Go Where – Lifestyle e Gastronomia

Um Espetáculo!!!

Os musicais invadem a cena paulistana, com tudo a que têm direito. Milhões investidos, néons nas fachadas, bilheterias esgotadas com semanas de antecedência, aplausos em cena aberta. Enfim, chegamos à era da Broadway – com 60 anos de atraso, mas recuperando o tempo perdido em grande estilo. Aprendemos a fazer musicais como os americanos. Conheça aqui os bastidores de dois campeões deste novo tempo do teatro brasileiro.
Por Celso Arnaldo e Lílian Anazetti
Fotos Sidney Tuma
Coordenação Sidney Osiro

A GAIOLA DAS LOUCAS: DUELO DE GIGANTES

Diogo chega cedo, duas, três horas antes do espetáculo. A caracterização como Zazá, a “esposa” de Georges, é demorada – tanto do ponto de vista físico como interior. Já Falabella é mais prét-à-porter no trato de seu personagem – uma síntese de tudo quanto já fez na TV e no teatro, com a diferença de que canta e dança o tempo todo. Afinal, A Gaiola das Loucas é um musical. Chega quase em cima da hora – e já preparadíssimo. Apenas passa o som, limpa a garganta. Sabe que a sintonia com Diogo, em cena, será perfeita, como sempre – ela nasceu do trabalho da dupla em Toma lá, Dá cá. Amigos há 30 anos, astros da mesma geração, ambos recém-entrados na casa dos 50, nunca tinham dividido o palco. Durante as gravações da TV, fizeram planos para preencher a lacuna. E não poderia ter sido melhor. Antes sucesso no Rio, A Gaiola está bombando em São Paulo – Broadway perde. Empolgadíssimo com o sucesso da montagem paulistana, Falabella tira o celular do bolso, abre o arquivo e mostra um vídeo do momento em que, cerradas as cortinas, o elenco volta para o ritual de agradecimento.

Georges e Zazá perfeitos, aplaudidos em cena aberta pela plateia que lota o Teatro Bradesco para ver A Gaiola das Loucas

Quando ele e Diogo enfim retornam ao palco, o público está de pé, urrando. “Olha que eu já fiz muito sucesso por aí. Mas nada como isso”. Falabella descreve a sensação de encerrar o espetáculo, quatro noites por semana, com casa lotada e apoteose: “Plenitude. Parece que tomei ácido. Estou nas nuvens”. Já Diogo, menos festivo que o amigo Miguel, confessa uma sensação de alívio. Porque o musical, pelo menos do porte de uma montagem como A Gaiola, com mais de 30 artistas em cena, orquestra com 15 músicos, dezenas de técnicos, e num teatro esplendoroso como o Bradesco do Shopping Bourbon Pompeia, não admite surpresas. “Entro em cena para o que der e vier. Mas a atenção tem de ser redobrada nos mínimos detalhes. É quase uma UTI de preocupações”. Daí o alívio, no final, com a alta.

Diogo no camarim, incorporando a Zazá de A Gaiola das Loucas – a inalação “molha” a voz. Falabella, passando o som antes da cena

MUSICAL BRASIL

E o alívio é dividido por todos os espectadores que nunca tinham assistido a um musical desse porte no Brasil: já dominamos o gênero, com louvor. Até há uns 15 anos, era coisa de americano, de gente que sabe interpretar, dançar e cantar, ao mesmo tempo e com a mesma qualidade. Mas, emulados por veteranos como Diogo Vilela e Miguel Falabella, que se atiraram de cabeça a esse desafio, jovens talentos capazes de atuar nas três frentes estão comparecendo em massa às audições para a montagem do elenco de musicais. Ao final do processo de seleção, sobram vários “reservas” à altura dos titulares. “Quando fiz O Beijo da Mulher Aranha, nos anos 80, eu já previ que um dia dominaríamos o gênero. É o que está se vendo hoje”. Depois do sucesso de Os Produtores, a escolha de A Gaiola parecia natural. O texto do francês Jean Poiret já tinha tido uma lendária montagem brasileira nos anos 70, com Jorge Dória e Carvalhinho, virou filme com Ugo Tognazzi e foi levado à Broadway em 1983, já como musical. Por que revivê-lo? “É uma peça difícil, que exige dois atores – não pode ser feita por cantores”. Pronto, nascia a dupla imbatível – atores que desenvolveram seu lado musical graças a muito treino e disciplina. Diogo faz até inalação no camarim para não ressecar as cordas vocais. Consagrado o gênero, é evidente que nenhum dos dois pretende ficar emendando um musical no outro. Mesmo com casa cheíssima, um espetáculo desses não se paga, não fossem os incentivos fiscais. Depois do grande espetáculo, o “concerto de câmara”.
De seus quatro textos já prontos, Diogo pretende levar ao palco uma biografia de Ari Barroso – não é difícil imaginar um Ari redivivo, no corpo de Vilela, que há pouco reviveu Cauby. Já Falabella, que também escreve a próxima novela das 7, Um mundo melhor/A comédia da intolerância, sonha com um revival do grande teatro de revista, com o palco cheio de vedetes. Comprou os direitos de Memórias de um Gigolô, de Marcos Rey, e já viaja no tempo: “São Paulo nos anos 30, aquela loucura toda, aquelas putas lindas…”
Só de ouvi-lo imaginar a cena, já nos transportamos ao palco para outro grande espetáculo.

“Entro em cena para o que der e vier. Mas a atenção tem de ser redobrada nos mínimos detalhes. É quase uma UTI de preocupações”. Daí o alívio, no final, com a alta. Diogo Vilela

“Quando fiz O Beijo da Mulher Aranha, nos anos 80, eu já previ que um dia dominaríamos o gênero. É o que está se vendo hoje” Falabella

Sair da versão mobile