Go Where – Lifestyle e Gastronomia

Um brasileiro na alta roda

Em NY há seis anos, este stylist carioca ajuda a vestir tops e celebridades e produz editoriais de moda para algumas das mais sofisticadas revistas do mundo
Por Daniela Domingues

Algumas famosos pra quem faz styling:
Amanda Setton (foto acima), Liev Scheiber (marido de Naomi Watts), Isabeli Fontana, Carolina Kurkova, Letícia Birkheuer, Alessandra Ambrósio, Ana Beatriz Barros, Raquel Zimmermann e Isabella Fiorentino. Giselle (a cima) é amigona.
Formação:
na infância, estudou no Colégio Hélène Boucher, em Paris, e concluiu seus estudos no Rio. Formou-se em Desenho de Moda pela Faculdade Cândido Mendes e estudou design no Institute Berçot.
O que faz:
consultor de moda (stylist) e personal stylist, apresenta um quadro de moda toda quinta-feira no Programa da Márcia, na Band – o “Pode, Não Pode”.
Principais trabalhos no Brasil:
stylist de diversas revistas e de campanhas e desfiles de algumas das proncipais grifes do País. Atuou como stylist em filmes publicitários do Banco Itaú, Coca Cola, Dumond, Bamerindus, entre outros.
Trajetória internacional:
foi a NY assinar o desfile de Carlos Miele na semana da moda e ficou por lá, produzindo trabalhos para Avon Internacional, Bloomigdales e Blue Flay e assinando desfiles na semana de moda para grifes como Catherine Malandrino e Joanna Mastroianni. Há dois anos fechou com a chiquérrima Warren Tricomi e desde então vem realizando trabalhos para as mais glamourosas revistas do mundo –como Harper’s Bazaar, Gothan, Vogue, Metropolitan.

Quando percebeu que o seu negócio era a moda?
Eu tinha oito anos de idade, morava em Paris. Minha mãe me levou ao Louvre e eu fiquei encantado com os figurinos dos personagens do século 18, especialmente o da Maria Antonieta. Depois disso, comecei a desenhar: ia para o museu e desenhava os modelos. No colégio levava muita advertência porque, em vez de prestar atenção nas aulas de matemática, ficava desenhando. Minha mãe me matriculou na aula de piano e no meu caderninho, em vez de escrever as partituras, ficava fazendo bonequinhas.

O que você tem para ter caído nas graças de tantas celebridades?
Eu sou muito trabalhador, não espero as coisas caírem do céu, vou atrás dos meus sonhos. Meu sonho era trabalhar em revistas internacionais e ver o meu nome assinado nelas. Fui fazer um trabalho com Carlos Miele em NY, um agente viu o meu book e me convidou para trabalhar lá. Tinha um apartamento aqui em São Paulo. Fechei tudo e comecei do zero. Fiz trabalhos que nem imaginava(campanhas de lingerie para gordinhas) que tivesse que fazer, porque precisava pagar as minhas contas. Adoro fazer network, sou muito sociável. Em NY tive a oportunidade de conhecer muita gente. É uma carreira onde se tem de socializar. Descobri um nicho com o qual me identifico, gosto muito do luxo. Percebi também que tinha de me vestir adequadamente para esse mercado. Investi em roupas, ternos, me repaginei. Além de tudo, é preciso ter amor pelo que se faz, e eu amo o que faço. Se eu tiver que acordar às cinco horas da manhã para trabalhar, acordo feliz, não reclamo. E se eu fizer um trabalho para a Harper’s Bazaar ou para o Bom Retiro, sou 100%. Além de tudo, estudo muito, pesquiso. Estou sempre na internet pra saber o que há de novo, um acessório diferente. Viajo para Paris e Milão para assistir aos desfiles. Não paro nunca, posso falar que sou um workaholic.

O que te inspira?
O meu estilo: Yves Saint Laurent. Amo a pessoa dele, pela integridade, estilo, genialidade e elegância; e o Tom Ford. Esses dois homens realmente me inspiram. Já no meu trabalho a arte está muito presente. Antes de montar um editorial vou a museus. Frequento bastante o MoMA e o Metropolitan.
Os brasileiros consomem moda?
Ainda não. Quando estou em Nova York ou Paris e sento em algum lugar para tomar champagne, vinho ou água com gás, fico olhando como as pessoas se vestem. Nessas cidades elas não têm medo de ousar. Mas a moda lá de fora é pra mulher alta e magra. Se o brasileiro começasse a olhar para o próprio país, criaria moda. Copiamos muito. A história da ombreira, por exemplo, ainda é novidade aqui, mas rola há muito tempo com Balmain. Não gosto de copiar, sou criativo. Ponho a minha cabeça pra pensar. Que me copiem! No Brasil tem muita cópia, vão às vitrines de NY, fotografam tudo e depois copiam. Mas temos pessoas boas por aqui. Pedro Lourenço está fazendo um trabalho excelente, que pode crescer fora.O Hertcovitch também.
Elegância, como diz o ditado, vem de berço. E o estilo?
Acho que você adquire com o passar da vida. Depende do dia a dia de cada um e da idade. Por exemplo, nem todo mundo vai ter uma mãe com o estilo da Madonna. A minha, por exemplo, é antropóloga e socióloga, nada fashionista. Estilo, ao longo da vida, vai sendo aprimorado e vamos descobrindo o que fica melhor.

Pra ter estilo, precisa ter dinheiro?
Não, não acredito que precisa de dinheiro. Tenho muitas amigas que não têm dinheiro mas que conseguem se vestir com estilo comprando roupas em lojas como a TopShop, Zara. Não uso grife da cabeça aos pés. Gosto de misturar. Se você não tem dinheiro para comprar um terno da Prada, acaba encontrando na Zara um modelo um pouco parecido.

O brasileiro tem estilo?
A brasileira tem um tipo marcante, bonita, cabelo bonito, pele bonita. Ela se destaca no mundo afora. É uma mulher bonita, bem cuidada, corpo bonito. Mas para ter estilo, acho que vai demorar um pouquinho pra conseguirmos. É um país quente. Além do mais, todos estão de olho na moda lá de fora.

Qual é a roupa da brasileira?
As pessoas também não têm acesso à moda por aqui, é tudo muito caro.
Como você mantém relacionamento com os famosos no exterior?
Fui muito pra Los Angeles e lá acabei conhecendo muita gente. O grande lance é você não fazer paparazzi, não ser deslumbrado. Eles gostam muito de privacidade. Eu não posso tirar fotos deles e mandar pra ninguém. Discrição é a alma do negócio.O Brasil estar na moda vai durar?
Eu estava em uma mesa no baile do Metropolitan com Kate Hudson, Jude Law, Sienna Miller, Anne Hathaway, todos falando sobre o Brasil – querem vir pra cá conhecer. Na Rodeo Drive só dá brasileiro comprando. Hoje, estar numa loja comprando é sinônimo de ser brasileiro.Você afirmou que quer ser embaixador da moda brasileira no exterior. Como?
Sempre peço roupas de amigos meus brasileiros para fazer revistas europeias e americanas. Apresento os profissionais. Acho que essa é melhor maneira de alguém que se pretende embaixador da moda divulgar os nossos estilistas. Ajudei a divulgar nomes como Alexandre Birman, Jack Vartanian e Carla Amorim. Como agora estou fotografando muito pra Harper’s Bazaar, fiz um preview do verão de 2011 com vários designeres brasileiros, como Lenny Niemeyer, Fernando Pires com seus saltos estratosféricos, Oscar Metsavaht. É muito gratificante mostrar a moda do Brasil para o mundo.

Você trabalhou no SPFW e produziu desfiles no Fashion Week/NY? Diferenças?
Lá a coisa é organizada, não tem atraso. E só participam pessoas que realmente interessam, editores de moda, clientes em potencial e celebridades. Aqui é um samba do crioulo doido. Os desfiles aqui têm megaprodução, aqui é show. Lá é a roupa que interessa. A tendência internacional é menos show. Faça um balanço do último SPFW. Falando de tendências, verão sugere feminilidade e vi muita saia curta e tecidos tecnológicos. As cores vão do amarelo brincando com coral, azul e lilás. O carro-chefe desta estação são os tons de terra, nude, passando para o oliva militar. Acredito muito nos tons neutros para compor um excelente guarda roupa de verão. Gostei muito do vestido neoprene bem sequinho e curtinho que a marca neon mostrou. Sexy e chic!! A camisaria do Reinaldo Lourenço é de qualquer mulher. E o couro recortado a laser em tom lilás que a Animale mostrou em um supermini desfliado por Raquel Zimmermann estava demais!!

E trabalhar na TV. Que tal?
Eu descobri a nova paixão da minha vida, achei que fosse uma brincadeira da Márcia na ocasião em que nos encontramos na Ilha de Caras e ela me fez o convite. Gravei um, dois programas, e foi muito engraçado, nunca tinha ido para frente das câmeras. Perguntei ao Rodrigo Branco, diretor do programa, se deveria fazer alguma aula de voz ou algo do tipo. Ele disse que não, queria que o quadro fosse apresentado com naturalidade. Uma vez sugeri uma pauta para fazer a cobertura do Fashion Week de Nova York e tive a oportunidade de, como repórter, cobrir alguns desfiles, entre eles o da Calvin Klein. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida! Só tinha a equipe do Entertainment e eu. Gravei também no baile do Metropolitan Museum of Art, conversei com Jessica Alba, Carolina Herrera Jr., Kate Hudson. Foi um momento mágico da minha vida. Não vou com uma pauta pronta, a gente nunca sabe o que vai rolar, é sempre uma adrenalina muito grande. É uma paixão que eu descobri e quero investir nisso, talvez num programa de moda que tenha matérias pelo mundo todo, e de um jeito bem relax.
Como é falar de moda com classes de menor poder aquisitivo?
Eu procuro ter uma linguagem um pouco mais acessível para o público que assiste ao programa. Quando falo de uma marca, falo também da sua história, da cultura da moda. Por exemplo, se apresento um look que tem algo da Chanel, explico quem foi a Coco, qual a sua proposta.  Assim ninguém fica voando. Estou adorando falar com as classes mais baixas.
Planos futuros?
Seguir carreira na TV. Talvez licenciar produtos. Como tenho muita dificuldade de comprar roupa por aqui, sou pequeno demais e adoro diversidade, adoro gravata borboleta, mas não acho. Se vou no Ricardo Almeida, é tudo cinza, preto e azul. Pra comprar roupas do dia a dia, aqui está ok, mas não como me visto. Por isso, penso em ter uma marca masculina ou me associar a uma marca.

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