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São Paulo: Capital Matarazzo

Uma família italiana ocupa um lugar mitológico na origem de São Paulo como uma das maiores metrópoles do mundo.

Por: Celso Arnaldo Araujo

Os Matarazzo fincaram pé na cidade em 1881 – quando o patriarca Francesco chegou ao Brasil. Ele começou como um simples mascate, dono de uma loja de secos e molhados em Sorocaba – e se tornaria o maior empreendedor brasileiro do século 20. A partir de um negócio inicial com banha de porco, montou um império – que chegou a ter mais de 300 empresas. Os produtos das Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo (IRFM) se tornaram praticamente onipresentes no dia a dia dos brasileiros. O ramo brasileiro dos Matarazzo teve papel preponderante na construção da megalópole paulistana – na arquitetura, na cultura, na sociedade. Sobrinho-bisneto de Francesco, Andrea Matarazzo simboliza bem esse eclético empreendedorismo. Atualmente vereador e candidato a vice-prefeito de São Paulo nas eleições municipais de outubro, ele já foi coordenador das subprefeituras – uma espécie de xerife da cidade –, secretário da Cultura e, em nível nacional e internacional, secretário da Comunicação Social de Fernando Henrique e embaixador do Brasil em Roma. A íntima e profícua relação entre São Paulo e os Matarazzo é um dos intercâmbios mais produtivos da relação entre Brasil e Itália.

O que é ser um Matarazzo hoje? “Tenho muito orgulho de meu nome e devo isso ao trabalho de pioneirismo e empreendedorismo de meus antepassados, que se esforçaram para chegar onde estamos até hoje. Se o sobrenome se tornou mitológico é pela contribuição que a família deu à sociedade paulistana na industrialização e na geração de empregos, assim como na cultura. Foi Ciccillo Matarazzo Sobrinho quem ajudou a dar a São Paulo o Museu de Arte Moderna, o Museu de Arte Contemporânea, a Fundação Bienal, a Companhia Vera Cruz de Cinema, o Teatro Brasileiro de Comédia. E criou o Parque Ibirapuera na condição de presidente da Comissão do Quarto Centenário da cidade.”

Andrea vai além. As marcas dos Matarazzo e, em seguida, de outros imigrantes italianos estão indelevelmente impressas em São Paulo e em outras regiões do país. O atual fluxo de turistas italianos para o Brasil é pequeno, provavelmente menor do que em sentido contrário. E os visitantes, ao chegar, não esperam muito mais do que samba e futebol. Aqui, surpreendem-se com a herança deixada por seus antepassados. O maior produtor de laranjas do mundo é daqui – e tem sobrenome italiano: Cutrale. Os Maggi são os maiores cultiva-dores de soja do planeta. No açúcar, brilham os Ometto. Também é notável a presença italiana em diversos ícones arquitetônicos da cidade – a começar pelo próprio Edifício Matarazzo, numa das pontas do Viaduto do Chá. Projetado pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini, a mando do empresário Francisco Matarazzo Júnior, abrigou por anos a sede das IRFM. Depois se tornaria sede do Banespa e, desde 2004, abriga o gabinete do prefeito de São Paulo. Piacentini também é o autor do projeto original do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo.

Andrea prossegue. O escultor Galileo Ugo Emendabili desenhou outro símbolo da cidade – o Obelisco do Parque do Ibirapuera. O Theatro Municipal tem os traços dos italianos Cláudio e Domiziano Rossi, que formaram um belo trio com Ramos de Azevedo. O prédio do MASP, maior vão-livre do país? Autoria de Lina Bo Bardi. O primeiro e maior arranha-céu da cidade durante 13 anos tem o sobrenome de seu arrojado idealizador: Giuseppe Martinelli.

Matarazzo resume: “São Paulo é como é porque os imigrantes não vieram para cá em busca de mais qualidade de vida – mas em busca de uma vida.”

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