8 aprendizados que os empreendedores tiveram neste um ano de pandemia
A nova normalidade já vem sendo implantada na prática, a forma de trabalhar, fazer negócios, consumir e gerir a vida mudou de forma definitiva. Neste artigo, fundador da MR16 Consultoria, Marcelo Reis, separou alguns aprendizados, melhorias e também pontos de atenção que a pandemia trouxe para os profissionais. Confira:
1. Varejo: sobrevivência depende de transformação
Logo no início de 2020 o comércio sofreu o impacto inicial e começou a pedir ajuda ao governo, que também não estava preparado para fornecer este tipo de socorro ao empresário. As empresas, principalmente as pequenas e médias, que ficaram “sentadas esperando que tudo fosse passar em 3 ou 6 meses”, e não se transformaram, quebraram. Sem fôlego financeiro muita gente fechou e, quem sobreviveu, tocou os negócios baseado no delivery. O Calendário comercial ficou mais “lento”, não teve a aceleração típica das datas sazonais ao longo do ano e nem o esperado pico de consumo em dezembro. O sentimento que se estabeleceu é de 2021 quase como uma continuação de 2020.
2. Online não é diferencial, é parte essencial da operação de qualquer empresa
O online entrou de vez na estratégia das empresas, não adianta pensar nele como uma parte isolada. O digital precisa ser parte do planejamento principal. A unificação da qualidade e tipo de atendimento ao cliente independente do canal foi um importante aprendizado. Antes da pandemia, era comum o cliente ter um tipo de experiência na sua jornada de compra presencial muito diferente da ofertada pela mesma marca no canal online. Ou seja, dependendo da escolha do canal para compra, o cliente terminaria sem a mesma assistência, sem acesso à promoção ou sem a personalização do seu perfil de compra. Com clientes mais exigentes e conscientes de suas compras as marcas precisaram adequar e garantir a mesma qualidade em qualquer canal.
3. Logística como parte fundamental do sucesso nas vendas
As adaptações realizadas nos processos logísticos também acrescentaram qualidade na relação consumidor-marca. Podemos dizer que esta multicanalidade está funcionando bem no momento em que o cliente pede um produto pelo site e este pedido é encaminhado para a loja mais próxima da rede e em seguida, entregue. Não vai mais para um centro de distribuição localizado distante e que acrescenta tempo de espera. A relação entre grandes marcas e clientes era distante, cada um estava em uma ponta desta equação comercial, que era recheada de intermediários. Com o fechamento dos comerciantes que faziam esta ponte, as marcas entenderam que não tinham mais clientes pois na verdade eles eram dos lojistas e não das indústrias. Agora, o fornecedor vende direto para o consumidor final e se tornou também um concorrente do varejista, tornando ainda mais acirrado o mercado para o pequeno empresário.
4. O consumidor mudou e mais do que nunca valoriza experiência
A queda no consumo reflete também uma mudança de hábito da população que está menos consumista. Antes, as pessoas iam aos shoppings passear e sempre saiam com uma sacola, muitas vezes sem nem saber direito o que estavam comprando. Do ponto de vista econômico, mantinha a roda girando e gerava empregos. Ao mesmo tempo, a compra sem necessidade é contraproducente do ponto de vista ambiental, também com muita geração de lixo. Com esta mudança de comportamento, o desafio maior, fica na mão das categorias que sobreviviam massivamente das compras por impulso. Um bom exemplo são as papelarias e lojas de miudezas em que comprávamos algo no meio do caminho por lembrar que precisávamos, mas que não sairíamos de casa apenas em busca do item. Essas empresas precisarão encontrar novas formas de sobreviver. O consumo cada vez mais vai migrar para a experiência, para o viver e aproveitar efetivamente o momento. Atualmente isto está na contramão da queda no turismo internacional. Contudo, a tendência já se apresenta na busca de turismo pelos moradores em suas próprias cidades. Os residentes locais estão explorando mais os hotéis, parques e atrações turísticas de sua região. No futuro, esta tendência se expandirá para além das fronteiras, na retomada do turismo internacional.
5. Relação vida X trabalho – A vida desacelerou, a qualidade de vida virou foco e agenda cheia não é mais sinônimo de produtividade
Todos nós nos transformamos muito como profissionais e como empresa no último ano. Uma coisa que veio para ficar foi o home office, híbrido ou integral. A desconfiança que se tinha sobre este modelo de trabalho desapareceu à medida que se mostrou eficaz. Grandes empresas estão adotando o home office. Com o objetivo de ficar perto das suas famílias, muitas pessoas se mudaram para cidades do interior, muitas vezes longe das sedes das empresas. Quem fez este movimento, percebeu que poderia ter um custo mais baixo associado a uma melhor qualidade de vida, e não querem mais voltar ao modelo antigo. Vai ser um grande desafio para as empresas convencer os funcionários de voltarem ao modelo fixo no escritório. O modelo de home office ou trabalho de qualquer lugar é algo que veio para ficar. Vemos a desaceleração da vida. Qualquer um de nós, que faça uma reflexão dos dois últimos anos, pode perceber que tínhamos uma vida extremamente agitada. Saíamos antes das 07h da manhã de casa, passávamos o dia nos movimentando entre trabalho, reuniões, almoços e outras atividades. Em algumas funções profissionais, isso incluía deslocamentos constantes entre cidades, inclusive com aeroportos em alguns casos. O setor aéreo segue extremamente afetado, e as viagens de negócio praticamente desapareceram. A redução mais contundente foi nos voos internacionais, mas com um grande declínio nos nacionais também. As pessoas começam a criar novos hábitos e as empresas precisam se adaptar a esta mudança toda. A maioria das viagens executivas que aconteciam foram substituídas e temos sobrevivido com ferramentas digitais, de forma 100% remota. A necessidade de reunião presencial ficou provada em alguns casos, como conhecer clientes e fornecedores, para gerar uma conexão mais pessoal. Porém, o mesmo não aconteceu na esmagadora maioria dos encontros que demandavam esforço e dinheiro para se deslocar e reunir. A agenda e a vida estão mais balanceadas para família e trabalho, aprendemos e agora quereremos ter tempo para fazer nossas coisas pessoais. As pessoas se desapegaram do vício de ter a agenda tão cheia que não sobrasse nem tempo para parar e fazer uma refeição ou respirar.
6. Os riscos do comodismo em longo prazo
No outro prato da balança, está um efeito colateral: se acomodar. Agora, para sair de casa para cumprir alguma tarefa presencial as pessoas precisam de um empurrão a mais, mais incentivo do que era necessário antes para sair da inércia. As pessoas estão questionando de forma mais forte a necessidade de estar presencialmente nos lugares. A necessidade do movimento passou a ser muito mais questionada. A longo prazo, este padrão de comportamento pode levar à prostração e a ausência de movimento começar a causar problemas de saúde ligados ao sedentarismo. A preocupação com a saúde física, com a atividade consciente e com a saúde mental precisam estar constantemente sob nossos olhos.
7. Dependência de suprimentos estrangeiros fez indústrias repensarem as cadeias de suprimentos
Um aprendizado importante é que por mais que o conceito de globalização funcione, na hora de uma crise como é a pandemia, vale a defesa individual. Cada nação quis se proteger, cuidando de suas fronteiras, providenciando suas vacinas e adotando políticas protetivas. A dependência de fornecedores internacionais se mostrou um “calcanhar de Aquiles” para muitos países que dependiam exclusivamente de compras da China e ligou um alerta significativo sobre buscar sua autonomia, ou soluções alternativas, caso não tenha importação em algum momento no futuro. Ou seja, começamos a ver um patriotismo nas indústrias, visando garantir seus processos produtivos sem dependências extremas externas. Agora, as produções são pensadas com planos B, C e D para garantir que não pare.
8. Atenção ao planejamento
Vejo nas indústrias, especialmente as latinas, que sempre foram muito orientadas à ação, uma tomada de atenção para o planejamento estratégico com uma ênfase que não se via antes. A análise de cenários ganhou força e passou a ser mais valorizada. A tomada de decisões baseada em projeções embasadas em previsões realistas, torna os rumos da empresa mais assertivos. Se a emoção dominava antes da pandemia, foi o planejamento quem manteve as empresas vivas durante o período.