Go Where – Lifestyle e Gastronomia

Como nos velhos tempos

Sandro Barros, o estilista preferido da alta sociedade paulistana, e a empresária Renata Queiroz de Moraes inauguram ateliê de alta costura nos moldes das maisons francesas. Um dos grandes diferenciais do espaço é oferecer vestidos prontos, inclusive para noivas

Por Lilian Anazetti Fotos Wellington Nemeth

Enquanto o Brasil, mais especificamente São Paulo, vem se transformando no reduto das grifes internacionais, um cantinho da cidade revela-se acolhedor, muito chique e superexclusivo como as maisons francesas de alta costura. Afinal, quanto custa escolher um tecido, ter uma roupa desenhada por um dos maiores estilistas do País e a certeza de que ela será única? Para as clientes de Sandro Barros, não tem preço. “Ao mesmo tempo em que as grandes marcas mundiais despontam no Brasil e ganham público, o conceito da roupa exclusiva também está em alta. De forma geral, acho que o universo das coisas mais personalizadas está crescendo muito, inclusive em outros segmentos”, observa Sandro Barros. “Nossa cliente pode comprar um vestido Chanel, Dior, pode viajar e trazer de fora, mas, ainda assim, ela prefere vir fazer uma roupa sob medida. É a prova de que ela está cansada de ter uma roupa banalizada, de ver a amiga com a mesma saia”, completa. Sentada ao lado dele, no confortável sofá onde são feitos os atendimentos às noivas e clientes em geral, a bela Renata divide da mesma opinião. “Não é de hoje que as mulheres estão preferindo esse clima de ateliê”.

Desafios rumo ao sucesso

Foi pensando nisso que surgiu a ideia de montar a loja. Na verdade, a parceria entre eles vem de longa data. A empresária já era cliente e amiga de Sandro ainda quando ele trabalhava na Daslu. “Um dia nos encontramos numa festa e eu perguntei a ele quando íamos montar a nossa própria loja. Na hora ele respondeu: ‘Só estava esperando você me chamar’”, conta a empresária.

Pouco tempo depois, os dois já estavam procurando um ponto e pensando na decoração da casa. “Nosso maior desafio foi o tempo. Executamos tudo em três meses e inauguramos com o site no ar, as coleções prontas, a parte administrativa montada e flor no vaso.”, revela o estilista. E tanto trabalho valeu a pena. O sucesso do ateliê vem acontecendo além das expectativas: são cerca de 12 atendimentos por dia, com hora marcada, quando Sandro recebe pessoalmente as clientes. “Conseguimos montar um espaço onde tudo está à mão, todos os tecidos, as costureiras, as joias e até os sapatos. A vantagem é que a cliente consegue ver, tocar os modelos, muitos deles estão prontos nas araras, basta provar”.

Detalhes que fazem a diferença

Além da facilidade de poder comprar um vestido pronto, inclusive de noiva, o ateliê tem outros diferenciais de peso. E eles começam na porta de entrada, com manobrista à disposição da cliente. “Priorizamos um atendimento especial, com cafezinho, bolo, champanhe, um ambiente muito distinto, como se ela estivesse em casa”, explica Renata. “O processo de produção de um vestido de alta costura tem de ser muito prazeroso, porque são várias provas. Eu não quero estresse para estacionar o carro, por exemplo. Enfim, precisa ter um ‘plus’”, reforça Sandro. Outro detalhe relevante é que os sapatos, da grife Jimmy Choo, as joias, assinadas por Izabel Esteves, e uma linha especial de sandálias e bolsas de festa produzida pelo estilista também ficam ali, à disposição das noivas e clientes em geral.

Luxo francês em São Paulo

E como exclusividade combina com luxo, o projeto de Sig Bergamin lembra os salons das maisons francesas. Estão lá todos os códigos que fazem parte do universo da alta-costura: a escadaria de mármore sinuosa, os grandes espelhos, o lustre sobre a mesa da entrada, o mural de referências do estilista, a seção de adereços, joias e sapatos. No térreo, está localizado o ateliê das costureiras, bordadeiras, plumeiras, rendeiras, toda a equipe de execução. A sala das noivas fica no segundo andar, é todo acarpetada, muito aconchegante: sofás confortáveis, mesinhas decoradas com flores e uma parede com fotos inspiradoras de mulheres que marcaram época. “Muito da minha inspiração vem delas, mas a convivência com as clientes também me ajuda muito. Outra fonte de ideias vem da minha biblioteca maravilhosa. Adoro livros de fotografia, arte, decoração”. Renata participa com algumas sugestões e se diz apaixonada por livros de arte, mas os sócios têm funções bem distintas. “Eu cuido da parte administrativa e ele, da criação, do atendimento. Por isso está dando tão certo”. Para Sandro, é um casamento perfeito. “Todo estilista tem a sua musa inspiradora; no meu caso, ela está na mesa ao lado. Veja que privilégio!”, diz ele sorrindo, apontando para Renata.

Inverno retrô

Tanto carinho e admiração só poderiam mesmo resultar numa coleção inverno 2012 esplendorosa. “Me inspirei nos anos 20 e nos anos 50, bem feminina. Os vestidos são na altura do joelho ou mais curtos. As cores em alta são o dourado e o prateado. Uma coisa bem legal são os bordados art déco, que, além de lindos por si só, combinam com peles”. Essa é a principal linha Sandro Barros, chamada habillé, com cerca de 120 vestidos prontos de alta-costura, nenhum repetido. No sob medida, os vestidos costumam demorar dois meses para ficar prontos. Para noivas, o prazo é maior, cerca de seis meses. “Para as que não podem esperar tanto tempo, temos uma arara repleta de modelos exclusivíssimos, todos prontos. Basta um ajuste ou outro”, diz o estilista. A marca também oferece a linha Blue Label, uma pequena coleção de roupas de festa, com grade de cinco peças por modelo, como pantalonas, camisas de renda, blusas e vestidos curtos bordados. São ideais para ocasiões menos formais e possuem preço acessível. “Eu gosto do que é feminino. Para mim, a modernidade ao extremo caminha junto com o esquisito. E o esquisito, na maioria das vezes, é feio. Sou um clássico contemporâneo, gosto de enfeites, de uma roupa que deixa a mulher mais bonita”.

Faro apurado

É essa convicção no belo que faz as clientes depositarem no estilista a certeza de que ele vai conseguir criar a roupa dos sonhos. “Acho que faço o papel do advogado do diabo, mostrando o que vai dar certo e o que não vai. Uma vez chegou uma noiva aqui com a ideia de que queria casar com um vestido evazê, bem rodado, inteiro de renda, sem bordado e o cabelo meio rabo. Ela casou de sereia, inteira bordada e de coque. Enfim, minha função é provar o que é melhor para ela. Às vezes, a diferença na altura do corte da roupa muda tudo”. Renata é testemunha desse bom senso apurado do estilista. “O que eu acho que o Sandro tem de maravilhoso é que ele sabe ouvir o que a gente quer; ele consegue mostrar que aquele sonho absurdo do vestido vermelho tomate não vai ficar bem naquela situação”. Essa experiência toda ele adquiriu aos poucos. O começo de tudo foi quando chegou a São Paulo, vindo de Itapetininga, para fazer faculdade de moda, aos 18 anos. Estagiou com Jorge Kauffman, foi assistente de estilo e, em seguida, de produção de moda no Phytoervas Fashion. Nesse percurso, trabalhou para revistas como Vogue Brasil, Elle e Revista da Folha, atuou nas semanas de moda de São Paulo, Rio, Fortaleza e Salvador e assinou o estilo de desfiles de Lino Villaventura, Samuel Cirnansk, Paul & Shark e da Daslu, que durante quatro anos foi sua principal cliente. Em 2002, recebeu um convite para trabalhar na Daslu Couture. No setor de habillés da loja, ampliou as linhas de vestidos sob medida, acessórios e joias. “Temos de estar atentos a tudo que acontece no mundo da moda, em termos de tecidos, novos acabamentos, modelagens, mas é o convívio com a cliente e com o gosto dela que faz o meu diferencial”. Sobre tendências, Sandro diz não acreditar muito. “Acho que o que existe é uma vontade coletiva. Alguma coisa na sociedade faz com que as pessoas tenham a mesma inspiração. No caso das noivas, existe hoje uma grande vontade da volta da religiosidade, elas querem ficar mais cobertas e não tão sexy”.

O que as noivas querem

Mas o que está na moda mesmo, segundo o estilista, é casar na igreja, fazer festa, comemorar. “O que as noivas mais me pedem atualmente é que elas querem casar com tudo o que têm direito: véu, cauda, rendas e bordados. O estilo clean, camisola, está em baixa”, observa o estilista. Aproveitando o ensejo, Go Where quis saber quais os materiais que mais traduzem sofisticação numa roupa. “Os forros de seda pura são chiquérrimos e o toque na pele é único. Todas as variantes da seda, rendas e tules, como o italiano ilusione – que parece um bordado na própria pele – são também muito sofisticados”. Outro detalhe é a manufatura. “Flores salpicadas, bordadas na organza, por exemplo, são muito chiques, além de todos os demais cuidados, que são detalhes na verdade, e que, quanto mais trabalhados e benfeitos, mais transformam a roupa numa peça especial”.

Leia essa e outras matérias na Go’Where n° 93

 

Sair da versão mobile