Go Where – Lifestyle e Gastronomia

O mundo de Pedro & Florinda

120 cidades, 37 países, 12 meses. O casal Florinda Saade e Pedro Wickbold resolveu deixar para trás as carreiras de marketing e de importação, respectivamente, para partir numa viagem ao redor do mundo. O resultado dessa aventura é uma exposição de fotos que ficou em cartaz na La Lampe, em São Paulo, e que o casal pretende levar pelo Brasil. Os desafios e os aprendizados da dupla durante essa jornada foram contados por Pedro, em entrevista exclusiva para Go’Where Luxo.

Por: Cibele Carbone

mundo1GW: Por que decidiram largar tudo e partir para essa viagem de volta ao mundo?
PW: Eu tinha uma importadora de relógios e acabei vendendo a empresa no final de 2014. Fiquei um tempo pensando se empreenderia novamente ou se voltaria ao mercado de trabalho e, como num estalo, na melhor reverência ao ócio criativo, a ideia de viajar pelo mundo me surgiu no banho. Sentei para tomar café da manhã e sugeri à Florinda que tivéssemos essa experiência, assim sem mais nem menos. Ela quase caiu para trás!

GW: A viagem foi para ter uma espécie de ano sabático?
PW: Não chamamos especificamente de ano sabático, mas a viagem – que começou em Dubai – foi para encontrar mais sentido nessa rotina louca que as grandes cidades proporcionam. A semana começava e, em um piscar de olhos, já era sexta-feira. Vivíamos em função do final de semana, tudo passava muito rápido.

GW: Não tiveram medo de largar tudo e partir nessa aventura?
PW: Sempre há um receio, mas a expectativa e a curiosidade falaram mais alto desde o início. Antes de pensar no que estávamos deixando para trás, queríamos descobrir o que o mundo iria nos mostrar. Costumamos dizer que “largar tudo” é um termo usado mais para endeusar os que fizeram ou desencorajar os que querem fazer, do que, de fato, uma realidade. Voltamos após um ano e tudo estava bem parecido.

GW: Quanto tempo precisaram para se organizar antes de partir?
PW: Esse já foi o nosso primeiro aprendizado, mesmo antes de ir. Éramos aquele casal que nunca ia atrás das coisas em uma viagem entre amigos. Se estivéssemos de acordo com os preços, fechávamos. Agora não, tínhamos o desafio de planejar, organizar e fazer acontecer uma experiência somente nossa. Fechamos roteiro, vistos, programas, tudo por conta própria.

GW: E como decidiram o roteiro de viagem?
PW: Decidimos grande parte antes de embarcarmos, principalmente nos continentes asiático e africano, sobre o qual tínhamos menos informações. Na Europa e na Oceania, o roteiro foi em aberto e também foi interessante, já que pudemos ficar mais tempo em cidades que nos encantavam. Em Byron Bay, na Austrália, por exemplo, tínhamos a expectativa de ficar três dias e ficamos sete. É um lugar apaixonante.

GW: Como foi o dia da partida? Muita ansiedade?
PW: O dia não passava… Já estava tudo pronto e a hora de ir para o aeroporto não chegava de jeito nenhum. Depois que entramos no avião, nos olhamos e rimos. Éramos nós dois e o mundo.

GW: Vocês visitaram 37 países e 120 cidades. Quais lugares que mais surpreenderam vocês?
PW: Essa, sem dúvida, é a pergunta mais difícil… Foram tantos lugares e cada um com um magia diferente, que fica impossível definir um só. O mais impactante foi a Etiópia. Foram treze dias de norte a sul num país extremamente fechado e democraticamente instável, com experiências completamente únicas. Dormimos em cima de um vulcão em atividade na fronteira com a Eritreia, escoltados pelo exército da ONU e pela polícia local – o lugar foi alvo de ataques do país vizinho em 2012, quando quatro cientistas foram mortos. Dormimos também a céu aberto na depressão de Danakil, a 160 metros abaixo do nível do mar. O lugar repleto de casas abertas feitas de madeira fica no meio do deserto, e o povo Afar, que vive na região, sobrevive da extração de sal, transportado por camelos até cidades que ficam a três dias de viagem. Nesse lugar, conhecemos crianças e famílias inteiras sem nenhuma estrutura médica e escolar, sob calor de 50 ºC durante todo o ano. Um lugar totalmente diferente e com um povo amável e atencioso que não deixou nos faltar nada, mesmo quando nada tinham. Lindo. Ao sul, visitamos as tribos do vale do Omo, pessoas que vivem com tradições milenares e extremamente peculiares. Os Mursi, por exemplo, colocam pratos na boca e nas orelhas, praticam a poligamia e crianças defendem a tribo de possíveis invasores com armas AK47.

GW: E teve algum outro que marcou a viagem?
PW: Em vinte dias viajando pela costa leste e pelas duas principais cidades, a Austrália nos encantou e, com certeza, seria o país escolhido para morar. Um povo simpático, praias lindas, comida saudável, um monte de gente fazendo esporte, contato com a natureza o tempo todo, segurança e transporte atendendo a população em todos os cantos. Por último, o lugar mais surpreendente, foi a Islândia. Quando se pensa no país, parece que é muito distante, mas fica apenas a duas horas de Londres. Alugamos um motor home, que fez da viagem algo mais especial ainda. Durante nove dias rodamos o país inteiro e parecia que estávamos em um videogame, passando por diversas fases. Era sol, chuva, geleira, praia com areia preta, vegetação totalmente inóspita, cachoeiras, gêiseres, cavalos maravilhosos, ovelhas, vulcões, enfim, paisagens de tirar o fôlego a cada segundo. Se a felicidade é a trajetória e não o destino, a Islândia é felicidade pura, lá se dirige para não chegar.

GW: E as diferenças culturais, como lidaram com elas? Chegaram a passar por alguma “saia-justa”?
PW: No Marrocos filmamos uma greve de trabalhadores no centro de Marrakesh, e um dos organizadores saiu correndo atrás da gente para apagarmos o conteúdo, nos xingando de tudo quanto é coisa. Ao mesmo tempo, estávamos por lá no início do Ramadã, período sagrado no islamismo, e descobrimos uma parte muito bonita da religião. Encontramos o guru do filme Comer, Rezar e Amar em Bali, e a experiência também foi engraçada. Ele já estava com muita idade e, em vez de prever o futuro, só pedia beijos na boca para a Florinda. Na Tanzânia, nos tiraram de dentro do avião porque os cachorros cheiraram alguma coisa na nossa mala, que havia ficado alguns dias no hotel sem cadeado, já que os voos para o safári só permitiam malas muito pequenas. Achei que haviam colocado algo e que seríamos presos. Na Índia fomos atacados por crianças com bexigas de água nos dias que anteciparam o festival Holi: é uma tradição no país celebrar a chegada da primavera com a festa das cores, jogando água uns nos outros. Desinformados, ficamos ensopados daquela água duvidosa, muito distantes do hotel. Tem muita história para contar…

GW: Qual a lição que vocês tiraram dessa grande jornada?
PW: Sem dúvida, essa foi a melhor experiência de nossas vidas. Aprendemos sobre culturas totalmente diferentes, religiões que se completam na busca por um propósito, como viver de forma mais simples, como ser abertos para o mundo, para as pessoas. Aprendemos que 90% do mundo é composto por gente boa e que, no fundo, todo mundo só quer ser feliz. As diferentes maneiras de chegar lá é que geram conflitos, principalmente pela ausência de comunicação.

GW: Encarariam mais um ano viajando pelos lugares que ainda não visitaram no mundo?
PW: Queremos rodar a exposição das fotos da viagem em escolas públicas e mostrar para a criançada um pouco do que aprendemos por aí e também estamos à procura de uma editora para publicar o livro com todas as histórias e aprendizados dessa experiência. A ideia é, no ano que vem, fazer uma trilha de longa distância, talvez na costa Oeste dos Estados Unidos ou em Santiago de Compostela. Viajar é transformador!

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