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O show de Augusto Nunes

Paulista de Taquaritinga, ele é um dos monstros sagrados, ainda em plena atividade, do jornalismo brasileiro – com um currículo impressionante: dirigiu a redação dos jornais Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Zero Hora (Porto Alegre), das revistas Veja, Época e Forbes e conquistou nada menos que quatro Prêmios Esso, o Oscar do jornalismo no País. Hoje âncora do programa Roda Viva, na TV Cultura, e titular de uma coluna política com milhares de acessos em Veja.com, Augusto Nunes agora brilha em outro cenário – o Morning Show, atração das 10 horas da manhã da rádio Jovem Pan, onde desde dezembro seus abalizados comentários fazem contraponto à vibe quase pop do programa comandado por Edgar Piccoli. Tem sido um sucesso. E com Augusto, o Morning fica ainda mais aceso.

Por: Celso Arnaldo Araujo 

GW: Já fez rádio antes?
AN: Fiz incidentalmente, no Rio Grande do Sul, quando eu trabalhava no Grupo RBS e participava com comentários dos programas da Rádio Gaúcha – começando com um bem cedo, de um minuto, após o qual voltava a dormir, pois eu ficava o dia inteiro no Zero Hora. Mas fiquei apaixonado pelo alcance do rádio, sobretudo no Rio Grande do Sul. Dois senadores gaúchos, Lavoisier Martins e Ana Amélia, vêm do rádio. Fiz esses comentários durante alguns meses – e fiquei impressionado com a repercussão. Gosto do rádio sobretudo porque sou filho do rádio, da geração do rádio. Sou pré-televisão. Acompanhei a Copa de 58 pelo rádio. Eu tinha 8 ou 9 anos, morava em Taquaritinga e resolvei tomar sorvete um pouco antes do começo da final com a Suécia – a família toda em casa, reunida em torno do rádio. Não havia ninguém na rua. E descobri no primeiro grito de gol que a cidade inteira estava com o rádio ligado e de janela aberta. A sorveteria ficava a sete quadras de casa. Na ida e na volta, fui ouvindo o jogo inteiro pelo rádio. Impressionante a força do rádio. Meu pai, que foi prefeito de Taquaritinga e não tinha uma formação intelectual refinada, foi um dos maiores oradores que conheci. Não lia jornais, só ouvia rádio – sobretudo discursos de Getúlio, Lacerda, etc. O rádio é parte de minha vida. Sempre fui fascinado pelo rádio.

GW: Você é do tempo em que as pessoas iam ao estádio de futebol com o rádio no ouvido…
AN: Sempre. A TV chegou a Taquaritinga em 1962. Eu tinha 13 anos. Minha formação é o rádio.

GW: Mas as pessoas hoje não andam com um rádio no bolso – só o do celular. De que forma, o rádio ainda mobiliza tantas pessoas?
AN: Aqui em São Paulo, por causa do trânsito terrível – que mudou hábitos e costumes da cidade e resgatou o poder mobilizador do rádio, com o paulistano redescobrindo o jornalismo radiofônico. Já no Sul, não há craques locais na TV – o William Bonner e o William Waack, da Globo Rio, por exemplo, são as estrelas. Já o rádio tem uma envergadura local. Ainda é mágico.

GW: Como tem sido a repercussão de sua participação no Morning Show nesses primeiros meses?
AN: Impressionante. Estava fazendo um trabalho semanal em Cuiabá. No aeroporto eu era frequentemente reconhecido como “o cara do Roda Viva” e “do site da Veja”. Agora, é “te ouvi no Morning Show”. O alcance da Jovem Pan é tremendo – ainda mais agora que o rádio está se transformando numa mini-estação de TV. A Jovem Pan tende a ser uma rádio-TV. E beneficiada pelo fato de ser a primeira emissora a perceber que São Paulo é um reduto político de oposição ao PT. Esses comentaristas “de oposição” éramos e somos amaldiçoados pela mídia petista, composta pelos sites sujos – que, no fundo, não têm a menor importância. E os paulistas, que nunca elegeram um governador do PT, não tinham uma rádio que os ouvisse ou falasse em nome deles Estabeleceu-se uma empatia e agora a Jovem Pan pode se manifestar em qualquer direção porque entrou por uma linha gauche – quem faz oposição com todos os trunfos para fazer um jornalismo independente.

GW: Você se sente parte da “direita esclarecida”?
AN: Me sinto absolutamente livre para dizer o que eu quiser. Sou um democrata radical. Acho ridículo o fanatismo e nunca me incomodei com quem pensa diferente de mim. Fanatismo é com o PT. Minha oposição ao governo do PT é mais moral do que política. A Dilma não merece meu respeito intelectual – é uma despreparada. E o Lula é uma besta. Nunca foi à escola, nunca teve uma aula de geografia. Não aprendeu se o Brasil faz ou não fronteira com a Bolívia. Não entende nada de História e diz que quer pacificar o Oriente Médio. Quero que todos os corruptos vão para a cadeia. E não tenho nada a ver com o PSDB. Eu bati mais no PT porque estava no poder e roubou como ninguém. Nunca votei no Temer – era vice do PT, que o reelegeu. Gosto de sua equipe econômica. Se Temer morresse ou fosse preso e houvesse outra eleição, nem o PT mudaria essa equipe. É boa e tem um projeto.

GW: A possibilidade de Lula e Bolsonaro disputarem o segundo turno das eleições de 2018 o assusta?
AN: Acho que não há a menor possibilidade. Bolsonaro é muito tosco e o Lula tem tanta chance de ser presidente de novo como o Frei Beto de ser papa. O que está para vir na Lava-Jato é devastador.

GW: O Morning Show é um programa de entretenimento, feito por e talvez para pessoas bem mais jovens do que você. Como se sente nesse ambiente?
AN: Muito bem, pelo seguinte: nunca saí do ambiente de redação – e sempre com gente bem mais nova, o que me faz bem, porque gosto de saber o que está acontecendo. Eu tenho todo o direito de envelhecer com minhas preferências, mas tenho o dever de conhecer tudo. Sempre procurei ser contemporâneo de minha época. Nunca entrei naquela do “no meu tempo”. Recebo as novidades como quem recebe a chegada das estações. E gosto de quase tudo. Fundei um bloco de Carnaval em Taquaritinga em 2010 chamado Jardineira da Tarde. Faço uma coluna na internet há nove anos. O mercado nunca foi tão bom para quem sabe resumir a situação em frases. E isso eu sei fazer. E falando a verdade: ladrão é ladrão. Imbecil é imbecil.

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