto. Com ciência total das finanças e planejamento, é possível fazer bons investimentos, mesmo em período de crise”, diz.
Já para a jornalista e educadora financeira Nathalia Arcuri, apresentadora do quadro Muito com Pouco veiculado no portal R7.com e autora do blog Me Poupe (mepoupenaweb.com), o ideal são investimentos em renda fixa pós-fixados para o período de até dois anos, como LC (letras de câmbio), LCI, LCA e títulos indexados à inflação e à taxa Selic. “Eles têm tendência de alta e, com a crise, voltaram a ser muito atrativos, chegan-do a render próximo de 1% ao mês, descontados taxas e impostos”, diz.
Negócios à vista
Para Nathalia, a crise que estamos vivendo hoje é a maior e mais complicada dos últimos 15 anos. “Ondas de pessimismo e alta de preços já foram temas de discussão e de preocupação após o início da era Lula, mas não com essa gravidade e não diante de um cenário político tão conturbado. Digo isso porque é o conjunto de todos esses fatores que tem levado cada vez mais pessoas a reorganizarem as finanças pessoais diante da total incapacidade de arcar com o padrão de vida estabelecido nos anos das “vacas gordas”, período em que os juros estavam baixos, a inflação estava controlada e o câmbio favorável. Se eu pudesse escolher apenas um grande investimento, do ponto de vista do planejamento financeiro a longo prazo, sem dúvida escolheria o investimento em capacitação e autoconhecimento”, aconselha. Em relação às oportunidades de negócios, Nathalia aposta no mercado de serviços ligados ao bem-estar e qualidade de vida. “É uma tendência mundial, assim como o mercado de consumo de baixo custo, caso do e-commerce nas redes populares. Para os próximos dois anos, outro nicho de investimento para se pensar é o de imóveis. Apesar da inflação, o preço dos imóveis não acompanhou a mesma elevação e, devido ao estoque e ao receio de estagnação do setor, é possível encontrar boas oportunidades no mercado”.
A internet também é outro terreno fértil para novos negócios na opinião do economista Reinaldo. “Eu acredito que o mercado relacionado à internet é bastante promissor, pois estamos num caminho sem volta e cresce a inserção das pessoas nessa área. Outro mercado crescente é de treinamentos, consultorias e coaching, pois, com a crise, as pessoas buscam se aprimorar. E, por fim, o mercado de investimento, pois os juros altos e um longo período de baixa na Bolsa projetam crescimento no futuro”.
Dicas de ouro para aplicar nos investimentos profissionais e pessoais:
- Otimize seu próprio tempo
- Trace metas de curto, médio e longo prazo
- Faça o orçamento doméstico detalhado
- Priorize somente o essencial
- Aprenda a investir
Bê-á-bá financeiro
Taxado de indisciplinado economicamente, o brasileiro, como já mostrado, vem mudando sua forma de lidar com o dinheiro. “A educação financeira invadiu os telejornais, e saber controlar os próprios recursos virou sinônimo de “inteligência”. Hoje o “pão-duro” é visto como consumidor consciente. E esbanjar despesas desnecessárias é motivo de discriminação. Acredito que a crise tirou dos olhos do brasileiro a venda invisível do otimismo exagerado, do excesso de confiança e da falta de responsabilidade com esse recurso finito e indispensável que é o dinheiro”, explica Nathalia.
Pensando nisso, Nathalia criou o tema “5 maneiras de sair da crise melhor do que entrou”, com dicas infalíveis para empresários e profissionais. “Poupar dinheiro é importante, mas saber multiplicá-lo é o que vai fazer a diferença no futuro. Graças à crise, a renda fixa no Brasil tem alcançado patamares que há tempos os investidores não encontravam. A oferta de sites que oferecem informação de qualidade sobre educação financeira gratuitamente é imensa.”
Nesse sentido, o economista Reinaldo lançou o DSOP de Educação Financeira nas Escolas, programa que capacita professores, insere os pais na discussão do assunto e educa financeiramente crianças desde os três anos de idade até jovens do Ensino Médio. “É um programa completo que alcança um grande número de pessoas de uma só vez, focado nas crianças, que são o futuro da nação”, diz.