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Vinhos italianos enfrentam prova de fogo

Participamos de uma das maiores degustações de italianos do mundo, com destaque para os Chianti.

Por: Walter Tommasi

Todas as vezes que penso na minha bela Itália, logo me vem à mente a bucólica região da Toscana, com sua comida suculenta e seus maravilhosos tintos – e é lá que a Sangiovese reina sozinha, como a uva mais gastronômica do planeta. Claro que essa é apenas a opinião de um fã incondicional da variedade. Devo admitir que sou um jornalista de muita sorte, pois já faz nove anos que, todo fevereiro tenho a honra de representar o Brasil nos badalados Anteprimas Toscanos, um bem bolado conjunto de feiras de vinho que hoje congregam as mais importantes regiões produtoras toscanas, tendo como objetivo principal apresentar ao mercado suas mais recentes safras de vinho das principais DOs e DOCs. O programa normalmente inicia com um evento que reúne as pequenas origens, como Bolgheri, Morellino, Montecucco, Cortona, etc. No dia seguinte, o foco recai sobre as diversas áreas que compõem o Chianti – seguem-se a Vernaccia di San Gimigniano, o Chianti Classico, os Nobiles di Montepulciano e, finalmente, os Brunellos di Montalcino. Certamente uma semana intensa, cansativa, onde provamos uma média de 80 a 100 vinhos por dia – o que nos permitiu ter uma visão profunda do que podemos esperar das safras lançadas no ano. Para esta edição, decidi escrever sobre o Chianti Clássico que, junto aos Brunellos, são os vinhos que mais têm ganho mercado nos últimos anos. A região do Chianti Classico localiza-se entre as cidades de Firenze e Siena, ocupando 72 mil hectares, dos quais 10 mil plantados com uvas viníferas, sendo 7,2 mil de associados do Consórcio Vino Classico Del Chianti. A região é dividida em oito sub regiões, a saber: San Casciano in Val di Pensa, Tavarnelle Val di Pensa, Barberino Val di Pensa, Greve in Chianti, Radda in Chianti, Gaiole in Chianti, Castellina in Chianti e Castelnuovo Berardenga.

TIPOLOGIA E CARACTERÍSTICAS

O Consórcio estabelece a tipologia local, dividindo os vinhos dentro de uma pirâmide qualitativa, que contém: Gran Selezione – os melhores vinhos, elaborados com uvas de um único vinhedo dentro da região demarcada, que só podem ser colocados para comercialização após 30 meses de guarda, sendo pelo menos três em garrafas, álcool mínimo 13%.

Riserva – vinhos de alta qualidade, elaborados com uvas provenientes da região demarcada, podendo ser utilizada uma mescla de vinhedos. O vinho só pode ser colocado para comercialização após 24 meses de guarda, sendo pelo menos três meses em garrafa, álcool mínimo 12,5%.

Annata – vinho elaborado com uvas provenientes da região demarcada, podendo ser utilizada a mescla de vinhedos. O vinho só pode ser colo-cado para comercialização a partir de primeiro de outubro do ano posterior à colheita, álcool mínimo 12 %.

As três categorias devem conter pelo menos 80% da casta Sangiovese, chegando a até 100%. Em caso da utilização de outras variedades, estas devem ser tintas e plantadas dentro da mesma região.

CHIANTI CLASSICO COLLECTION

Durante o evento, ficou evidente a contagiante alegria dos membros do Consórcio com os resultados obtidos nesses últimos oito anos, que somaram incríveis 48,5% de aumento de vendas. Um dos motivos para esse “boom” é certamente a melhoria da qualidade obtida, não só pela modernização dos processos de vinificação, mas também pelo intenso trabalho do Consórcio junto a seus associados, com a adequação de melhores clones para as diversas sub-regiões, num trabalho iniciado no ano 2.000, e que hoje já alcança o total de 70% de vinhedos replantados. O evento de dois dias foi realizado na tradicional Stazione Leopolda, onde foram apresentadas as safras mais recentes de Chianti Classico: Annata 2015, Riserva 2014 e Gran Selezione 2013, para um total de 440 rótulos. Claro que essas safras são apenas uma referência estipulada pelo consórcio, pois cada produtor tem direito de colocar seus vinhos no mercado, quando achar que estes estejam prontos. Por exemplo: para o Chianti Classico Annata 2015, tivemos 76 exemplares, acompanhados de 88 da safra 2014, mais 27 de 2013, 11 de 2012 e dois de 2011.

AS SAFRAS

A safra de 2015 é caracterizada por clima quente, bastante adequado para o bom desenvolvimento dos vinhedos, com qualidade de frutos sem nenhuma falha, e que, mais do que em outros anos, reforçou as características aromáticas da Sangiovese, trazendo vinhos de boa qualidade e grande potencial de guarda. Já 2014 foi uma das safras mais problemáticas da história da região, marcada pelas mudanças bruscas de temperatura, que geraram vinhos bem diversos, refletindo o momento em que foi realizada a colheita. Alguns tânicos, com menor presença de álcool e aromas verdes, enquanto outros com frutas cozidas e maior presença de álcool. Finalmente, 2013, que teve um inicio chuvoso com baixas temperaturas, o que acabou atrasando o processo de floração, mas que, no restante do tempo, teve temperaturas adequadas – proporcionando vinhos mais elegantes, com álcool menos presente, mas perfeita harmonia com taninos e acidez, gerando grandes vinhos.

MEUS FAVORITOS

É claro que, com o gigantesco volume de vinhos disponibilizados (440), foi impossível provar todos, mas, dentre os 120 que degustei, gostaria de destacar meus cinco favoritos para cada uma das três denominações, bem como dicas das outras safras:

GRAN SELEZIONE
Safra 2013: Fonto di Vigna Del Sorbo, San Felice Poggio Cellole, Antinori Badia a Passignano, Castello di Fonterutoli e Castello Vicchiomaggio.
Dica de outras safras: Vignamaggio Riserva di Mona Lisa 2012 e Fèlsina Colonia 2011

RISERVA
Safra 2014: Monte Bernardi, Castellare di Castellina, Villa Calcinaia, Marchese di Antinori e Caparzino.
Dica de outras safras: Guidi 1929, San Giorgio allo Spadaio 2013, Renzo Marinai 2013, Bindi Sergardi Calidonia 2013, Brancaia 2013 e Casa Emma 2013

ANNATA
Safra 2015: Castellare, Castello di Ama, Castello di Fonterutoli, Monte Bernardi e Brancaia.
Dicas de outras safras: Fonto di Filetta di Lamole 2014, Quarciabella 2014, Bindi Sergardi La Ghirlanda 2014 e Agricoltori Del Chianti Geografico 2014.

Bem, agora só nos resta aguardar fevereiro de 2018, para participar de mais um evento e iniciar provando a promissora safra de 2016. Salute Galo Nero

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