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Será que a frase é mesmo do autor que você imagina?

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Para que a sua mensagem, tanto na comunicação escrita quanto na comunicação oral, tenha ainda mais credibilidade, você pode lançar mão de citações de pessoas que tenham reconhecida autoridade no assunto. É fácil deduzir que, se a frase de alguém respeitado naquela matéria corresponde à sua forma de pensar, há boas chances de que você seja ainda mais convincente.

Para garantir um bom resultado, o ideal seria ler a obra toda do autor e extrair a frase literal do seu livro. Só assim poderíamos ter segurança de que a citação foi plenamente idealizada por ele. Entretanto, por mais criterioso que você seja, não será possível sempre recorrer a essa estratégia, pois seria impraticável ler todas as obras de todos os autores. Por isso, de vez em quando, você irá lançar mão de uma boa frase acreditando que seja mesmo de determinado autor.

Aí é que mora o perigo. Algumas frases ditas famosas são creditadas a pessoas que nunca as pronunciaram nem as escreve-ram. O objetivo de quem muda a autoria é o de dar à frase ainda mais credibilidade. Outras são atribuídas a diversos autores, principalmente na comunicação oral, quando o orador se esquece de quem é o autor, ou se confunde ao falar de improviso.

Se afirmarmos que a frase é de um ou ou-tro autor, e os ouvintes ou leitores tiverem informação distinta, podemos enfraquecer nossa credibilidade. No caso de dúvida, uma boa saída é dizer que a frase é atribuída a determinado autor. O fato de dizermos que é “atribuída” deixa uma porta aberta para não nos comprometermos.

Eu me lembro de quando escrevi o livro Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas. No início de cada capítulo, incluí uma frase que fosse uma espécie de essência do conteúdo que seria abordado a seguir. Fiz uma pesquisa profunda e abrangente para que cada citação se encaixasse perfeitamente no capítulo do livro.

Um deles trata sobre o comportamento nas mudanças. Não tive dúvida em pôr ali uma frase do Darwin, por se tratar de uma das mais citadas em todo o mundo: “Não é o mais forte que sobrevive, mas que mais se adapta às mudanças”. Perfeita.  Mas em determinado momento pensei: como posso ter certeza de que é mesmo de Darwin?

Resolvi pesquisar. Para minha surpresa, outro pensador surgiu como sendo o autor da frase, Leon G. Megginson. Embora eu ainda não tenha certeza, tudo indica que a frase não é mesmo de Darwin. Outra frase cantada em verso e prosa é de Abraham Lin-coln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos por todo o tempo”. Parece que essa também tem outra paternidade.

Algumas frases são repetidas com muita frequência. São verdadeiras pérolas. Tiradas tão geniais que acabam sendo creditadas a diferentes autores. Por isso, em muitos casos, não dá para cravar sua origem. Nesse caso, é necessário dizer pelo menos, até em tom de brincadeira, que não são de nossa autoria. Duas delas estão relacionadas ao medo de falar em público. A primeira afirma: “O cérebro humano é algo maravilhoso. Começa a funcionar no instante em que nascemos – e só para na hora em que precisamos falar em público”. A segunda diz: “Quando vou para frente da plateia fazer um discurso, só Deus sabe o que vou falar. Quando começo a falar, nem Deus sabe mais”.  Já vi essas frases creditadas pelo menos a três ou quatro autores diferentes. E por aí vai. Como os casos clássicos de Galileu Galilei, que nunca teria dito no tribunal da inquisição “E pur si muove” (e no entanto ela se move). E o texto “Instantes”, colado nas paredes de inúmeras casas comerciais no Brasil e no mundo, atribuído inde-vidamente a Jorge Luis Borges. Só para lembrar do comecinho:

Se eu pudesse novamente viver a minha vida, Na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, Relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.

Nessa linha de atribuições nem a Bíblia escapou. Há pouco tempo o Vaticano divulgou uma Bíblia de 1700 anos. Pois bem, segundo especialistas que pesquisaram a relíquia não há ali men-ção à famosa frase “Atire a primeira pedra quem não tiver pecado”. Especialmente numa época em que conseguimos qualquer informação com um simples clique no computador, precisamos redobrar nossa atenção. Às vezes, encontramos um dado, mas tomamos o cuidado de checar em outras fontes. E caímos numa armadilha, pois uma foi copiada da outra e todas estão viciadas.

O uso das frases e das citações é, portanto, um excelente recurso de comunicação. Ajuda a esclarecer a mensagem, dá credibili-dade, torna a comunicação mais arejada e atraente. Devemos, entretanto, tomar alguns cuidados para evitarmos equívocos que podem ser comprometedores.


 

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, professor de oratória nos cursos de pós-graduação da ECA-USP, palestrante e escritor. Publicou 25 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos em todo o mundo. Para saber como participar de seus cursos abertos ou individuais entre no site www.polito.com.br

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