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Maioridade Escocesa

A idade é quase sempre um fator determinante para a qualidade de um bom scotch – assim como o terroir e os barris de carvalho para seu armazenamento. Com ou sem gelo, descubra o diferencial de alguns scotches 18 anos.

Por: Shirley Legnani 

O uísque é o melhor amigo do homem: é o cachorro engarrafado”, já dizia o poeta Vinicius de Moraes, amante de um bom scotch. Seja socialmente ou por verdadeira paixão pela bebida, quem bebe whisky (palavra derivada do celta “uisgebeatha”, que significa “água da vida”) sabe que a idade é um fator importante para a qualidade do produto. Mas não é determinante. A região de produção, as propriedades da água, o sabor da turfa (material usado na queima da cevada) e a qualidade da água (algumas destilarias armazenam os barris à beira-mar para fixar o aroma e sabor da maresia) são elementos cruciais para o resultado final. Isso tanto para o whisky como para um scotch (quando é produzido na Escócia). “Beber um scotch de 18 anos requer calma, tempo para poder apreciar a bebida e identificar todas as suas características. Não é algo para se beber com pressa – pelo menos não uma bebida de 18 anos”, diz Derivan de Souza, mestre barman que fez escola. Hoje no comando do bar Numero, Derivan recebeu GoWhere Gastronomia para uma degustação de quatro marcas de scotch 18 anos – Chivas Regal, Glenfi ddich, Johnny Walker Platinum Label e o Buchanan’s. Degustação feita às cegas, mas sem o intuito de eleger a melhor marca, até porque isso não existe. “Cada bebida tem suas peculiaridades e características, e vai do gosto de cada um. O que me agrada pode não agradar a outro”, diz Cesar Adames, professor de Bebidas no Senac e de Destilados no WSET (Wine Spirits Education Trust), que, ao lado de Derivan e de Maurício Leme, brand manager da importadora Aurora (que não representa nenhuma das marcas degustadas) comandaram o divertido encontro.

Água e cereais

Historiadores afirmam que o whisky, assim como algumas bebidas destiladas, surgiu nos monastérios da Idade Média, sob a autoria de um frei chamado John. Ele teria produzido a bebida para curar alguns doentes sob sua responsabilidade, por isso o termo “água da vida”. Esse fato teria sido registrado em 8 de agosto de 1494. O whisky, para ser considerado whisky, precisa ter envelhecido pelo menos três anos em barris de carvalho com capacidade máxima de 700 litros e ter gradação alcoólica entre 40% e 95,8% no ato da destilação – tendo em sua composição cevada maltada, cevada não maltada e água.

Mesmo que outros países tenham alguma tradição no whisky, a Escócia é, sem dúvida, o que vive mais intensamente a bebida. O clima, relevo, solos e fontes de água perfeitas fazem o país ser o principal produtor mundial e exportador da bebida. Suas principais regiões produtoras são Lowlands, Cam-pbeltown, Islay, Highlands e Speyside. Mesmo fazendo parte do mesmo país, cada uma delas produz scotches de características peculiares e diferentes. Em Lowlands, por exemplo, com suas terras baixas e planas, ao sul da Escócia, é onde se produzem os single malts mais leves e suaves. Já em Campbeltown, cidade localizada na costa oeste escocesa, próxima das ilhas de Jura e de Islay, por estarem próximas do mar, as turfas dessa região recebem muita influência do fenol e iodo provenientes das brisas marinhas, originando uma bebida ligeiramente enfumaçada, forte e encorpada.

Os scotches das terras altas de Highlands, cheias de montanhas e florestas, são os mais reverenciados em todo o mundo. Muitas destilarias exibem em seus rótulos a classificação “Highland Malt Whisky”. Isso serve para reforçar a excelência de um produto fabricado na região. “Os scotches variam dos mais enfumaçados, salgados e marinhos, vindos das destilarias da costa oeste escocesa próximas ao mar, aos mais frutados e adocicados, das destilarias mais próximas a Speyside”, explica Derivan.

Com ou sem gelo?

Para iniciar a degustação, Cesar sugeriu “limpar, neutralizar” a boca com um whisky standard. “Dessa forma, temos um ponto de partida para iniciarmos as comparações”, diz. Para eles, o scotch de 18 anos deve ser saboreado com algumas gotas de água, para ajudar a liberar os aromas e características da bebida e um bom scotch logo soltará seus aromas. Quanto mais tempo de envelhecimento, mais saborosa e encorpada fica a bebida. “Prefira colocar uma gota de água em vez de gelo. Caso use gelo, que seja de água de boa fonte e de boa forma, nada de gelo de posto de gasolina. Pondere no uso do gelo, afinal uma bebida com 18 anos não é qualquer bebida”, diz Maurício. Opinião enfatizada por Cesar: “Beba como quiser e acompanhando o que quiser – uma combinação com charutos, por exemplo. O importante é não deixar de beber whisky, pois há uma cadeia mercadológica com muitos profissionais envolvidos e esse mercado não pode parar. Beba, sim, mas com moderação e conhecimento”.


BUCHANAN’S

Teor alcóolico: 40%
Buchanan’s foi criado há mais de um século por James Buchanan.Em 1879, vivendo em Londres, ele começou a buscar uma mistura que tivesse qualidade e sabor. Em 1884, ele tinha criado um blend que ia ao encontro de seu desejo e, como garantia da excepcional qualidade desse produto, colocou seu próprio nome nele. Os maltes e grãos de whisky utilizados na fabricação de Buchanan’s Special Reserve descansam por, no mínimo, 18 anos. Características: os maltes e grãos utilizados em sua fabricação, descansam em barris de carvalho por, no mínimo, 18 anos. Dalwhinnie é o principal single malte usado em sua composição.

“Tem um leve amargor no gosto, nota de salina e defumado, inconfundível”.


GLENFIDDICH

Teor alcoólico: 40%
Fundada em 1887, a Glenfiddich se tornou um ícone graças ao empreendedorismo de William Grant. Após trabalhar por 20 anos na destilaria Mortlach, e juntar centavo por centavo, William Grant foi capaz de erguer a Glenfiddich em apenas um ano, com a ajuda de seus sete filhos e duas filhas. Uma linda história de dedicação e paixão por whisky que foi coroada com o que é hoje a maior destilaria de whisky Single Malt do mundo. Características: aparência âmbar escuro, no olfato floral e rico em aromas, com paladar complexo e encorpado.

“Rico aroma delicado de maçã, madeira, laranja, mel e chocolate. Vai bem com charuto”


CHIVAS REGAL 

Teor alcoólico: 40%.
Tudo começou com o fazendeiro Robert Chivas, pai de 12 filhos, entre eles James e John, que caminharam 20 milhas para tentar a sorte na cidade portuária de Aberdeen, na Escócia. Edward começou a trabalhar numa loja de comidas e bebidas. Com a morte de Edward, em 1801, James Chivas assumiu os negócios junto com o sócio Charles Stewart, e ambos criaram a Stewart & Chivas. Chivas é um dos scotches mais vendidos no mundo, com mais de 2,5 milhões de garrafas comercializadas todos os anos. Características: macio, complexo e com final longo, tem aroma de frutas secas, amêndoas, caramelo e chocolate escuro.

“Sabor intenso que permanece na boca, uma suavidade com potencial”. 


JOHNNIE WALKER PLATINUM LABEL

Teor alcoólico: 40%
John, mais conhecido como Johnnie, era filho do fazendeiro Alexander Walker, que morreu em 1819. O rapaz, então com 14 anos, foi considerado muito novo para continuar tocando a fazenda da família. Com a
venda da fazenda, John abriu uma pequena mercearia em 1820 no oeste da Escócia. O estabelecimento comercializava chás, bebidas e comidas importadas. Nessa época, a maioria dos negociantes estocava maltes únicos, nunca consistentes. John começou então a misturá-los de modo a que seu uísque tivesse sempre o mesmo sabor, criando assim sua destilaria. Características: de cor âmbar profundo. Aroma rico e refinado, com toque de frutas frescas e elegantes notas defumadas. Paladar de um blend complexo com sabores ricos de frutas, cereais e amêndoa.

“Tradicional, tem uma pontinha tostada e persistência curta na boca”. 


Numero
Rua da Consolação, 3585 – Jardim Paulista. Tel.: (11) 3061 3995

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