Go Where – Lifestyle e Gastronomia

A moda (re) descobriu o crochê

Pelas mãos da estilista Vanessa Montoro, o crochê e o tricô ganharam um ar fashion, se tornaram um item de sucesso nas passarelas e sinônimo de bom gosto e sofisticação entre as mulheres mais antenadas com a moda. Para saber mais sobre os encantos dessa arte milenar artesanal e as novas possibilidades de criação para um estilo até então, predominantemente romântico, Go’Where conversou com a estilista em seu ateliê

Por Lilian Anazetti Fotos Wellington Nemeth

De mansinho, quando menos se esperava, o crochê e o tricô ganharam as ruas das grandes metrópoles em looks urbanos atuais e originais. A estilista brasileira Vanessa Montoro foi uma das responsáveis por essa revolução. Desde que fundou a marca homônima, há oito anos, ela sempre criou suas peças associadas a um estilo romântico e bucólico, a tardes no campo e mocinhas de época. Com o passar do tempo e a própria evolução do trabalho, as coleções ganharam novos ares por meio de cores mais ousadas, como o azul-marinho e o caramelo, e a mistura com outros materiais que deixaram as peças muito mais modernas. O crochê agora divide espaço com a pele de coelho, por exemplo, bordada em barras de vestidos curtos ou longos. Couro, camurça e chamois também formam composições bonitas de se ver e descontraídas de se usar. “Para o verão, minhas apostas estão exatamente nessas misturas, incluindo aí o crepe georgette.

Assim, o crochê se renova”, diz a estilista. As formas das peças também foram modernizadas. Saias e vestidos longos ficaram mais sequinhos, enquanto os vestidos curtos perderam babados e centímetros. Mas num rápido olhar pelas peças expostas no ateliê, em armários e cômodas das décadas de 50, o romantismo não foi deixado de lado. “Eu produzo duas coleções por ano, verão e inverno, mas tenho aqui muitas peças clássicas, que nunca saem de moda. O que vai dar o tom da roupa, nesses casos, são os sapatos. Dá para usar o mesmo vestido com salto alto ou rasteirinha? Claro que sim, vai depender da ocasião”.

Se os crochês são tão versáteis, são também atemporais. Outra vantagem que, segundo Vanessa, agrega valor às peças. “Eu não sigo tendências. Claro, estou antenada às novidades, mas não me prendo a elas. Aliás, sobre isso, tenho uma visão um pouco diferente da maioria dos estilistas. Sou uma pessoa clássica, me incomoda a velocidade com que a moda vem mudando ultimamente. Ando na contramão da fast-fashion”, observa.

Na contramão mesmo!

De rápido e fugaz os crochês – e tricôs – não têm nada. Um vestido longo demora cerca 45 dias para ficar pronto, já os curtos, praticamente um mês. As peças são feitas uma a uma, por crocheteiras garimpadas com muito cuidado pela estilista. “Depois que eu desenho, passo para elas e acompanho todas as etapas de produção. É uma mão de obra difícil de encontrar, muito específica, ainda mais porque eu só trabalho com tecido 100% seda”. É claro que isso se reflete nos preços – um vestido curto não sai por menos de três mil.

Esse é mais um diferencial das peças desenvolvidas por Vanessa. A seda permite um caimento perfeito às peças, não marca e não faz volume. O luxo está aí, no material utilizado, na forma delicada como ele é produzido, totalmente feito a mão, na pouca quantidade de peças produzidas por coleção – apenas entre 20 e 25 – e no tingimento natural – que pode ser feito com erva-mate, urucum, pó de café, folhas de amoreira ou até casca de cebola. “Acho que nunca vivemos um momento onde as coisas artesanais tivessem tanto valor. O feito a mão hoje tem caráter de exclusivo, é um luxo para poucos”.

A inspiração para criar as blusas, casacos, vestidos, pelerines e tantas coisas mais surge de repente, de uma imagem de revista, uma paisagem, um lugar exótico, uma viagem, mas a consciência prática para transformar a ideia em algo palpável vem de uma experiência vivida desde a infância por Vanessa. “Eu sempre gostei das coisas feitas a mão. Os trabalhos em crochês e tricôs, mais especificamente, me encantavam quando minha avó fazia. Daí veio a vontade de um dia trabalhar com eles”.

A exclusividade das peças é um reflexo da exclusividade do atendimento. Vanessa atende em seu ateliê nos Jardins somente com hora marcada. Suas peças podem ser encontradas na Daslu e na NK Store. Lojas no Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre também comercializam os crochês da estilista, assim como alguns pontos de venda no exterior, como na Alemanha. “O que mais me encanta nesse estilo de roupa é o conceito único. Em meio à parafernália da industrialização e da massificação da moda, esse processo rústico e artesanal se torna sofisticado por si só”.

 

Leia essa e outras matérias na Go’Where n° 94.

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