Go Where – Lifestyle e Gastronomia

Renato Kherlakian

Se você tem mais de trinta anos, certamente usou, nas décadas de 80 e 90, uma calça jeans que tinha como símbolo um raio amarelo – símbolo da grife Zoomp. O responsável pelo sucesso da marca, Renato Kherlakian relembra aqui essa trajetória – contada no livro Uns jeans, uns não – e diz como vê o relançamento da grife, no ano que vem.

Por: Malu Bonetto

GW: Você tem uma ligação profunda com a moda. Podemos dizer que é influência da família?
RK: Esse amor vem da experiência adquirida com meu pai, que, em sua loja em São Paulo, vendia matérias-primas diversificadas, como casimiras e tecidos tropicais ingleses. Desde pequeno, tive roupas feitas sob medida por alfaiates e sei que isso foi um incentivo ao exercício do meu bom gosto. O encanto pelas matérias-primas e suas texturas, além dos caimentos, se alinhavam à estética e à beleza feminina com suas proporções e curvas sensuais. Sempre fui de arriscar muito, minha adolescência foi de muitas paixões e muitos riscos. Na verdade, comecei comprando denim diretamente no porto, nos navios, protegido pelos primos e irmãos mais velhos, pelo simples fato de querer minha primeira calça Lee. Ok, não exigia tanta coragem assim, mas era uma paixão muito forte. Não poderia supor que essa intuição prematura contribuiria para que eu criasse uma das principais marcas nacionais que impôs uma condição de qualidade ímpar no mercado.

renato2GW: Nas décadas de 80 e 90, o logotipo da marca se tornou símbolo de poder. Ao que atribui esse sucesso?
RK: Desde que a Zoomp foi criada, em 1974, foram formadas histórias de muita qualidade para um mercado que engatinhava junto aos mercados internacionais. E, em toda a sua trajetória, sempre demonstramos a intenção de nos tornarmos líderes de mercado, e essa obsessão fez com que juntássemos conteúdo suficiente e pudéssemos contar as realizações da empresa vividas no mercado ao longo dos 32 anos em que estive à frente da marca. Também não podemos esquecer que o branding da marca foi excelente numa época que pouco se sabia sobre desejo de marcas. “O bunda a bunda” fez com que o raiozinho da marca se tornasse ícone na moda brasileira.

GW: Onde se inspirava para criar as peças?
RK: A intuição sempre foi muito forte nos meus planos e projetos, mas a grande fonte de inspiração foram as mulheres de uma maneira geral.

GW: Depois de 32 anos à frente da marca, em 2006, a Zoomp foi vendida por motivo de falência. Como foi que deixaram a marca chegar a esse ponto?
RK: A Zoomp foi vendida com o objetivo de tornar possível a perpetuidade da marca, um programa para torná-la forte num mercado globalizado. A falência ocorreu após a minha gestão e, com certeza, um choque enorme para um desastre de administração e intenções duvidosas.

GW: Mesmo longe da Zoomp, você continuou se dedicando ao mundo da moda…
RK: Há noites em que dormimos bem e não deixamos de sonhar, mesmo no mundo atual. Então, vi a possibilidade de voltar ao mercado em 2008, quando estava tudo armado para meu tombo, e criei a RK Denim, baseada na característica principal de minha trajetória: a calça jeans. Fiz um trabalho muito além do premium, com uma qualidade inigualável de jeans nacional com cara de gringo. Conquistei muito mais o mercado externo do que o interno, proporcionalmente. Existiam poucos compradores e maisons aqui no Brasil e, na época, houve uma queda nos valores dos jeans internacionais e o meu não tinha como baixar. Então, vi que Alemanha, Argentina, Espanha, França e Rússia seriam melhores mercados, até porque o conceito do premium no Brasil também não foi levado a sério.

GW: O que acha da Zoomp ser relançada em 2017?
RK: O mercado sempre irá oferecer oportunidade ao bem intencionado, e voltar ao mercado visando uma nova linha de produtos é uma ótima ideia para a marca se consagrar, ainda nesta década.

GW: Você estará presente na empresa de alguma maneira?
RK: Creio que tenha criado uma marca gigante e que, depois de dez anos, ainda tenha alguma chance de bom retorno. Depende de quem estiver à frente na condução da marca.


GW:
A volta da marca foi um gancho para lançar o livro Uns jeans, uns não?

RK: O livro foi lançado após dez anos da venda da marca. No tempo certo para se dizer que eu soube, de fato, fazer o melhor jeans deste país.

GW: Por que acha que o jeans tornou-se item indispensável para qualquer pessoa?
RK: A sensualidade da mulher brasileira veste como uma luva a calça jeans. Nos 40 anos de história da peça no país, o consumo evoluiu com a sedução e o jeito do brasileiro ser criativo e criar objetos de desejo.

GW: Qual o segredo de um bom jeans?
RK: Não existe segredo e, sim, habilidade em selecionar as melhores matérias-primas e oferecer a melhor mão de obra para a construção de um jeans durável, que fique em seu closet por muito tempo.

GW: Como vê a mudança nos modelos da calça jeans ao longo desses anos?
RK: As modelagens acompanham as tendências, quer sejam as calças com as pernas retas, justas ou as pantalonas com cinturas mais altas. O importante é que o jeans ande em paralelo às novas silhuetas, fazendo com que a matéria-prima denim tenha a versatilidade e adaptação às novas proporções e silhuetas criadas constantemente.

GW: E o que difere o jeans masculino do feminino?
RK: Em uma determinada época, as calças eram essencialmente unissex, as proporções de calças para homens e mulheres se confundiam e fizeram dos anos 70 uma temporada brilhante para o blue jeans e uma afirmação forte do “paz e amor”. A valorização das curvas e dos traseiros femininos proporcionou à mulher uma gama bastante grande de modelagens que se adaptavam aos diferentes corpos. Também teve a introdução do elastano, a matéria-prima, que contribuiu muito para conforto ao vestir um par de jeans, satisfazendo as vaidades femininas e o critério masculino.

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