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O antes e o depois do Luxo no Brasil

Em entrevista a Go’Where Luxo, o principal consultor brasileiro do mercado de luxo, Carlos Ferreirinha, traça um panorama dos últimos 20 anos desse segmento no Brasil – os momentos decisivos, os setores que despontaram com força e ainda estão em crescimento, a invasão das grandes marcas internacionais e o perfil do público consumidor. Desde a nossa primeira edição, muita coisa mudou!

Por Lilian Anazetti Pimentel
Fotos: Daniel Cancino

Há vinte anos, quando a Go Where lançou sua edição de estreia, poucas marcas de luxo interna-cionais estavam no Brasil e só algumas nacionais despontavam com força. A revista vislumbrava um mercado ainda embrionário por aqui, mas mui-to promissor. O boom desse segmento aconteceu há uma década, mas somente nos últimos cinco anos alguns mercados, como o de spas e de avia-ção executiva, deram um salto impressionante. Para o especialista em luxo e presidente da MFC Consultoria, Carlos Ferreirinha, essas últimas duas décadas foram marcadas pela profissionali-zação da atividade. “Se analisarmos com apreço, o surgimento desses grandes grupos profissionais foi extraordinário, já que, até então, as atividades relacionadas ao luxo eram tidas como pequenas e fruto de indivíduos talentosos”, explica o empre-sário, que viveu na pele a experiência de trabalhar num desses grandes grupos ainda bem jovem. Ele comandou a Luis Vuitton no Brasil quando tinha apenas 30 anos de idade. Hoje, aos 46, tem sua própria empresa, que presta assessoria de luxo para marcas como GM, MAC, Swarovski e Tiffany.

No Brasil, esses grupos também geraram a possibilidade da chegada mais acelerada de marcas internacionais relevantes. “Alia-se a isso o fato de o brasileiro, até no ano passado – e vamos deixar este ano de lado porque está sendo um ano muito difícil – ser um dos cinco melhores consumidores de luxo no mundo, passando a ser importante não só aqui, mas também num cenário internacional”.

Como eram esses segmentos há 20 anos e como são agora

Hotéis de Luxo

Hotéis de luxo

Há 20 anos, nossa referência eram os hotéis de marcas internacionais e, aqui em São Paulo, eles praticamente não existiam. Tínhamos o L´Hotel, o Intercontinental e o Ca´d´Doro como ícones de uma hotelaria luxo. A mudança aconteceu com a chegada do Renaissance, que foi o primeiro hotel de luxo de São Paulo, e depois, bem mais recentemente, com o surgimento expressivo dos hotéis boutique – Fasano, Emiliano e Unique. Temos hoje no máximo 10, incluindo, além dos que eu já citei, Hyatt e Tivoli.

Shoppings

O único capaz de receber as marcas de luxo era o Iguatemi, e mesmo assim, há 20 anos, não havia nenhuma. A primeira operação foi a Louis Vuitton. Hoje, como shoppings de luxo, nós temos o Iguatemi, o JK e o Cidade Jardim. Os shoppings que se adequaram para receber marcas importantes são o Higienópolis e o Morumbi. Entenda-se por adequações todo um protocolo de espaço, design, decoração, mobiliário e arquitetura.

Spas de Luxo

São muito recentes. É um movimento dos últimos 10 anos e, mesmo assim, eu diria, dos últimos cinco anos, com a chegada principalmente do spa do Tivoli, o Banyan Tree, uma cadeia asiática considerada referência no mundo. Como referência de spa de luxo nacional, tínhamos, lá atrás, o Kyron, no Shopping Iguatemi. Hoje, devemos ter pouco mais de cinco spas de luxo na cidade.

Joalherias

A primeira joalheria internacional de luxo a ter uma operação no Brasil – tirando a brasileira H Stern, que completou 70 anos – foi a Cartier, que agora faz esse movimento mais uma vez, abrindo sua maior e mais importante loja no Shopping Iguatemi. Esse segmento talvez seja um dos que mais cresceram. Hoje, temos Tiffany & Co., Cartier, Piaget, Vacheron Constantin, cerca de 15 a 20 marcas. As brasileiras também são importantes, crescemos muito no item designers de joias – com nomes, hoje, muito bem posicionados.

Ruas/Regiões

Talvez a Rua Oscar Freire seja a única, mas eu diria que a região dos Jardins já perdeu toda a sua eloquência de luxo; é preciso uma profunda renovação. Existe um shopping que está em obras na Haddock Lobo tem a marca NK Store, referência máxima de multimarcas de luxo na região. E é isso, não há muito mais. É uma região hoje que, basicamente, tem prestígio, mas se tornou vitrine de marcas mais básicas e comuns. Se falamos de gastronomia, aí, sim, o Jardins tem força, assim como a região da Vila Olímpia, Itaim e Vila Nova Conceição, que têm excelentes casas. Mas, hoje, a gastronomia dos shoppings JK, Cidade Jardim e Iguatemi é superlativa.

Barcos/Helicópteros/Aviões executivos

Esse é um segmento que cresceu muito e de forma expressiva somente nos últimos anos. A maior parte das empresas náuticas não fabrica em São Paulo, mas no Sul do Brasil. Aqui, temos duas bastante expressivas e fortes nesse segmento, a Intermarine e a Ferreti. Acho que o principal destaque fica por conta dos helicópteros. São Paulo é a cidade com maior número de helicópteros do mundo; aqui é onde mais se comercializa também. A maior parte das vendas é feita através de representantes – não existem concessionárias, tudo é feito sob demanda. Trata-se de um volume de negócios que aumentou muito nos últimos anos, assim como no segmento da aviação executiva (ou aviões particulares).

Condomínios de luxo

Surgiram há pouco mais de 15 anos e hoje são muitos, principalmente na região do Real Parque, Morumbi e Jardins, sem contar os que estão fora da cidade, como é o caso do Quinta da Baronesa e da Fazenda Boa Vista.

Carlos Ferreirinha

O QUE É LUXO PRA VOCÊ?

Luxo é o nível máximo de excelência e extraordinário que uma marca pode alcançar com seus produtos e serviços. É o estado da arte do extraordinário. Sempre foi dessa forma e continua assim. Muitos comentários hoje dizem que luxo é ser simples. Não, luxo nunca será simples! A pessoa que se refere a ele dessa forma está usando o mesmo código da raridade, do difícil acesso, do exclusivo.

Crise

Essa crise, aliás, interfere um pouco na dinâmica da compra, mas não compromete o segmento, já que o cliente de luxo consome de forma emocional. “Ele decide comprar porque quer, ou porque vai ter uma festa, um evento; está sempre diante de um cenário de desejo, de vontade”, explica Ferreirinha. Segundo pesquisas, o mercado de luxo no Brasil ainda é pequeno, representa menos de 1% do mercado mundial. Mas a demanda é grande. A estimativa é de que as vendas no segmento tenham movimentado cerca de três bilhões de euros no ano passado. Mas o que esperar neste momento de crise e instabilidade econômica? “O mercado de luxo é uma atividade produtiva, mas todos estão sofrendo. Alguns menos e outros mais. Mas todos com incremento de custos básicos, desânimo no consumo, insegurança e impostos”, observa Ferreirinha. A boa notícia para quem trabalha na área é que, de forma geral, o brasileiro é muito entusiasmado no consumo. “O que difere o brasileiro consumidor de luxo dos demais é a sua impulsividade e a sua de-cisão de compra aumentada quando há um serviço associado. O brasileiro é serviçal, ele admira isso e demanda muito a prestação de serviços. Esse é um ponto que também acaba interferindo na decisão por comprar aqui em vez de no exterior, mesmo falando dos consumidores que viajam muito. Aqui, eles são tratados como reis!”.

Quando tudo começou

O mercado de luxo brasileiro começou a ganhar força há cerca de 14 anos, mas sua expansão mesmo se deu entre os últimos 10/8 anos. “A partir do momento em que os shoppings come-çaram a se adequar para receber as grandes grifes, tudo foi acontecendo. Entre eles, o Iguatemi e o Higienópolis e o recente Cidade Jardim. Há tam-bém que se considerar, evidentemente, as próprias marcas brasileiras de luxo, que não são muitas, mas também fizeram um exercício de adequação nesses anos”.

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